Olímpia não comemorava a data de seu aniversário de fundação. Até pelo menos os seus 98 anos. No ano em que completaria 99, comemorou-se pela primeira vez a data de 2 de março como feriado. A festa oficial da cidade era apenas o 24 de junho.

Havia dúvidas se era o 2 de março ou outra data próxima a da fundação. E essa dúvida, que tirou o sono de estudiosos por muitos anos, entre eles os professores Rotschild Mathias Netto e José Sant’anna, só foi sanada mais recentemente, quando se oficializou o 2 de março. Ainda assim, só 24 de junho era o feriado municipal. Até que em 2002 a data foi adotada.

E, desde então, jamais se deixou de dar o feriado nesse dia, e os prefeitos de turno sempre se preocuparam em ter algo para entregar à população, sejam obras grandes ou pequenas, ou mesmo simples reformas ou readequações de espaços públicos.

É claro que não se pode cobrar no novo governo municipal tal façanha, já que está chegando agora. Mas fazer um Ato Cívico na praça da Matriz em plena manhã de uma quinta-feira de expediente normal no comércio e nas repartições públicas, a fim de “lembrar” a data do “natalício” olimpiense, chega a ser um contrassenso, dentre os muitos já protagonizados por esta administração.

O mais recente, exatamente a antecipação do feriado, com festa de comemoração dois dias depois.

Mas, deixando isso de lado, o que se pretende aqui é lançar luz sobre a data, que para muitos, senão para a maioria dos olimpienses, trata-se de nada, apenas mais um ano de existência para somar-se aos demais. Mas, 114 anos não é pouca coisa.

Principalmente se considerarmos que Olímpia, ao longo deste período, foi vítima de políticas predatórias, malversações, distorções, idiossincrasias mil, e outras tantas situações negativas e, no entanto, como se diz, “está viva”. Ao que parece, também, caminhando para o pleno desenvolvimento, embora os solavancos, os muxochos e a má vontade de tantos quantos.

A cidade agora experimenta seu terceiro viés econômico: o turismo de lazer, já que o cultural não deu certo, pois estamos no Brasil e, em particular, Olímpia, onde a vaidade, por incrível que pareça, é indissociável da alma olimpiense.

Olímpia, que já viveu o apogeu da agricultura, quando despontava como importante polo produtor de café, seu primeiro “tesouro”. Depois, perdido este filão, a laranja voltou a tornar a cidade uma das mais importantes do interior do Estado, e talvez a primeira da chamada “califórnia brasileira”, com sua produção de milhões de caixas, que culminou até na implantação de uma grande fábrica de suco, a Citrovale.

Mas, como dissemos acima, as vaidades por aqui não são poucas. E neste âmbito cítrico é preciso ressaltar o individualismo dos produtores, cuja falta de união contribuiu em muito, para que a cultura soçobrasse.

Agora já se houve aqui e ali que a laranja tem crescido em área e produção na cidade. Tomara que sim. Mas, de qualquer forma, jamais seremos o que fomos um dia, neste particular.

Passada a euforia da laranja, a cana passou a ser a nossa “bola da vez”. As arranquias foram frenéticas para dar espaço ao novo “tesouro” agrícola. De início, os próprios donos de terras plantando e comercializando com a nossa usina.

Depois, por mais cômodo e garantido financeiramente, arrendando as terras que antes eram da laranja, para o plantio da cana. Situação que ainda perdura. A ver no futuro não muito distante o que resultará disso.

E agora a cidade vive um “boom” turístico que jamais passou pela mente de quem quer que seja, que assim seria. Há controvérsias sobre se Olímpia já usufrui plenamente desde novo momento, ainda por se concretizar. A ninguém é dado o dom de profetizar o que nos espera daqui 10 anos. E daqui novos 114 anos?

E hoje, se formos eleger um ícone para a cidade, qual seria? Uma foto que descrevesse Olímpia, qual seria? Não vale o lugar-comum Thermas dos Laranjais.

Na verdade é forçoso ressaltar que, se não tomarmos cuidado, muito em breve não teremos história. Não teremos imagem, não teremos um ícone a mostrar que nossa terra foi berço de bravos homens e obreiras mulheres. É preciso vislumbrar o futuro, mas jamais podemos negligenciar o passado.

Um passado preservado diz muito sobre uma cidade e seu povo. A pretexto do moderno não se pode desprezar o que é antigo, pois ali está a história, ali está a vida, incrustada nos velhos casarões, nas antigas estradinhas, nos prédios públicos ou privados, nas memórias dos poucos remanescentes dos primórdios da cidade.

Porém, basta um pequeno passeio pela urbe para presenciarmos que nossa história está morrendo. O abandono e o descaso por sua memorabilia, faz de Olímpia um raro caso de município onde seu povo só valoriza o que é presente, o que é agora e o que pode vir depois.

Nunca o que fomos, de onde viemos, como viemos e o que temos enquanto tesouro indissociável de nossa formação de cidadãos.

Ou amamos nossa terra agora, e isso compreende tratarmos com zelo maior de nossa coisas tantas, aquelas que contam nossa história, ou nossos filhos, netos, bisnetos, enfim, as gerações futuras não terão o que contar. A não ser que nossas atrações aquáticas trouxeram para cá os Habib’s e Macdonald’s da vida.

Então, antes que nossos ícones maiores passem a ser um turco com um balde na cabeça ou um enorme ‘M’ em amarelo e vermelho, ou um palhaço sorridente, resgatemos o nosso, original, infelizmente por ser ainda descoberto.

PS: Sabiam que o 7 de abril já foi feriado municipal em Olímpia? Só que não se sabe até quando foi respeitado. A Lei nº 20, de 31 de março de 1948, foi revogada pela Lei 3.383/2014. Mas não há registros de que, até 2014, folgássemos no 7 de Abril. A data comemorava o aniversário da instalação do município.