Não foi uma nem poucas as vezes que tratamos aqui neste espaço da “fúria imobiliária” que assola nossa cidade, motivada pelo aludido “boom” turístico que estaríamos vivendo no momento. Não considerando que apenas ainda – e infelizmente – somente um seleto grupo de pessoas tem ganhado com isso, e outro grupo minóritário de pessoas tem conseguido um emprego por conta deste movimento, é de espantar a subida vertiginosa no valor dos aluguéis que se cobram por imóveis residenciais ou comerciais, o que tem inviabilizado muitos negócios desde que – e principalmente – fora do nicho do turismo.
É claro que há aqueles que sempre nos julgam por demais pessimista por não ver um “mundo maravilhoso de turismo” em Olímpia mas, sim, ver com ressalvas este fenônemo. Que não é de todo ruim para a cidade, não é. Mas que venha a ser a panacéia da cidade, está longe, muito longe de ser. O turismo ainda está a dever para a cidade e seus cidadãos. Não houve desenvolvimento local ainda, por conta disso.
E não vale dizer que o fato de estar se abrindo uma pousada atrás da outra, uma operadora de viagens atrás da outra, construindo-se um prédio atrás do outro, lançando-se um loteamento atrás do outro, e até mesmo que restaurantes e lanchonetes recebem um bom volume de comensais em dias da semana e finais delas, porque tudo isso está inserido naquela avaliação feita acima, a de que uns poucos tem se beneficiado desse frenesi.
O problema maior está sendo vivivo pelos “nativos” que no frigir dos ovos acaba pagando a conta do turismo concentrado, quando vai alugar um imóvel para morar ou para montar um negócio, vai a uma lanchonete ou restaurante, vai comprar um carro usado ou mesmo um terreno ou prédio pronto. Se quiserem, têm que pagar os olhos da cara. Há uma super-hipervalorização em tudo o que se pensar. Basta nos lembrarmos que Olímpia já foi a cidade onde se comprava a comida mais barata da macrorregião. E agora?
Fica a impressão de que perdeu-se a medida do lógico e razoável, e noção da realidade. Tentam passar a imagem de uma cidade rica, próspera, desenvolvimentista, quando na verdade estamos em uma cidade de classe média-média para baixa, onde frutifica o desemprego, o subemprego ou o emprego mal remunerado. E onde a prosperidade ainda é somente uma frase pronta a se dizer a todos em viradas de ano. E o desenvolvimento que se vê é o da balburdia, da falta de governo sério, do farsesco e do favorecimento.
Se ainda insistem em me verem como pessimista incorrigível, vou dar um exemplo da “fúria imobiliária” que faz a alegria dos proprietários de imóveis, terrenos, loteamentos, imobiliárias etc., mas que por consequência provoca a desestabilização social e econômica de tantos quantos não tiveram o privilégio de ser personagem da seletíssima “roda do meio”, se é que me entendem. Este exemplo está no Cine Capitólio, que poderá ter suas portas fechadas, por causa…. do reajuste do aluguel do prédio.
E falamos aqui de uma rede poderosa de cinemas em toda região e centros maiores. Imaginem a situação de gente miúda do comércio e da sociedade olimpienses. Abrir uma portinha acanhada de loja na região central é uma façanha para os corajosos. E aquelas redes poderosas, maiores, quando insistem, é sabido que pagam os olhos da cara – coisa de R$ 2 mil, R$ 3 mil, R$ 4 mil por mês, quando não mais.
Muitas vezes, até, é possível perceber que o preço cobrado é pura exploração, porque em situação normal o tal imóvel não valeria um terço do cobrado em aluguel.
“Hoje recebi um telefonema da diretoria do Cine Capitólio, empresa sediada em São José do Rio Preto. O prédio onde funciona o Cine Capitólio sofrerá um reajuste de aluguel dia 1º de novembro e, em virtude da baixa frequência, se tornará impossível continuar suas atividades em Olímpia. Possivelmente a cidade ficará, mais uma vez, sem sala de exibições de filmes dentro de 90 dias”
A queixa é do gerente do cinema, o radialista Jota Ângelo, em texto encaminhado ao site de notícias de Leonardo Concon.
Claro que alguém logo vai sacar esta: “Áh, mas é porque a frequência é baixa!” Sacando mais rápido ainda dá para derrubar este argumento, bastando lembrar que a cidade é turística. Então, cadê o turista no cinema? E mais uma: a falta de concilição entre o interesse da empresa em ficar na cidade e o do proprietário, em cuidar para que não se perca mais uma fonte de entretenimento para jovens e adultos, do que a cidade já é tão carente. Ou seja, faltaria aí, imaginamos, o “espírito olimpiense”.
“Hora oportuna dos dirigentes locais fazerem algo pelo nosso cinema”, cobrou Ângelo.
A hora é oportuna para que nossos dirigentes façam alguma coisa por todos nós, Ângelo. E buscar meios de manter um cinema em atividade, numa “cidade turística”, seria só o primeiro – mínimo – passo. Mas nossos dirigentes não sabem o que, e nem como fazer. É isso.
Até.
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