Blog do Orlando Costa

Verba volant, scripta manent – ANO XVI

Tag: 55º fEFOL

FESTIVAL DO FOLCLORE, UM PAINEL DE GENERALIDADES

Que nunca se deixem assoberbar os organizadores do 55º Festival do Folclore da Estância Turística de Olímpia. Que não se rendam facilmente aos elogios, que não se deixem levar pela ignorância de quem acha o belo fundamental para o sucesso do evento. Estes hão de passar. Porque a beleza verdadeira do festival olimpiense é essencialmente imaterial.

Por ora, todo trabalho feito pela Comissão Organizadora e a Secretaria de Cultura, não pode ser classificado como manifestação de apreço às nossas mais autênticas raízes.

Parece-nos, aliás, haver um certo constrangimento em certos envolvidos, de mostrar aquilo tudo a que o Festival está destinado, por conta de que o brasileiro médio tem vergonha de se ver como parte, como originário daquilo que se mostra a ele durante a festa.

Espera-se que, para o ano que vem, ou para edições mais adiantes até –uma vez que a pouca atenção dispensada a evento tão importante em nível de Brasil vem de muitos anos– haja uma volta à profundidade que o Festival anseia, conscientes de que o Fefol não deve ser só danças no palco.

Aliás, mestre José Sant’anna quem dizia sempre, que as apresentações no palco eram o apogeu dos dias de Festival. E assim deve ser encarado se quisermos despertar novamente o interesse de pesquisadores, estudiosos, ou mesmo de curiosos em busca de informação e conhecimento. E só as danças não suprem esta característica.

Já não é de hoje que a grande preocupação no entorno da festa tem sido quantos grupos foram contratados, que grupos foram contratados, que grupo nunca veio, que grupo virá de novo, quantos folclóricos, quantos parafolclóricos, assemelhando-se a uma “maratona de quem conhece mais e melhores grupos”.

A seleção criteriosa de participantes é importante, mas não deve ser a única e principal preocupação, como se tem notado. Hoje, as atrações cênicas mais se aproximam do teatro musicado do que da representação folclórica necessária e sempre priorizada por Sant’anna quando da escolha dos parafolclóricos.

Se antes tais grupos faziam o chamado aproveitamento do folclore para elaborar suas coreografias e danças, hoje fica a impressão de que tais grupos fizeram, na verdade, uma apropriação cultural do folclore e o usam da forma que lhes parece mais conveniente e quanto mais livre das amarras da origem melhor.

Então, o perigo que se impõe à nossa festa, é o da superficialidade, é o da ideia de que palanque basta e as programações constantes de todos os anos idem como símbolos de sua perenidade. Mas, que tal a preocupação com o aprofundamento disso tudo?

O Fefol foi forjado para que Olímpia se tornasse um foco de resistência cultural ao longo do tempo e suas mudanças, mas temo que não tenhamos resistido à força do moderno, pois caminhamos celeremente para nos tornarmos um painel de generalidades.

Hoje percebe-se um distanciamento maior, uma teatralização maior (no que o teatro tem de livre representação), um colorido às vezes absurdo, exagerado, não contando os elementos novos incorporados, sabendo-se que para alguns deles, com certeza, Sant’anna faria muxoxos e “rabo-de-olho” para quem estivesse do seu lado.

Ele não admitia heresias. Grupos deixaram de ser chamados ou vieram apenas uma vez e não mais por conta disso.

Não se faz aqui análises fáticas sobre a edição deste ano do Fefol. Melhor fazer esta “cobrança” por profundidade maior, já que é quase consenso ter tido esta edição resultados positivos no que diz respeito ao seu aspecto de festa, propriamente dito.

Porém, cada “está lindo” ouvido, naturalmente faz surgir uma pulga atrás da orelha daqueles que ainda hoje sentem ressoar no âmago as palavras do mestre no sentido de que o festival era uma festa antes para a alma. Estamos mergulhados, este ano, em uma festa para os olhos –Antes ver com a alma!

No aspecto estudos, discussões, debates, troca de conhecimentos e culturas, transmissão do ideário folclórico, porém, fica a desejar. Não é culpa dos organizadores de agora. Esta situação vem num crescendo que, esperava-se, caminhasse para um fim.

Mas, a considerar o esmero com que foi tratado o lado festa do Festival, o lado visual, do brilho, o lado “lindo”, este desejo torna-se um sentimento inócuo.

VEM AÍ O 55º FEFOL: NOSSAS ALMAS VÃO REAGIR?

O grande dilema dos nossos festivais de Folclore continua e será sempre um divisor entre “ser grande ou ser essência”, conforme já abordado neste blog tempos atrás. Vê-se que, de lá até então, nada mudou em relação a esta questão.

Entra governo e sai governo, entra ano e sai ano, entra festival e sai festival, todos no seu entorno se gaba de estar fazendo “o melhor isso e aquilo, disso e daquilo” pelo evento e coisa e tal. Ledo engano.

Nós, da comunicação olimpiense, estamos sempre fazendo a mesma crítica e cobrando de quem de direito as mesmas coisas, basicamente respeito e reverência ao fato. Mas a gente acaba percebendo que, salvo uma coisinha e outra, tudo sempre muda para pior. Ou no mínimo tende a ser uma mudança para pior.

Sempre após uma edição da festa, o que deve permanecer na memória e na alma das pessoas é a saudade dos sons, as canções, as danças, as cores, os ritmos. Embora algumas destas canções, em alguns momentos, soem como lamento.

Sempre se diz, também, que a partir daquele momento do encerramento da festa, já se começa a pensar na festa do ano que vem. Mas, se tudo não estiver na alma, na mente e no coração das pessoas, nada em torno do Festival poderá ser feito além.

Neste mesmo fim de festa, inclusive, os discursos mudam de rumo, passam a ser no sentido de reafirmar o compromisso da cidade, de seu povo e, principalmente, de suas autoridades políticas com a realização desta que é a maior homenagem do país ao povo brasileiro e suas raízes.

Aqueles que veem no Fefol fonte de cultura e conhecimento, aqueles que têm no Fefol os seus momentos de recordações, de feliz melancolia, aqueles que bebem a cada edição na fonte do saber, querem realmente isso.

Mas, infelizmente, percebe-se, a cada ano, que o público vem caindo vertiginosamente. Neste terceiro ano do atual governo espera-se que haja reação, o que duvidamos.

Enquanto isso, permanecem bastante atuais os dilemas postos aqui: o Fefol quer ser grande, ou quer ser essencial? E para ser grande implicaria, necessariamente, perder a essência? E, ao contrário, ser essencial implicaria em ser para poucos? Quem irá responder?

Por ora é preciso que os poderosos de plantão na cidade entendam que o Festival do Folclore tem uma função histórico-social, uma responsabilidade cultural que não se tem como medir em relação ao país e seu povo.

Um valor imaterial inominável. Falta esta gente compreender isso. Afinal, repetindo a mim mesmo, só se pode amar e respeitar aquilo que se compreende. Se não, a alma não reage.

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