Esta semana a Estância Turística de Olímpia foi sacudida por seu primeiro fato inusitado nessa ainda pré-campanha eleitoral. Digo inusitado porque, ao longo de minha longa trajetória enquanto ativista da mídia local e alhures, nunca tinha visto um candidato a prefeito tomar as vezes de um prefeito legitimamente no cargo e sair por aí tratando de tema afeito à gestão pública, como se gestor de turno fosse.

Sim, estou falando da “visita” feita pelo pré-candidato a prefeito do União Brasil, Geninho Zuliani, a deputados e ministério em Brasília, para tratar do assunto Aeroporto Internacional, que está prestes a ser concretizado na cidade. Diz o pré-candidato em sua postagem nas redes sociais e nos releases distribuídos à imprensa, que integrava uma “comissão” para tratar do tema. Veja o texto:

“Com apoio dos deputados federais Fernando Marangoni e Luiz Carlos Motta, nos reunimos nesta terça-feira, com o Ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, para pedir celeridade na licitação do Aeroporto Internacional em Olímpia. Com R$ 104 milhões previstos, precisamos garantir que essa obra saia do papel ainda este ano. Nosso receio é que o governo efetue cortes no orçamento geral da União e o investimento no aeroporto seja suspenso e todas as tratativas perdidas. Seguimos em Brasília, conversando com outros órgãos para acelerar o projeto”.

Eu, do alto de minha significativa ignorância, pergunto: com que autoridade o pré-candidato se autonomeou representante legítimo do poder público olimpiense ou, mais diretamente, do prefeito Fernando Cunha? Está implícita aí uma tentativa de enfraquecer a voz de comando do chefe de turno frente a este assunto tão caro à sua gestão? Ou entendi mal?

Sim, porque quando ele diz: “Nosso receio é que o governo efetue cortes no orçamento geral da União e o investimento no aeroporto seja suspenso e todas as tratativas perdidas”, ele coloca em suspenso todo trabalho feito até agora, e que lá atrás, reconheçamos, teve sim um pouco de seu esforço enquanto deputado federal.

E ainda busca colocar em cheque a capacidade do gestor em manter de pé as tratativas já mantidas, perante a opinião pública. Justiça seja feita, houve um corte de R$ 52,29 milhões na cota-parte do Ministério dos Portos e Aeroportos no Orçamento deste ano. Mas, até agora não se ouviu falar de reversão nos R$ 104 milhões destinados a Olímpia. E a declaração do prefeito, que verão logo abaixo, tira qualquer dúvida que possa haver diante desta possibilidade.

Isso é golpe baixo. Intromissão indevida. Porque se não, vamos lá: até onde sabemos, Zuliani não representa ninguém a não ser a si mesmo, a esta altura dos acontecimentos. Ele não detém um cargo no município. Não detém um cargo qualquer que seja, em nível regional. Não detém um cargo em nível estadual ou federal. Não é mais deputado federal. O que é Geninho Zuliani hoje? Um político em busca de um cargo.

Um cidadão como outro qualquer, portanto, exceto pelos arroubos de autoridade que não mais possui seja em que nível for. E a cadeira de prefeito, que almeja tanto, ele ainda não alcançou. Assim, a nosso ver, soou muito, muito estranha esta movimentação junto a autoridades para tratar de assunto que não lhe diz respeito, pelo menos por enquanto.

Nos pareceu apelação, num momento em que o próprio prefeito Cunha trouxe novidades sobre o tema, conforme declarou no dia seguinte ao périplo de Zuliani pelos corredores políticos de Brasília.

Cunha confirmou em entrevista ao site de noticias Diário de Olímpia, na quarta-feira, dia 24, “que o projeto do aeroporto internacional da cidade está avançando, com os recursos já aprovados e não vetados pelo presidente da República, e que a Infraero já programou a primeira parcela do pagamento das obras para novembro próximo, sinalizando que, aprovando os projetos em andamento, a licitação esteja em ordem até setembro”.

Ou seja, a declaração indica que as ações em torno do tema continuam avançando, e não estão estagnadas como quer fazer parecer o pré-candidato.

E segue a entrevista: “Por outro lado, frisou Cunha, está sendo discutida em uma reunião em Brasília há dois meses com o ministro Alexandre Padilha (ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República), a ‘federalização’ da gestão do aeroporto”. O grifo é nosso. Para realçar a linha do tempo.

Mais adiante, em outro trecho da entrevista: “Sobre o financiamento, ele informou que os pagamentos estão programados para começar em novembro deste ano, com a expectativa de que a obra seja iniciada em setembro e concluída em 2026”.

Isso mostra o quão estariam adiantadas as negociações. O que caracteriza esta viagem de Zuliani como atitude de oportunismo político, para criar uma narrativa.

O que é preciso são programas e projetos alternativos aos que aí estão, caso entenda que não são importantes, fundamentais para o desenvolvimento estruturante da cidade. Porque imiscuir-se em projetos estratégicos e com andamento bastante adiantado, deixa transparecer que o pré-candidato estaria buscando agarrar-se a uma tábua de salvação. E que não teria propostas outras exequíveis para a cidade. E isso é perigoso demais.

Está certo que o ex-prefeito só tem coisas velhas para narrar em seu périplo pela cidade. Aliás, as más línguas andam dizendo que ele estaria conhecendo a Olímpia que deixou quando foi deputado federal, já que mal se elegeu bandeou-se para São José do Rio Preto. Onde, inclusive, buscava oportunidade para candidatar-se a prefeito.

É certo que batalhou e conseguiu muito recurso para obras e instituições da cidade, mas agora é focar na urbe que pretende administrar. Ficar posando de “estadista” invasivo em questões internas do governo municipal, sem ser o governo municipal, não contribui para o debate.

Claro que a esta altura muitos devem estar dizendo: “Deixa de ser chato, o cara só está querendo ajudar!”. Entendo. Mas é por ser chato mesmo que dedilhei estas mal traçadas linhas. Afinal, o que seria do mundo sem os chatos de galocha?