Só para registrar um acontecimento no mínimo paradoxal, sem nenhuma conotação de crítica política, mas apenas de análise comportamental, esta semana pudemos tomar conhecimento de que um contingente de cerca de 400 mulheres esteve reunido em um amplo salão de convenções de um clube famoso da cidade para celebrar a candidatura de um homem.
Ok., os apressados vão questionar: “E qual o problema”? Nenhum. Ou todos, depende do ponto de vista de quem olha para a imagem. Era plena véspera do Dia Internacional das Mulheres e elas estavam lá unindo esforços para colocar alguém do sexo masculino na prefeitura.
Nada contra a escolha, a mulherada é livre para decidir o que quer da vida, o que quer na política, mas o registro é por conta da estranheza, mesmo, pois elas bem podiam estar ali para emprestar apoio a uma candidatura feminina, mesmo do União Brasil, não é plausível?
Repetimos, nada contra o nome do político que elas escolheram, mas tudo contra o comportamento antipautas identitárias femininas. Como elas podem exigir direitos, igualdades se colocam alguém do gênero oposto para cuidar dos seus interesses? Por mais boa vontade que tenham os homens, elas serão sempre plano secundário nas plataformas.
E os números indicadores da presença feminina nas eleições não são raquíticos. Vejamos: “Olímpia possui 43.594 eleitores. Desses, 48% são mulheres, o que equivale a 20.811 do sexo feminino. Na Câmara Municipal, dos dez vereadores, apenas duas são mulheres, Edna Marques, também filiada ao União Brasil e outra (Cristina Reale), atualmente afastada (e titular da pasta de Assistência Social). Precisamos aumentar o número de mulheres na política”. Quem disse isso foi Ana Claudia Casseb Finato Zuliani, presidente do União Brasil-Mulher da Estância Turística de Olímpia.
E esta não é só uma realidade de Olímpia. A mulher é maioria em tudo, até espanta que aqui elas sejam em menor percentual atualmente, já que até então ocupavam um percentual acima dos eleitores homens. Eram mais de 50%. De qualquer forma, com toda essa informação, a mulher ainda segue como uma fiel escudeira do homem-político, quando ela mesma poderia ocupar estes espaços, quem sabe até para reclamar menos.
Vejam só, eram 400 mulheres, segundo a assessoria do pré-candidato Geninho Zuliani. Não podemos nos furtar de enaltecer a capacidade de arregimentação do candidato e das mulheres em seu entorno. Foi uma movimentação e tanto, não se pode negar. E aqui não se está fazendo a crítica à ação em si, pois ela é do interesse do candidato e de sua “pré”-primeira-dama, que tem um milhão de amigas.
Mas, também não se pode ignorar a sensação de estranheza que esse fato traduz, pois ele é muito mais indicador da falta de consciência política da maioria das mulheres do Brasil, do que de uma decisão deliberada de “escolher o melhor candidato”, aquele que vai “tratar dos nossos interesses”, cuidar “das aspirações femininas por reconhecimento no trabalho”, por “igualdade de condições e de salários”, e assim por diante.
A intenção aqui é só a de jogar luz sobre um obscuro paradoxo, porque se incomoda tanto às mulheres a hegemonia do macho, e contra essa situação é a sua luta constante, não faz sentido que, de sã consciência, tantas delas deixam de lado as bandeiras femininas e passem a desfraldar as bandeiras masculinas, avalizando a hegemonia do homem à frente de seus interesses.
Como dito lá em cima, há duas mulheres hoje na Câmara de vereadores da Estância. Uma afastada, deve retornar na desincompatibilização. Quantas terão na próxima legislatura de 13 cadeiras (hoje são 10). Qual será o espaço reservado a elas nesta mesma seara à qual deram volume, importância e viabilidade?
Diz a Lei Eleitoral que têm que ser 30% do total de nomes (“Todas as legendas têm a obrigatoriedade de respeitar o percentual mínimo de 30% e máximo de 70% para candidaturas do gênero feminino ou masculino“, diz o TSE). Ok., quantos nomes masculinos haverão? E quantas, entre as mulheres se disporão a ser candidatas? E quantas se elegerão? E qual será a política de fortalecimento das eventuais candidaturas femininas dentro das legendas que comporão a coligação?
Porque dentre 400 mulheres, é de se supor que será uma verdadeira “escolha de Sofia” por nomes interessados em concorrer, dados os tantos bons nomes teoricamente à disposição. Espero que tenham entendido o sentido que se quer dar aqui ao tema.
Fazendo um exercício mental insólito, estas 400 mulheres, se de fato forem militantes desta causa genista, e se decidirem por dar maioria feminina para a Casa de Leis, basta que cada uma delas arregimentem 20 votos em nome das candidatas mulheres.
Fazendo uma conta simples, talvez 70% dos votos sejam válidos em outubro, o que daria, para arredondar para cima, cerca de 2,5 mil votos para cada cadeira. Em tese, elas então terão arregimentado em torno de 8 mil votos. Façam as contas. Aliás, com esse montante poderiam até colocar uma candidata majoritária em condições de briga.
É claro que o parágrafo acima é puro delírio de um velho caduco, podemos dizer assim. Porque também, parece, a mulher é inimiga de si mesma. Mas, não se preocupem, estas linhas são mero fruto de um sentimento de perplexidade diante do comportamento feminino frente à política.
O acontecimento de quinta-feira foi só um recorte do que acontece por todo o Brasil. Recorte que nos autoriza a fazer essa reflexão livre e, espero, clara o suficiente para que ninguém venha me acusar por comportamento misógino. Deus me livre, cruz-credo!