Pela primeira vez na história dos festivais de Folclore de Olímpia, o concurso de artes já tradicional nos dias que antecedem o evento, terá tema definido. Nunca isso aconteceu antes, exatamente visando privilegiar aquilo que a ciência folclórica tem de essencial: a sua liberdade de representação, em qualquer que seja a manifestação. Este ano a 48ª edição da festa, que será realizada de 21 a 29 de julho, homenageará o Rio Grande do Sul.
O concurso foi lançado neste mês de maio. Diz o texto-apresentação do concurso que ele tem o objetivo de “estimular a criação artística de nossos munícipes, premiando as melhores obras nas categorias Pintura – acadêmica e Moderna, Escultura, Poesia, Artesanato e Fotografia”. Mas, como se falar em “criação artística” se há um limite temático e regional, no caso o “folclore” gaúcho, suas crendices, lendas, usos, danças e costumes?
Entendo que se queira dar um “brilho” ao festival deste ano, do tipo “fazer a coisa parecer mais bonita” para tornar menos incômoda a presença e participação de políticos em meio às manifestações, afinal, é ano político e estaremos à portas das eleições. Mas o que não dá para entender é a “amarra” imposta a quem deseja participar do concurso de artes, obrigando o artista a se aferrar nas coisas sulistas, e só nelas, ainda por cima sem muita riqueza temática. O “folclore” gaúcho é monotemático.
E quando se escolhe, num estado inteiro, somente um grupo, como se escolheu o Centro de Tradições Gaúchas “Estância da Serra”, da localidade de Osório, fica a impressão de que se está praticando um ato de exclusão. Mas, que talvez seja até justificável, pelo que já disse acima, a monotematização de manifestações, basicamente todas elas iguais, independentemente do CTG a desenvolvê-las.
Não bastasse isso, ainda temos que ler declarações do tipo: “Resolvemos entrar em sintonia com o Festival de Folclore, estimulando a criação artística olimpiense, dentro dos mais diversos aspectos de nosso folclore.” Como assim, “dos mais diversos espectos do nosso Folclore”? Se só se está dando um aspecto – e não legítimo, do ponto de vista etimológico e etnológico -, para ser desenvolvido?
E pelo que pudemos apurar nestes últimos dias de pesquisas, pertencem ao Folclore, todas as expressões de cultura popular, espontâneas, não dirigidas, aprendidas informalmente num processo inconsciente de aceitação e imitação no convívio de parentes e amigos. Temos assim as lendas e estórias, os mitos, as crendices, os folguedos, as danças regionais, as canções populares, as histórias populares, os costumes populares, religiosidade popular ou cultos populares, a linguagem típica de uma região, medicina popular, o artesanato etc.
Pois essa difusão, espera-se, seja contemplada com as demais manifestações que sempre foram o objetivo do mestre criador da festa, José Sant´anna, como contribuição individual neste rincão querido, para a conscientização de tantos quantos queiram prestar atenção naquilo que são nossa fortaleza: raiz, tradição, cultura própria.
A idéia de se homenagear estados a cada edição da festa teve início em 2005, e de lá para cá já estamos indo para o oitavo estado homenageado. Mas, foi só no ano passado e neste ano que tais homenagens circunscreveram-se a um grupo especificamente. Antes, difundia-se pelo Estado todo. E em todos eles há manifestações as mais diferentes, cada uma preservando e cultuando um aspecto da cultura popular brasileira. Cores, musicas, bailados, um diferente do outro, mesmo quando são manifestações voltadas a um mesmo objetivo.
Não sei, e até o momento não consegui ainda descobrir o que os gaúchos vão trazer que já não tenha sido exaustivamente visto pelos olimpienses e visitantes, as suas danças compassadas, pensadas, orientadas, dirigidas e oriundas dos confinamentos dos CTGs. Até aí nada contra a homenagem ao Estado, nada contra o Estado, muito menos contra o povo rio-grandense. Mas há que se temer pelo perigo de uma descaracterização forçada, ou talvez planejada visando dar “brilho” ao evento, por ocasião do momento.
Cuidado maior ainda com as mãos que hão de conduzir as coisas este ano, que no afã de “dinamizar”, ou “modernizar”, “lustrar” o universo folclórico podem cometer a maior das heresias. Temos um governo municipal, provado por mais das vezes, iconoclasta, cuja maior demonstração está na antecipação do Festival para julho, decisão até hoje não provada se trouxe os resultados esperados por eles, Governo e seu entorno, ou não. Neste aspecto, só o silêncio “gritou alto”.
Salve, salve, Curupira!
Até.
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