Já se passaram algumas semanas em que os dados estão rolando na busca por vagas nas Câmaras Municipais e por cadeiras principais nos muitos municípios que compõem este Brasil varonil.

As “propostas de governo” são quase sempre coincidentes, quando há mais de um candidato na busca pela vaga majoritária. Sempre apresentando soluções fáceis para os problemas da cidade.

É difícil falar em igualdade de condições nas disputas para a vereança e para o Executivo. É claro que todos sabem o poderio econômico-financeiro de cada grupo, de cada um e, no imaginário popular, sempre ganha aquele que tem mais dinheiro. E não devia ser assim.

Mas, também não é sonho de uma noite de verão dizer que há nos ares um quê de mudança na percepção do eleitor, que com as redes sociais pode se informar, conversar, obter esclarecimentos e, mais importante, saber quem é quem e o que cada um quer.

Mais importante ainda, saber se o que cada um quer é para si ou para a coletividade.

Não é exagero dizer que, em função disso, os que atualmente exercem ainda cargos legislativos, principalmente, estão tendo que suar ainda mais a camisa, usar de criatividade ainda mais aprimorada para, primeiro, se livrarem da pecha de inoperantes e, depois, convencer aquele eleitor de que deve continuar na sua cadeira.

Para os prefeitos de turno, candidatos à reeleição, também não está sendo nada fácil, pois as comparações e as cobranças são inevitáveis. E as críticas também. Ele é o candidato-vidraça.

Ao mesmo tempo em que precisa justificar o que não cumpriu dos compromissos anteriores, tem que convencer aquele eleitor de que, além de dar cabo do que prometera antes, também vai dar conta de cumprir com o que está prometendo agora. Difícil missão.

Até porque reeleição é sempre desgastante. Há quem diga que aquele que busca a reeleição majoritária, em tese está pedindo ao eleitor mais quatro anos para fazer aquilo que prometeu fazer e não fez nos quatro que se encerram.

Já para os que estão na disputa pela primeira vez, pode se dizer que a caminhada é menos penosa, mas nem por isso mais fácil. Todos apresentam-se como novidade, mas precisam convencer o eleitor de que, além de novidade, são de fato competentes.

Se aquele que busca o repeteco eles já conhecem (ainda que só de nome), os que estão na luta para o cargo precisam se fazer conhecer e, mais ainda, passar confiança ao cidadão.

Quererá o cidadão o novo, o supernovo, o já conhecido? O que quererá o eleitor desta vez? Em quem apostará (no sentido transitivo indireto, para não confundir com uma jogada de sorte ou azar)?

O que não dá é para acreditar em milagres. Que algo que se deixou para trás possa ser agora, com uma varinha de condão, resolvido. Parece que não, mas quatro anos são muito tempo. Embora os políticos carreiristas digam que não. Por isso inventaram a reeleição.

O que falta no país, a nosso ver, é uma coisa chamada “deseleição”, ou seja, o candidato se apresentaria ao eleitor não com um programa genérico de governo mas, sim, com um “caderno de metas” para cada um dos quatro anos.

E teria que cumprir. Falhou no primeiro ano, está fora, conforme então preveria a constituição do país.

Aí acabaria o festival de mentiras e ilusões que chamam de programa de governo. Pois não seriam “programas”, seriam “metas a serem rigorosamente cumpridas num prazo ‘xis'”. Se não, sempre teremos os carreiristas iludindo as pessoas de boa índole e crédulas.

Porém, no atual sistema, também é possível detectar a capacidade de realização do carreirista, apurando-se o porcentual daquilo que colocou em seu “programa” da vez passada e o que efetivamente realizou. Se não passar dos 80%, abandona.

Porque se ele elencou tudo aquilo que estava em seu “programa” e não cumpriu a quase totalidade dele, então ele mentiu sobre sua capacidade de realizador. Ou simplesmente não tinha a menor noção do que é exercer um cargo administrativo.

Por que da segunda vez seria diferente, já que se acumulariam a maioria das promessas não cumpridas com as novas que estariam sendo feitas?

Embora alguns até cometam o desplante de “prometer de novo” aquela mesma obra, quatro anos depois. Então, um fácil escrutínio para aquele eleitor mais atento.

No mais, o eleitorado brasileiro precisa perder o medo do novo, das mudanças, porque “o novo sempre vem”, já diz aquela famosa canção. Mais cedo ou mais tarde, ele bate à sua porta. Neste momento é preciso racionalizar, usar do bom senso.

Pensar: se tudo está empacado até agora, será que uma dose de sangue novo não vai fazer a roda girar? Não vai desengripar as engrenagens? Se não acontecer isso, muda de novo. Há sempre uma eleição para o cidadão fazer sua catarse.

A menos que, por algum motivo, prefiram conviver com “homens-rodas-gigantes”, aqueles que ficam ao longo do tempo girando em torno de si mesmos.