Respiro aliviado. Termina aquela que foi talvez a mais sórdida campanha eleitoral de que se tem notícia no Brasil, superando a de 1989, quando Collor era o oponente de Lula, na primeira eleição direta para presidente depois da redemocratização do país. Votava naquela eleição pela primeira vez para presidente. E votei Lula. Sempre acreditei que as forças de esquerda neste país pudessem nos dar algo diferenciado, para muito além da chancela “esperar o bolo crescer para depois repartir”, anátema que atravessou os 30 anos do Governo Militar.

Veio o Governo FHC – aviso: votei Lula nas duas vezes – e nada de mudanças com bases populares. O fundamentalismo econômico da Era FHC mais ou menos repetia a velha máxima do “bolo”, mas, agora sob o disfarce da contenção da inflação, e o neoliberalismo comendo solto. Ao povo, nada ainda. Tudo bem, há os que defendem ser o Plano Real a base de sustentação de tudo o que se tem hoje. Discordo e sempre vou discordar, porque não se sabe quais diretrizes seriam dadas a ele por governos que não tivessem o viés social que teve o do presidente Lula.

Há sempre um fiundamentalismo na manga da camisa de qualquer governante da estirpe dos tucanos. E mais: duvido que o Plano Real, sob a égide de um governo qualquer – mormente tucano, tivesse alcançado os resultados que alcançou, e na proporção que alcançou. Nestes governos, haveria sempre um neoliberal de plantão. Porque o Plano Real não se faria sozinho. Não impulsionaria a economia do país por inércia. Portanto, vamos dar ao presidente prestes a sair do poder os devidos créditos, aliás, todos os créditos neste sentido.

E quando o presidente progressista Luis Inácio Lula da Silva começa a arrumar as malas e elege alguém de sua confiança para fazer com que o Brasil siga mudando, vale, como força de autoconvencimento, exatamente todas estas formulações acima. Quem poderia continuar o caminho traçado por ele? Alguém cuja linhagem já havia cunhado a fórmula conservadora de lidar com o social, ou alguém que, junto ao presidente Lula havia trilhado os caminhos que visam uma melhor distribuição de renda, com isso gerando consumo, com isso incrementando a indústria e os serviços, com isso gerando emprego, com isso criando na população a sensação de bem-estar que se percebe hoje, para onde quer que se olhe – até mesmo nos “ninhos” tucanos.

Muito bem, e o que se viu então? Lula tendo a coragem de colocar como figura na qual o cidadão pudesse fazer o julgamento de seu trabalho, uma companheira ex-ministra, ex-guerillheira, que já esteve presa, que foi torturada e, acima de tudo, uma mulher. Inimaginável, até então, para os padrões brasileiros. Mas foi assim que se deu. Vítima do preconceito, da misoginia mal disfarçada dos seus oponentes, e até da falta de respeito pela sua condição de mulher demonstrada “enes” vezes por seu adversário, ela teve força para lutar até o fim, sem esmorecer, e o Brasil se fez mulher.

E se os “bem informados, melhor esclarecidos”, porém inconformados eleitores do candidato derrotado baixassem um pouquinho o volume dos “canhões de Waterloo” que explodem em suas mentes, no silêncio que se faria talvez perceberiam o momento que estão vivendo no país, agora. E que amanhã poderão contar para seus filhos e netos. E os filhos e netos, poderão contar para os seus. Porque, com o barulho de suas próprias dificuldades em analisar a derrota, como um personagem de Stendhal*, eles não tenham percebido ainda que estão no meio da história.

* Do livro “A Cartuxa de Parma”, do escritor francês.

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RESPEITO É BOM
Hoje pela manhã, passeando por algumas ferramentas das redes sociais, pude perceber o quanto o inconformismo dos derrotados, quando estes não vêem propósitos em suas próprias escolhas, pode produzir pensamentos-monstros. Um indisfarçável viés reacionário brota dos comentários e pensamentos postados em blogs, sites, e espaços como Facebook e Twitter. Neste último caso, e nos dois primeiros, ainda há o benefício do contraditório, por meio ou de comentários ou de postagem de contestação.

No Facebook, no entanto, que tem se revelado uma espécie de “classe média” das redes sociais, não há tolerância. Comentários que desagradam são simplesmente apagados, porque ali não há, ao que parece, disposição para o diálogo, para o debate que proporcione troca de conhecimentos e opiniões. Parece mais, o Facebook, rodinhas de amigos classe média em frente o condomínio bem situado, altas horas da noite. Ou reunião de amigos afins para discutirem…o nada. Talvez, quando muito, trocarem impressões vazias.

Ali foram depositados no dia de hoje, logo pela manhã, comentários os mais desairosos contra a agora eleita presidente do Brasil, Dilma Rousseff. Até foto inadequada andaram usando. E linguajar pior ainda. E o pior é ver pessoa dizendo, simplesmente: “Gente, a eleição já passou, vamos falar de outros assuntos”. Talvez, quem sabe, voltem a falar de eleições, nas próximas eleições. E lá, estarão a repetir os mesmos chavões, as mesmas “linhas de pensamento”, tendo as mesmas atitudes conservadoras e os mesmos rasgos de intolerância contra aquele que não fizer parte da “onda” que sustentam. O fascismo começou assim.

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VOTOS
A candidata Dilma Rousseff, eleita presidente da república com 56.05% dos votos na noite de ontem, domingo, 31 – 55.752.092 -, obteve em Olímpia 11.262 votos (40.91%), 2.374 votos a mais que no primeiro turno, quando recebeu, coincidentemente, 8.888 votos válidos (31.97%). Seu oponente, José Serra, recebeu 16.268 votos (59.09%), 1.784 votos a mais que no primeiro turno, quando havia recebido 14.484, ou 52.1%. Como se pode ver, Dilma recebeu mais votos “novos” que Serra no 2º turno. Já as abstenções, ao invés de caírem, aumentaram. No primeiro turno, não foram às urnas 7.400 eleitores. Ontem, não foram votar 8.032 eleitores. Ou seja, mais 632 olimpienses desistiram do pleito.

Até.