A cultura difusa de um país gigante

A cultura difusa de um país gigante

 

Amigos do blog, sem qualquer pieguismo, dou sempre graças a Deus por ter nascido em Olímpia. Porque a cidade é a única no Brasil que tem um festival de grande porte dedicado ao Folclore, à preservação do que nos é- pelo menos deveria ser no todo – mais caro, nossas raízes, e agrupar aqui, a cada agosto, todas as manifestações culturais do país, por meio da música, da dança, da comida e de outras tantas manifestações artistico-culturais.

Manifestações que, a bem verdade, o olimpiense ainda não entendeu na sua essência. Ou talvez não tenha sido educado para tanto. Não é raro ouvirmos expressões de admiração de tantos quantos sabem diferenciar o que é cultura do que é meramente diversão. Mas raramente dos que aqui vivem.

Por aqui, ainda se ouvem muitos comentários e classificações errôneas acerca da nossa festa maior, com muita gente cobrando ‘modernização’, ‘novidade’, ‘cores cintilantes’, ‘beleza plástica’ e por aí afora. Típico de povo que nada mais consegue enxergar além da superfície, além do aparente.

Esquecendo-se de que o Fefol não é ‘festa’ na acepção da palavra, aquela ‘festa’ onde a ordem natural das coisas é o descompromisso, é o ‘deixa rolar’, são as luzes, as cores, a beleza superficial, num mimetismo muitas vezes forçado, no qual a ‘burguesia’ possa estar sem se sentir envergonhada.

Porque, é sabido, o brasileiro tem vergonha de suas raízes. Ao contrário dos povos mais antigos e/ou melhor educados e civilizados, o brasileiro tem vergonha de olhar para dentro de si mesmo. Prefere não saber de qual raiz brotou. Então macaqueia frente aos estrangeirismos, ‘se achando’, como se diz.

Mas, felizmente para nós, olimpienses, malgrado o grande número de concidadãos que pouco valor dão a isso, tivemos entre nós uma figura inatacável chamada José Sant´anna. Que com todos os seus ataques, sua idiossincrasia, ainda é a melhor e mais merecedora figura pública a ser cultuada na cidade.

Ele se foi, e nos legou o festival. Quando vivo, deu-se por inteiro ao seu maior ideal de vida, lutando contra tudo e contra todos, pondo do seu bolso, no que desse, onde faltasse, recurso para uma indumentária, um tênis, um chapéu.

Seus figurantes do moçambique, da congada, das folias de reis tinham que estar impecáveis. Ele via luxo, requinte e beleza, onde muitos viam apenas pobreza. E se estremecia a cada rufar de tambor, se encantava a cada nota de uma flauta, ou acorde de uma viola ou violão.

Muitas vezes cantava junto. Muitas vezes era agraciado com um mimo, que podia ser um chapéu enfeitado, e lá ficava ele, horas a fio com aquilo na cabeça, como se lhe representasse a coroação divina.

Assim era o homem Sant´anna, dado a poucos amigos, dado a fazer confidências a estes poucos amigos, dado a não usar de meias-palavras contra quem não gostava. E não adulava ninguém. Sabia o que estava fazendo. Seguro de si, apenas desdenhava daqueles que não enxergavam a profundidade de cada movimento da dança folclórica.

Generoso, não se furtava a dar explicações detalhadas sobre cada volteio, cada fita, cada tom, cada cor e sabor. Era um poço de sabedoria. Um oásis de conhecimento de nós brasileiros, dos nossos costumes, da nossa gente. A nossa língua, seja a falada de todo dia, sejam as quase não-faladas, a todas ele conhecia.

E só não bebeu desta água quem não quis. Ou não se interessou. Por isso, amigos, volto ao topo deste blog e repito: graças a Deus nasci em Olímpia! Por causa da nossa festa, por termos tido o Sant´anna, por ainda existir o Fefol, e por ele representar o que representa para o país e seu povo. Só por isso.