Existe uma cançoneta de domínio público hoje praticamente esquecida pelas crianças, que tem versos iniciais assim, salvo engano: “Se esta rua, se esta rua, fosse minha, eu mandava, eu mandava ladrilhar, com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante, para o meu, para o meu amor passar (..)”. A julgar pelo “relatório” da Secretaria Municipal de Obras, Engenharia e Meio Ambiente, de que o valor final do que foi feito na Rua Floriano Peixoto, cuja inauguração está marcada para dia 24 de junho, data do Padroeiro, não dá para imaginar que outro tipo de material foi colocado ali, se não brilhantes.

Informa a Imprensa Oficial do Município de hoje, sábado, 18, que de um orçamento inicial de R$ 826.124,63 – dos quais R$ 300 mil oriundos do Fundo Estadual de Recursos Hídricos-Fehidro, e os restantes R$ 526.124,63 dos cofres públicos, as obras de implantação de canalização de águas pluviais tiveram seus valores elevados para nada menos que R$ 5 milhões. Vou repetir: R$ 5 milhões! Diz a notícia, ainda, que esta dinheirama toda foi gasta nas “recomposições de passeio, guias e sargetas de casas e prédios comerciais que sofreram danos com a execução dos serviços”.

A obra foi de “instalação de novos sistemas de fornecimento de água e interceptores de esgoto no percurso da galeria, colocação de caixas de captação de águas pluviais – as ‘bocas de lobo’ -, reurbanização e novo sistema de iluminação da Avenida Brasil, além de recapeamento asfáltico e pintura horizontal das ruas naquela região”. Ou seja, enquanto fazia uma obra de R$ 826 mil, a empresa contratada dava um prejuízo aos cofres públicos de R$ 4.173.875,40. Isso se depreende da afirmação contida no próprio texto, reproduzida acima, de que o orçamento subiu estratosfericamente, porque os entornos da obra “sofreram danos com a execução”.

Parece piada, mas é sério, muito sério! As obras da Floriano Peixoto, todo mundo se lembra, são aquelas que só sairam do papel depois de cinco meses após licitadas (licitação aberta em 21 de setembro e encerrada em dezembro de 2010), e cuja empresa vencedora foi e Demop Participações. A obra, aliás, foi a primeira a ser ganha na cidade pela empresa-irmã da Multi Ambiental, no final de 2010.

O serviço foi executado, justiça seja feita, desde a “parte alta” da cidade (Jardim Cisoto), até a Rua Floriano Peixoto, no Centro II, um dos trechos mais problemáticos não só em dias de chuvas, porque nos dias quentes exalava mau cheiro das “bocas de lobo”. As obras começaram na Alameda Rui Barbosa, no Jardim Cisoto, próximo da Escola Estadual “Dr. Wilquem Manoel Neves”, desceram até a Avenida Mário Vieira Marcondes, seguiram em direção à Marechal Deodoro e passaram pela Silva Jardim, chegando em um dos pontos principais, que era a Floriano Peixoto, rua que corta a Avenida Brasil. Os tubos foram colocados até na Senador Rodrigues Alves, onde encontra agora a galeria existente que deságua no Olhos D´Água, na Aurora Forti Neves.

Grande e complexa a obra? Sim. Extensa? Também. Mas notem que tudo isso que foi explicitado acima estava dentro do orçamento inicial, e ninguém à época veio a público dizer que ele era insuficiente. o tempo, misturado a uma porção de inapetência da empresa executora, mais a demora insuportável na realização dos trabalhos, temperada com as paradas “estratégicas” e inexplicáveis dos serviços, é que teriam, então, feito o “bolo orçamentário” dali crescer em mais de seis vezes.   

Só para lembrar, este montante gasto naquela obra, representa mais de 43% do total estimado com as perdas provocadas pelas nefastas chuvas do dia 25 de fevereiro passado, em toda cidade. Não foi com pouca surpresa que recebemos informações via imprensa local de que os prejuízos por causa daquelas chuvas chegavam a R$ 11,5 milhões, segundo o secretário municipal de Obras e Meio Ambiente, Gilberto Tonelli Cunha. E olha que aquela estimativa última foi um hiper-super salto para cima, desde a primeira informação sobre os prejuízos, prestada pelo próprio prefeito Geninho (DEM), que falava em meros R$ 1,5 milhão.

Valor que saltou para R$ 2,5 milhões depois e, em seguida, na mesma semana, era inflacionado o balanço, estimando-se os estragos em “mais de R$ 4 milhões”. Por fim, os valores cresceram quase oito vezes, “depois de um levantamento mais criterioso”. Naquela fatídica tarde-noite de fevereiro, choveu na cidade 169 milímetros. Mas, parece que choveu muito mais, e anda chovendo ainda aos borbotões, boa vontade do prefeito em estimar custos.

E, tanto naquela ocasião como nesta, não há relatórios nem documentos comprobatórios dos gastos a serem mostrados? Áh, se tivéssemos uma Câmara Municipal….

Até.