Não temos procuração para falar em nome da Santa Casa de Misericórdia de Olímpia, nem queremos fazer as vezes de “advogado do diabo”. Mas é o inconformismo que nos leva a elaborar este texto assim, quase no final do dia.

A irritação com a desfaçatez do governo municipal de turno é o segundo motivo. Se não, vejamos o título que deram a texto distribuído pela assessoria do prefeito Cunha (PR) à imprensa na tarde de hoje: “Prefeitura tenta ajudar Santa Casa e provedor recusa repasse com ameaça de suspensão de atendimentos e demissões”.

É muita capciosidade, para dizer o mínimo. Repetimos, nada temos a ver com a diretoria do hospital, nem relações muito próximas, eis que problemas já tivemos de sobra com ela, jornalisticamente falando.

Agora vejam também a má-fé do enunciado do texto:

“Moradores de Olímpia e região poderão ser prejudicados com a suspensão de atendimentos e demissões na Santa Casa de Misericórdia da cidade, nos próximos dias. Isso porque a provedoria do hospital alega falta de recursos, mas tem se negado a receber o valor do repasse mensal da Prefeitura da Estância Turística de Olímpia proposto para renovação do contrato.”

O governo municipal faz terrorismo junto ao cidadão, para justificar sua picuinha política frente à atual diretoria do hospital, talvez mais exatamente contra seu provedor, advogado Mário Francisco Montini.

Se o prefeito e seus asseclas têm diferenças políticas com a diretoria do hospital, que as resolva politicamente, mas no diálogo, de preferência aberto, para que toda a população saiba o que está acontecendo, ou o que pode acontecer com o seu patrimônio. Sim, porque não há como negar que a Santa Casa é patrimônio do povo que dela depende em seus momentos mais difíceis.

Com esta atitude de tentar jogar a população contra a diretoria do hospital, pratica-se o jogo do cinismo, desrespeita-se aqueles que direta ou indiretamente contribuem para que tenhamos serviços médicos condizentes com nossas necessidades.

O que não dá mais é para aturar esta mania que os políticos olimpienses têm, de usar o hospital como ferramenta de campanhas eleitorais, prometerem mundos e fundos, se comprometerem com isso e aquilo, e depois o que se vê é o hospital na mesma situação de sempre, ou seja, de mendigar uma “emendinha” aqui, outra ali, e nada se resolve de uma vez por todas.

Este que vos escreve confessa que alimentou certa esperança de que a coisa, desta vez, fosse diferente. Que, de fato, uma nova realidade fosse palpável. Que revoluções hospitalares estavam por vir. Mas, parece que repuseram na máquina a mesma película. E estamos, sinceramente, cansados de ver esse filme.

É inadmissível, também, por certo, usarem o governo passado como espelho. Olham para o retrovisor o tempo todo, estes governantes. Não devem, em hipótese alguma. Esqueçam de vez o que foi bem ou mal feito na vossa visão. Vocês prometeram ser diferentes, prometeram ao eleitor um “novo mundo possível”.

Cumpram!

E comecem pela Santa Casa. Mas comecem jogando o jogo aberto, claro, transparente. O que está se sucedendo lá? Tragam a público. Por que esta diretoria, ao que parece e aos vossos olhos, não serve? Estão atrapalhando vossos planos, vossos projetos de melhorias e reestruturação do hospital? Contem para todos nós.

Mas, por favor, poupem o cidadão já desesperançado com tantas mazelas vistas e vividas por este país afora, de suas idiossincrasias políticas, está na hora da política olimpiense amadurecer.

Um texto como esse nesta altura dos acontecimentos, quando o alcaide já caminha para o final dos seus 90 primeiros dias -a partir de quarta-feira começa a contagem regressiva dos 15 dias finais – é decepcionante. Esperava-se que viesse com uma proposta de solução para a Santa Casa, um projeto novo, que não o retrocesso do pronto-socorro, para corroborar com o discurso de campanha.

A certa altura, diz o enviesado redator: “O retorno do hospital, que chegou à secretaria de Saúde na tarde de quinta-feira (9), contrapropõe a oferta municipal, pedindo que a subvenção mensal da prefeitura deva ser de R$ 466 mil reais (sic), o que corresponde a cerca de R$ 5,6 milhões ao ano – quase 500% a mais do que foi aprovado pela gestão passada para este ano como subvenção, adicional aos repasses do SUS.”

É claro que não se pode descartar, caso o contexto seja mesmo esse, uma certa provocação da diretoria face ao Governo municipal com tamanhos valores. Mas é preciso ressaltar que não deveria causar espanto ao grupo no poder, sabedores que a situação do hospital, para ser solucionada de vez, necessita disso e muito mais.

Claro está que em sã consciência, nenhum cofre de cidade do porte de Olímpia tem a dispor tantos reais para atender um setor específico. Mas usar isso como arma de embate provoca engulhos. Provoca engulhos também o malabarismo redatorial visando “endeusar” a administração neste aspecto, e “demonizar” o hospital.

E mais: não importam os desdobramentos das próximas horas. O estado de indignação deste blog vai permanecer, até que, de fato, algo mude para o bem. Até que, de fato, se parta para a prática.

Porque, sinceramente, não dá mais para suportar outra atitude n em relação à Santa Casa, que não seja, digamos, um “mutirão” de transformações, modernizações, readequações, enfim, um projeto definitivo, para acabar com essa lenga-lenga, esse chororô de todos os dias e, acima de tudo, tirar o hospital da reta político-eleitoral.

É muito ruim vendo gente se eleger a cada pleito e a Santa Casa ali, sempre do mesmo jeito, sempre sendo a ferramenta certeira para atacar o inimigo, angariar votos com isso e, depois, fazer a mesma coisa. Isso cansa.

Tirante outras aberrações textuais, essa é de doer: “(…) Cabe lembrar que a Santa Casa é de direito privado e de caráter filantrópico, realizando também atendimentos particulares e de convênios de saúde, cuja arrecadação deve ser administrada pela direção do hospital, sendo que a prefeitura não tem conhecimento e nem qualquer gerência nos gastos e na administração da instituição.”

Não sabiam disso durante a campanha? Parece que não.

E essa vai doer mais ainda: “Salientamos que a sustentação do hospital não é de responsabilidade apenas da prefeitura de Olímpia, como é o caso da UPA – Unidade de Pronto Atendimento. A provedoria também tem a função de captar recursos por outras fontes sem causar prejuízos às demais áreas da cidade. Seria um crime de responsabilidade com a gestão do orçamento do município”, ressaltou a secretária de saúde, Lucineia dos Santos.

Crime de responsabilidade, senhores, é lançar mão deste argumento absurdo, uma vez que, sendo a Santa Casa o único hospital de que o povo dispõe, passa a ser, sim, de responsabilidade da municipalidade, sua sustentação. Não quer o modelo de gestão atual, modifica-o, municipalize-o. Porque agora é tarde para sacar do “coldre” a arma da indiferença.

Ao final, queremos lembrar, mais uma vez, que não se está aqui defendendo a diretoria ou suas propostas, ou sua não aceitação, ou que a dinheirama corra solta por lá. Defendemos, e com gáudio, nosso hospital. Por ele que nos batemos. Historicamente, até.

Assim, rogamos: basta!