Blog do Orlando Costa

Verba volant, scripta manent – ANO XVI

Mês: novembro 2020

Eleições concluídas, olhos voltados para 1º de janeiro

Passadas as euforias pós-eleitorais, embora uns e outros ainda remoam suas mágoas absorvidas aqui e acolá, é hora de voltarmos nossas atenções para as possibilidades dos acontecimentos no prédio da Aurora Forti Neves, onde a partir de 2021 sete novos edis tomarão posse, mesclado com três reeleitos.

Os partidos coligados com a candidatura à reeleição de Cunha fizeram sete cadeiras, sendo três do PSD, duas do DEM, uma do MDB, e uma do PODEMOS, enquanto a candidatura Pimenta, do PSDB, fez uma, e a candidatura Flavinho Olmos, outras duas, com o Progressistas e o Solidariedade.

Assim, a correlação de forças na Casa de Leis já está definida, sem problemas futuros para o alcaide. Surge, então, a questão da formação da Mesa.

E, não se iludam, por mais discursos que façam invocando a independência entre os poderes, que também são harmônicos entre si, a Mesa Diretora da Câmara será aquela que o prefeito quiser que seja.

E se nela estiver algum dos vereadores não eleitos por sua coligação, então alguém terá se rebelado entre os pares, para ter a sua Mesa. Mas quem, dentre os eleitos pela chapa vencedora, teria esta coragem política? À primeira vista, não dá para vislumbrar ninguém.

Inútil, nesta situação, torcer o nariz, porque o Executivo sempre teve ingerência na formação das mesas diretoras da Câmara, perdendo raríssimas vezes. Porque, no mais das vezes, até quando tinha minoria na Casa, o alcaide de turno acabava virando o jogo.

E como todos conhecem o caráter centralizador do prefeito Fernando Cunha, que aprecia ter todos ao seu dispor, aquela Casa jamais terá uma Mesa que não seja aquela que contemple seus interesses administrativos.

Nesta gestão que termina, Cunha não teve muito sucesso em seus intentos na primeira Mesa formada, embora tenha dito algumas vezes que foi ele quem ajudou a formá-la -entenda-se arrebanhou votos para Gustavo Pimenta, a fim de impedir a ascensão ao cargo daquele que depois foi seu principal adversário no pleito eleitoral, Flávio Olmos.

Na segunda gestão Legislativa (a Mesa é formada de dois em dois anos) novamente a articulação para evitar Olmos e até Hélio Lisse, que andou fazendo suas tratativas, levou à Direção da Casa o vereador, hoje saudoso, Antônio Delomodarme, o Niquinha, o que provou-se depois, ter sido um enorme equívoco, um tremendo erro de perspectiva.

Mas não do ponto de vista dos interesses do alcaide, que teve todas as suas proposituras pautadas e aprovadas, quase sempre com nenhuma dificuldade. Para ter esta tranquilidade, no entanto, teve que voltar atrás quanto a não aceitar na formação da Mesa, “gente do deputado Geninho”.

Enfim, são histórias.

Uma outra começará a ser escrita na noite do dia 1º de janeiro de 2021. Após a posse dos vereadores, que darão posse ao prefeito e vice (todos devem ser diplomados no dia 17 de dezembro), será então a hora da formação da Mesa Diretora.

Não deverá haver surpresa quanto ao espectro político a formá-la. Todos os quatro membros sairão da coligação de Cunha. O detalhe será o movimento das peças do jogo com resultado já sabido. As peças a serem mexidas estão dentro do tabuleiro de Cunha, não haverá necessidade de nenhum gambito.

Se houver, este será Sargento Tarcisio, do MDB, eleito com 823 votos. Mas, fumaças emanadas dos bastidores da campanha eleitoral mostram que nem tudo foram flores entre o alcaide e o eleito.

E o leitor pode fazer sua aposta quanto a quem será o presidente: Zé Kokão, do PODEMOS, com seus 1.236 votos? Fernandinho, do PSD, com seus 1.200 votos?

Porque Cristina Reale, atual presidente, também do PSD, com seus 1.130 votos, e Hélio Lisse Júnior, também do PSD, eleito vice-presidente, com seus 993 votos, dificilmente tomarão posse do leme legislativo em 2021.

A menos que queiram se rebelar. Mas, não vemos coragem política suficiente.

O deputado Geninho pode articular para que um dos seus dois eleitos, Márcio Iquegami, do DEM, com 1.156 votos, ou Edna Marques, idem, com seus 943 votos, assumam a cadeira de presidente? Pode. Mas não é crível.

Especulações dão conta de que seu interesse mais imediato seria conduzir dois suplentes à cadeira de vereador: Guegué, com 803 votos, e Salata, com 489, nesta ordem de suplência.

Por isso fala-se tanto em assunção de secretarias por dois eleitos: Iquegami e Edna Marques. O primeiro para a Saúde, a segunda para Assistência Social. Porém, o clamor público contrário a esta solução está muito forte, e ambos os eleitos tiveram seus votos sob a premissa da representatividade legislativa.

Seria um tapa na cara da sociedade, como se diz. E a possibilidade de subir os outros dois primeiros colocados em sua coligação para secretarias, pode desassisti-lo no Legislativo.

No mais, é esperar para ver. Mas, não esperem nenhuma surpresa. Nada fugirá muito do que relatamos. A menos que haja, repito, uma rebelião. Mas, repetimos também, não se vislumbra coragem política suficiente entre os possíveis protagonistas.

PS: Alessandra Bueno, do PSDB, teve 824 votos, Lorão, do PP, recebeu 475 e Sargento Barrera. do SOLIDARIEDADE, 427 votos.

Agora, só o futuro interessa; política é o amanhã, a nuvem

Não foi um pleito normal. Foi uma disputa onde as entranhas ficaram expostas. Todo mundo saiu ferido nesta contenda. Sim, uma contenda. Beirando às raias do absurdo. Do surreal.

Confesso que, ao longo da minha vivência em pleitos eleitorais na cidade, jamais presenciei tamanho mar de ódio espraiando para todos os lados, uma mistura de surrealidade com realidade virtual, um campo minado de onde todos saíram chamuscados. Até eleitores.

Sem guardar proporções devidas, a Estância Turística de Olímpia viveu dias de currutela, de curral eleitoral, de coronelismos, de sabugismos à solta e descaradamente manifestos, até por figuras que, a grosso modo, seriam inimagináveis envolverem-se em situações análogas.

Foi triste. Muito triste.

Foi um pleito tão absurdo que curiosamente, quem ganhou não comemorou de espírito aberto, mãos estendidas à conciliação. E quem perdeu, parece, se deu por satisfeito com o balaio de votos que recebeu, calculando o nível de dificuldades da campanha.

Na semana passada, postamos um comentário neste blog que bateu o recorde absoluto de leitura, cravando mais de 1.330 acessos diretos, além dos milhares na página do blog no Facebook, e outras centenas na página oficial deste que vos escreve, onde dissemos que o candidato vencedor tinha a responsabilidade de, além de vencer, “matar no ninho” uma promissora liderança política futura.

Embora seus quase 60% do total de votos válidos, o vencedor não conseguiu tal façanha. Porque o oponente mais direto ficou com 34% do contingente votante. É o limite mínimo que faz florescer o ânimo do político para continuar na luta.

Não sofrerá nenhum desgaste, porque não estará na berlinda, não será vidraça e, em tese, pode fazer política por quatro anos ininterruptos. A tendência, nestes casos, é a do político aumentar seu cabedal de votos, na medida em que o detentor da cadeira principal for se desgastando perante a opinião pública.

E, para tanto, não precisa ser um prefeito ruim. É o chamado desgaste natural da função. Na casa aí dos 30%, 40%, dependendo das ações e também da comunicação que mantiver com seus administrados.

Mas, é preciso lembrar que, em quatro anos, haverá a necessidade de nomes novos, na campanha à prefeitura. Tanto o vencedor quanto seu principal escudeiro, o deputado, terão que usar da imaginação ou buscar dentro de seus grupos, um nome forte, “saído do nada”, para representá-los.

E de onde virá? Da Câmara, por ora, difícil vislumbrar alguém, embora entre os eleitos haja quem poderia fazer boa figura, dependendo de suas posturas no Legislativo.

Das hostes do vencedor, fora da Câmara, difícil imaginar quem, já de antemão. Do quadro político local do deputado dois já foram defenestrados, mas, como disse acima, há nomes ligados a ele no Legislativo que poderiam fazer boa figura.

Embora necessário, trata-se, este, de um exercício do pensamento político ainda bastante precoce.

Mas já disse em análises anteriores, a política não é o hoje, não é o ontem. A política é o amanhã. É a nuvem que se transforma ao sabor do vento. É a seara onde a correlação de força pode sempre mudar.

Findas as eleições, feitas as escolhas para Executivo e Legislativo, agora só o futuro interessa. É importante que todos estejamos preparados para ele.

O menino sorveteiro e a oligarquia estancieira

Três resultados poderão advir amanhã após a votação dos olimpienses em seus candidatos preferidos, mas analisando aqui somente os dois com mais possibilidades de chegar lá: Cunha vencer por margem mínima de votos, vencer por esmagadora maioria, ou perder o pleito.

No sentido contrário, o que pode acontecer a Flávio Olmos é perder por poucos votos, perder por muitos votos ou ganhar o pleito. Se ganhar, Olmos não o fará por margem muito grande de votos. Isso é certo.

Mesmo porque o contrário seria acontecimento fenomenal. Seria, pois, uma vitória apertada, dadas as circunstâncias.

Cunha tem a possibilidade de ganhar por margem grande, embora o clima não aponte para isso, devido ao fato de gozar de uma estrutura eleitoral que só o dinheiro pode proporcionar.

Esta foi uma campanha barulhenta por conta das redes sociais e de alguns acólitos, até coleguinhas, mais estridentes. Foi também a campanha do desamor, da falta de empatia e do acolhimento.

Foi violenta numa certa medida, e desrespeitosa em certos nichos. E, não restam dúvidas, foi uma campanha de todos contra um. Aquele que negar essa máxima, não estará lidando com a verdade.

Convencionou-se chamar de “gabinete do ódio” um emaranhado de pessoas que, no afã de emprestar seu apoio incondicional ao candidato que apanhava de todos os lados, inundaram as redes sociais.

Mas pouparam desta classificação o lado que melhor estruturou seu “gabinete” para atacar os oponentes via WhatApp, estrutura essa formada com personagens que ao longo dos últimos quatro anos gozaram das benesses de belos cargos comissionados para si ou para familiares, e que a tudo se submeteram para não perderem a, digamos, “boquinha”.

Inventaram um debate suspeito desde o princípio, onde a maior aposta era que o candidato Flávio Olmos não compareceria, para que daí pudessem atirar pedras com a ferocidade e a liberdade conivente de autoridades as quais todos vimos.

Felizmente as comunidades católicas vieram resgatar a dignidade de eventos como estes, em que o que mais interessa são as posturas, os feitos e os compromissos dos candidatos, não a oportunidade de produzir sensacionalismos.

No mais, as redes sociais ocuparam o centro das atenções e nela, prevaleceu a experiência neste tipo de meio de informações, e desinformações à larga.

Mas as redes não são suficientes para determinar quem ganha e quem perde uma eleição. Neste aspecto, as ruas são fundamentais. O contato, o aperto de mão, o abraço e o olho-no-olho.

E no fim o julgamento popular. Este possui várias e multifacetadas nuances. Tudo pesa, tudo conta, e um detalhe mínimo pode determinar quem vence e quem perde.

Dentro das hipóteses aventadas na abertura deste comentário, caso prevaleça a derrota do atual prefeito que busca a reeleição, ainda que seja por margem mínima de votos, Olmos terá vencido não só Cunha, mas toda uma oligarquia de poder arraigada nesta Estância Turística.

Será um feito e tanto para quem chegou “ontem” à política olimpiense. Mostraria arrocho e senso de oportunidade ainda maiores que do atual deputado federal, Geninho Zuliani, que em 2008 arregaçou as mangas e foi à luta, agregando aqui e ali, e chegando lá.

Neste domingo Olmos pode repetir a história, e não como farsa, o que é muito importante frisar.

Estão em disputa o arrojo e juventude, contra o establishment de quatro anos, representativo da política de caciques, tabas e tabaques. Será um feito e tanto, acreditem.

O que se espera, neste caso, é que no futuro próximo não sucumba às facilidades oferecidas pelo status quo político vigente e volte às velhas fórmulas, negando a si mesmo o direito à indignação pelo desrespeito público e os ataques à sua imagem, construída a duras penas, como fez o atual deputado federal.

Na outra seara, a da vitória de Cunha, se ela for por muitos votos de distância, nem assim estará consolidada sua marca de bom administrador, coisa que não foi, mas estará cravada a força da grana que destrói coisas belas.

Se ganhar por uma margem mínima, endossará o que dissemos acima do candidato opositor mais forte. Além do que, o tornará “a” opção para 2024.

Portanto, Cunha tem a dura missão de ganhar uma eleição e “matar no ninho” uma forte promessa para anos vindouros. Não poderá ser pífio desta vez.

Mesma obrigação do deputado Geninho, que com certeza, em seus mais recônditos pesadelos, deve se ver refletido no menino sorveteiro. E que por isso fez a escolha que fez.

Ademais, salvando-se da hipótese da chamada “grande lavada”, mesmo perdendo, silogismos à parte, Flávio Olmos terá vencido esta eleição.

Olmos, portanto, é a esperança, de si mesmo, diga-se, enquanto Cunha é o que aí está, e que funcionou até agora de forma aquém do que a cidade necessitava, e sem o arrojo e a disposição do seu antecessor, de quem passou quatro anos terminando obras.

Enfim, amanhã o povo tem nas mãos o mais forte dos poderes, aquele que pode mudar ou ser a repetição do já visto. Tanto no Executivo, quanto no Legislativo, pois os dois poderes se completam. Para o bem ou para o mal.

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