Não se iludam os incautos eleitores desta urbe turística com os primeiros minutos ouvidos esta semana da propaganda eleitoral gratuita.

Ali, parece estarmos mergulhados em um mundo de paz e respeito, epítetos de um marco civilizatório buscado por tantos na política brasileira.

Para aqueles que preferem a incivilidade, no entanto, então recomendamos os bastidores. Ali a situação está monstruosa. Ali a falta de caráter, de moral e ética são a tônica das coisas.

Bom, já falamos aqui na semana passada sobre como funciona este espaço tão importante, às vezes fundamental em uma campanha política. Dele saem as boas coisas, dele saem as perversidades.

Não é muito chato quando você se depara com situações em que um candidato menospreza o outro por este não ter dinheiro para a “corrida final”, como chamam?

E quando na caradura dizem ao interlocutor que, no final, este ou aquele candidato “vai comprar os votos” do outro que está bem melhor que ele na preferência do eleitor?

Não é muita falta de caráter sair por aí desinformando o eleitor sobre o candidato concorrente, dizendo coisas como “ele desistiu da campanha” e pedindo a ele o voto que era do outro -que não desistiu, na verdade?

Não é antiético dizer que o oponente não vai chegar até o fim com fôlego e disposição, porque “quando os cavalos top de linha” começarem a correr, os demais vão ficar para trás?

(Por “top de linha” entendam: ricos, cacifados, dispostos a comprar de Antonio a Zeferino).

Não é de dar engulhos quando se sabe que determinados candidatos estão sentados sobre sacos de dinheiro esperando o momento de sair por aí praticando “bondades” pessoais -eis que o eleitor também não é flor que se cheire?

Mas, entendemos que vergonha maior cabe àquele que chega ao poder à base de milhares ou milhões de reais.

Porque cada voto recebido não se pode contar como adesão voluntária do cidadão às propostas, ao programa e ao trabalho pregresso daquele político.

Para este eleitor, tanto faz, como tanto fez. Seu voto teve preço, não valor. Já que foi comprado como uma mercadoria barata de banca de beira de estrada. E não raro ajudou a eleger um vereador ou prefeito tão vadio e desavergonhado quanto ele.

Mas, ambos sabem disso. E pouco importam os outros desconfiarem, olharem torto. Aqueles que ainda acreditam que um governo se firma na honradez, no brio e no reconhecimento pelos trabalhos prestados. Pouco importam.

Como falar em “trabalhos prestados” se o cabra sai por aí comprando a tudo e a todos para se garantir na cadeira? Se compra votos, é porque teme a justiça popular. E ela, quando não corrompida, é a pior (ou a melhor?) de todas as justiças.

Estamos num período de profunda carência popular, momentos difíceis provocados pela pandemia. Os políticos abonados e de má índole esfregam as mãos de contentamento. É a seara perfeita onde decerto irão plantar suas sementes de mau caratismo.

Cabe ao eleitor fazer o julgamento de ações pregressas, falas, atitudes, decisões, comportamentos e assim decidir seu voto. Não cabe medir o candidato pelo que ele tem e consequentemente, pelo que se pode “tirar” dele.

Porque depois, o que se verá são políticos inescrupulosos, senhores de si, que entendem terem quatro anos para fazer e desfazer de seu cargo, desdenhar o público, se alimentar e alimentar aos seus próximos da res publica.

Enfim, só o povo, por sua vontade e decisão, pode mudar ou moldar o caráter do seu representante. Porque grande parte dos representantes não tem caráter nenhum.

Não se deixe iludir, pois, nobre eleitor, com a docilidade dos homens públicos, antes brutos e desrespeitosos, na busca pela manutenção de seu próprio status quo.