Foi uma bactéria, raríssima, e não embolia pulmonar ou qualquer outra coisa que seja, a causa da morte do garoto Pedro Henrique Pereira de Jesus, de 10 anos, enterrado na tarde da última quarta-feira, 18, depois de ser velado em sua própria residência.

O menino passou por nada menos que quatro profissionais médicos na Unidade de Pronto Atendimento-UPA, e todos eles trataram-no como se estivesse lesionado na região do tornozelo, com injeções e anti-inflamatórios.

Mas, em Catanduva, para onde foi levado quando a situação se agravou, os médicos diagnosticaram a presença em seu organismo da bactéria Piomiosite Tropical, uma infecção supurativa, típica de países tropicais que acomete um ou mais grupos musculares ricamente vascularizados, ocorrendo principalmente em indivíduos com comprometimento imunológico.

O cardiologista José Carlos Ferraz, quando foi entrevistado pela reportagem da Rádio Menina-AM, foi informado sobre a possibilidade de ter sido uma bactéria não detectada pelos médicos da UPA, mas negou de forma veemente que isso pudesse ter acontecido.

“Ele passou por quatro médicos naquela unidade médica, e eles teriam percebido se tivesse a suspeita de uma infecção, e tomado providência antes. Foi uma fatalidade mesmo”, rechaçou o cardiologista.

Ferraz chegou a insinuar que, se tivesse sido uma infecção grave a responsável pela morte, esta teria sido adquirida na UTI, onde “encontramos bactérias muito resistentes, não comuns no meio que circulamos”, opinou.

Fato é que os médicos em Catanduva não isentaram os colegas daqui de certa culpa, já que não detectaram o problema a tempo, o que possibilitaria um tratamento da causa real.

A reportagem da Menina-AM tinha esta informação da morte por bactéria, que foi ignorada por Ferraz. Mas, na quinta-feira, após manter contato com o médico da UTI catanduvense, teve a confirmação. E foi à Rádio Difusora dar a informação que a Menina já tinha na quarta-feira.

Publicamos abaixo, a íntegra das entrevistas concedidas pelo médico diretor da UPA às duas emissoras AM de Olímpia, na primeira, na quarta-feira, 18, negando a possibilidade da bactéria e, na segunda, na quinta-feira, 19, admitindo que foi a tal bactéria a responsável pela morte precoce do garoto.

A ENTREVISTA DADA À RÁDIO MENINA, NA QUARTA-FEIRA:

“Fizemos levantamento de suas fichas desde a terça-feira da semana passada, dia 10, quando foi atendido, por volta das 17 horas, com dor no tornozelo direito. Foi feito Raio-X, não tinha fratura, lesão externa, foi prescrito anti-inflamatório e foi encaminhado para o ortopedista. Temos um que atende na UPA diariamente, e todos os casos atendidos, quando há necessidade imediata dele, ele é acionado. Quando não há urgência, ele é encaminhado para o atendimento no dia seguinte.

Ele não foi no dia seguinte de manhã, e foi à tarde, queixando de dor. Passou pela mesma médica, a doutora Solange, que fez novo Raio-X, do tornozelo e da perna também, não tendo constatado nada, manteve a medicação e voltou a encaminhar o paciente para o atendimento com ortopedista no dia seguinte, e não compareceram de novo.

À noite, a criança continuava com dor, voltou na UPA, foi atendida pela doutora Maria Carolina, e ela a segurou, para ser atendida no dia seguinte. Na quinta-feira, foi atendida pelo Dr. Gerson Alfredo, que constatou tratar-se de um entorce. Colocou tala na perna da criança e manteve os anti-inflamatórios.

Como persistia a dor, ela voltou no sábado e foi medicada da dor, e voltou novamente no domingo, queixando de dor no peito. Foi submetida a exame de sangue, que foi normal, SE TIVESSE BACTÉRIA, OS GLÓBULOS BRANCOS ESTARIAM ALTERADOS, MAS O HEMOGRAMA FOI NORMAL.

Por causa da dor, a pediatra Rosemeire encaminhou para a Santa Casa, para internar. Na Santa Casa, não sei o que estava acontecendo, mas deve ter entrado em dor torácica e foi encaminhado para Catanduva.

Imagino que o hematoma provocado no entorse do tornozelo, deve ter formado um coágulo que no correr dos dias desprendeu e foi para o pulmão,  entupiu uma artéria pulmonar, num quadro que chamamos de embolia pulmonar. Se for artéria pequena, é uma dor despercebida. Mas se é obstrução de uma artéria mais importante, aí vai degenerar uma parte do pulmão que não recebe circulação, a pessoa vai ter falta de ar, dor e entrar em insuficiência respiratória muito grande, sem ter o que fazer.

Não tive conhecimento que nem um tipo de entorse tenha provocado uma embolia pulmonar, mas cirurgias de pélvis, ortopédicas, traumatismos maiores, tudo isso são motivos de provocar uma trombose venosa no membro inferior, e esse trombo se desprender e ir para o pulmão, provocando embolia pulmonar.

Causa mortis não tenho conhecimento, porque atestado foi elaborado em Catanduva. Imagino que deve ter apresentado embolia pulmonar e daí não sei se foi colocada em ventilação mecânica, para ajudar a respirar, e esse procedimento de entubação, mais ventilação mecânica, dentro de uma UTI propicia muito a infecção do pulmão, que pode se generalizar.

Aí sim, em UTI encontramos bactérias muito resistentes, não comuns no meio que circulamos. Mas um traumatismo fechado, sem nenhuma lesão ter acontecido na própria lesão, uma infecção que os profissionais não tenham observado acho muito difícil.

O menino foi atendido pelos doutores Solange, Maria Carolina, Gerson Alfredo e José Augusto. Eles teriam percebido se tivesse a suspeita de uma infecção e tomado providência antes. Foi uma fatalidade mesmo.

Mas a família até tomou o cuidado de levar a criança, que foi bem atendida, mas houve esta má evolução. Entorse, às vezes não precisa nem de medicamento. Mas às vezes complica. Tinha hematoma não detectado no Raio-X, e nem se percebe na apalpação, e que infelizmente evolui para isso. Um trombo que se desprendeu, foi para o pulmão e provocou a embolia.”

A ENTREVISTA DADA À RÁDIO DIFUSORA, NA QUINTA-FEIRA:

“Pedro Henrique, na terça-feira da semana passada, torceu o pé. Familiares o trouxeram à UPA e estava com o tornozelo inchado, e foi feito Raio-X, para verificar se havia alguma fratura e não foi constatada fratura, e a criança foi medica e encaminhada para passar por ortopedista.

No dia seguinte, deveria ter vindo para consulta com o ortopedista, mas não veio, e os familiares o trouxeram à tarde, depois à noite, ainda queixando-se de dor. Quando a nossa pediatra manteve a criança internada, isso na quarta-feira, para que a criança passasse pelo ortopedista. Na quinta o ortopedista examinou a criança e pediu, além do Raio X do pé, um na perna, pois queixava-se de dor na perna também, e não sendo constatada nenhuma lesão óssea na criança, foi feita um tala, uma imobilização, para ajudá-la na recuperação do torcio do pé dessa criança.

E a dor persistiu, e a criança depois voltou no sábado com dor, e daí solicitou-se que a criança passasse novamente pelo ortopedista na segunda, mas no domingo, como além da dor na perna começou apresentar também dor no peito, a avó trouxe a criança para um novo atendimento aqui na UPA, e a pediatra que atendeu Pedro Henrique no domingo, a criança estava com um pouco de falta de ar, e foi feito Raio X e não apareceu nada, mas a criança estava com sudorese, transpirando e com palpitação e ela achou por bem encaminhar para Santa Casa, para ser observada e fazer alguns exames a mais.

E a criança foi tendo uma evolução, foi piorando muito rapidamente. Chegando na Santa Casa tiraram a tala e tinha um inchaço do tornozelo que tinha sido contundido e o médico percebeu que a perna já estava avermelhando, e o primeiro pensamento é que poderia estar tendo uma erisipela, mas como a perna estava inchada, fizeram o procedimento correto de fazer uma ultrassonografia, onde foi constatado que a criança tinha um trombo na região poplítea da perna, que é mais ou menos atrás do joelho, e então pensou-se ‘é uma trombose venosa profunda’, e pensou-se que a dor no peito dessa criança, que já estava apresentando também além da palpitação, falta de ar, ‘pudesse estar apresentando um quadro agudo de embolia pulmonar’, então imediatamente os colegas providenciaram a transferência dessa criança para uma UTI pediátrica no hospital Padre Albino, na cidade de Catanduva.

E, lá, já constataram que além do vermelhidão na perna da criança, ela foi inchando cada vez mais e a criança começou a entrar em insuficiência respiratória e, se não me engano, foi colocada em ventilação mecânica, para ajudá-lo na respiração. E FOI CONSTATADO QUE A CRIANÇA TEVE UMA INFECÇÃO MUITO RARA QUE SE CHAMA PIOMIOSITE TROPICAL.

Pio é de pus, Miosite é de músculo e Tropical é um germe muito raro de provocar essa infecção, segundo informado pelo colega lá do Padre Albino, Dr. Antônio, chefe daquela UTI. A criança, apesar de não ter tido nenhuma porta de entrada, somente a parte traumatizada dos músculos e das veias propiciou essa infecção. É uma doença muito grave, muito rara, eu nunca tinha visto nos meus mais de 40 anos de profissão, e que infelizmente na maioria dos casos evolui para uma septicemia, que é uma infecção generalizada, e que na maioria das vezes leva o paciente à morte.

Dada à repercussão do caso, ontem (quarta-feira, 18) eu entrei em contato com o Conselho Regional de Medicina e relatei o caso, e eles vão proceder uma sindicância, para avaliar se desde o início do tratamento da criança, até o desfecho  de seu óbito, se houve em algum momento alguma falha ética de todos os envolvidos nos atendimentos à criança. Eu acredito que não, a criança veio na UPA várias vezes, passou por especialista e infelizmente teve uma evolução negativa.” (Com Planeta News)

PS: Uma busca na internet e a atenta leitura das causas, efeitos e consequências desta doença, nos permite observar que os sintomas primeiros em quem é acometido por ela, assemelham-se a dores musculares de distensão ou mesmo de torção ou fratura, o que pode ser o caso do garoto.

Ou seja, desde o início, os médicos poderiam estar tratando Pedro Henrique de algo que, absolutamente, ele não possuiria. Até que profissionais da vizinha Catanduva conseguiram o diagnóstico. Mas já era tarde.

Até.