Blog do Orlando Costa

Verba volant, scripta manent – ANO XVI

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SÃO TEMPOS DE ‘PÓS-VERDADES’: TODO CUIDADO É POUCO

Não chegou até nós estes números, que conforme disse, no release disparado à imprensa não constava contagem de espectadores, mas o semanário Folha da Região trouxe em sua edição de sábado que “Mais de 6 mil pessoas viram desfiles das escolas de samba”, bem como “Cerca de seis mil foliões foram aos bailes de carnaval no recinto”.

Este segundo título, até nem carece de comentários, porque é descarada e vergonhosamente mentiroso (não que seja culpa do jornal, mas também não dá para dizer que foi induzido seu editor a erro, dada a experiência na estrada).

Acertadamente pode se dizer que nem mil pessoas foram aos bailes de carnaval no recinto. E pode-se dizer, também, que nem chamando o reforço do público do show da sexta-feira daria este tanto de gente. Ou até daria. Mas compondo cerca de 90% ou pouco menos que isso do total de público no sambódromo do curupira.

Para comentar a quantidade de gente na Avenida Menina-Moça, nas duas noites de desfiles carnavalescos, reproduzo, antes, o critério técnico oficial usado para medir multidões.

Existe uma certa tendência dos organizadores de determinado evento em “inflar” o número de pessoas que participaram. Em um evento político, o partido que organiza sempre tende a aumentar o número de pessoas. Já o partido contra tende a diminuí-lo. Como chegar em um número satisfatório e próximo do real?

De acordo com engenheiros e estudiosos, o número de pessoas que cabem em 1 m², em um local com grande concentração de pessoas, é de no máximo 7 pessoas com estaturas medianas e com peso de 60 kg. Isso com as pessoas se espremendo umas nas outras. É mais objetivo levar em consideração um número de 3 a 4 pessoas, mas este número ainda pode variar.

Vamos considerar seis pessoas por metro quadrado, para ficarmos nos números divulgados? Um metro quadrado, seis pessoas. Dez metros quadrados, 60 pessoas. Cem metros quadrados, 600 pessoas. Mil metros quadrados, seis mil pessoas. lembrando que esta medida seria a de um campo de futebol, com as pessoas aglomeradas entre si, e ocupando um metro quadrado cada seis delas.

Agora voltemos nossos pensamentos ao local de realização dos desfiles e façamos um cálculo… Vejam a foto acima. Calculou? Fim.

(PS: disse no post anterior que era o balanço final do Carnaval. Mas não poderíamos nos calar diante desta “pós-verdade” somente hoje chegada ao nosso conhecimento)

O CARNAVAL DO ABSURDO

Já comentei aqui e alhures que o carnaval de Olímpia, este ano, irá ficar na história do município como a festa da discriminação, do confinamento e da sinalização a uma certa camada social sobre qual é o seu lugar. E, também, o carnaval do absurdo.

Muita gente vai torcer o nariz para o que está dito acima, outros vão ver exagero na classificação e, quiçá uns poucos hão de concordar. Então, é para estes que escrevo, pois.

Um certo número de pessoas esteve na noite de ontem na avenida Menina-Moça, numa parte bem pequena dela (este o primeiro absurdo a ressaltar) para ver o desfile das escolas de samba. Desnecessário dizer aqui que o povo olimpiense gosta e sempre gostou muito dos desfiles carnavalescos. Sempre que ocorrem, lá está ele a postos.

Acontece que, historicamente, em nossa urbe, este mesmo povo amante de desfiles carnavalescos, foi relegado a segundo plano pelos organizadores dos festejos, sob a tutela dos mandatários de turno. Um eterno vai pra lá, vem pra cá que não leva em conta as dificuldades do cidadão em se locomover ou se estabelecer neste ou naquele local.

Nosso carnaval de rua já foi na praça, depois na Aurora Forti Neves, depois na praça, depois na Aurora e finalmente na praça, de onde foi tirado, agora, para atender a uma “experiência” absurda, surreal de se transformar o Recinto do Folclore num sambódromo, talvez o sambódromo do Curupira.

Se existiu uma ideia mais tacanha até agora em relação ao nosso carnaval de rua, esta leva o prêmio. Não bastasse isso, a organização ficou a dever, e muito, no tocante ao tratamento dispensado às escolas, no quesito estrutura.

Faltou espaço, faltou iluminação, faltou acomodação decente e, sobretudo, faltou respeito ao trabalho das escolas e ao cidadão que para lá acorreu para vê-las (PS: as “otoridades” estavam devidamente acomodadas num bem iluminado “camarote”).

O povo foi espremido como gado ao abate, numa concepção paupérrima do que seria um desfile carnavalesco numa passarela, e pintar o trecho do desfile, não mais que 200 metros, de branco, foi bizarrice pura. Um arremedo ridículo de algo que não se vislumbra.

O que se viu ontem foram as escolas passando pela (argh!, vai lá) “passarela” em cerca de 15 a 20 minutos. E vejam que o tempo não estava cronometrado, eis que a expansão da tal “passarela branca” do samba já delimitava o tempo. Não havia espaço para mais que isso. E foi esse o tempo que elas tiveram para exibir sua criatividade, cores, ritmo, música e alegria.

Com uma avenida que mede, talvez, cerca de 500 metros ou mais de extensão, de um portão a outro, usou-se cerca de um terço disso para uma escola de samba desfilar. O resto era tremenda escuridão.

Sim, o olimpiense que se aventurou a uma caminhada até o local, vindo de outras regiões que não a próxima, pela avenida, deparou-se com o breu noturno.

Escuridão essa que também foi notada no trecho dos desfiles, a ponto de uma transmissão aérea, via drone, não surtir os resultados esperados. E não foi isso que prometeram. Cobrada por nós, a secretária disse que isso não seria problema, porque fazia parte do projeto tratar a iluminação com profissionalismo. Não cumpriu.

E nestas últimas horas de carnaval viu-se nas redes sociais alguns comentários e contracomentários reduzindo a discussão a se tem público, se não tem público. Não é este o foco, embora a deficiência de foliões e espectadores já esteja bem visível a partir da noite de sábado. Pode ser que melhore, se o tempo ajudar.

Mas o ponto crucial nisso tudo é dizer aos luminares governistas que não pode ser de livre arbítrio uma mudança tão radical em um evento tão tradicional e amado pelo povo, como os desfiles de rua.

Essa decisão teria que ter sido discutida com as escolas e pessoas representativas do meio, e só acontecer mediante um consenso e certas condições indispensáveis a serem respeitadas.

Se houve diretores de escola que aceitaram de pronto a “novidade”, acreditamos ter sido por açodamento e imaginando uma outra coisa totalmente diferente da que lhes entregaram. E aqueles que discordaram, se os há, é de se esperar que pelo menos protestem contra as condições oferecidas.

Se são experientes na arte de desfilar, como de fato o são, só se fizerem vistas grossas para o fato de lhes terem prometido o paraíso, e lhes dado, quando muito, o purgatório.

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