Amigos do blog, vamos ter que começar a contar nossos mortos? Ou uma solução virá do Poder Público? Tudo o que está acontecendo é um fenômeno natural dadas as circunstâncias de momento envolvendo médicos e Santa Casa – a exaustão pela falta de resultado nas negociações – ou alguma outra força estaria empurrando as coisas para este nível de conclusão? A decisão dos médicos, sem dúvida, é sem precedentes na região e, acredito, em todo Estado. Médicos em greve? Quem um dia iria imaginar. Mas deve acontecer em Olímpia a partir do dia 19 de fevereiro, sexta-feira pós-carnaval. A decisão foi tomada depois de quase três horas de discussões, em que não houve acordo, por três motivos: a radicalização dos médicos, que se escudaram numa resolução – a 142/2006 – do Cremesp, que lhes dá o direito de receber no mínimo 1/3 do que recebe o plantonista de turno, ou seja, R$ 250 a cada 12 horas ‘trabalhadas’, e lhes autoriza a não aceitarem trabalhar sem a remuneração. Chamada de “lei áurea” por uma entusiasmada doutora favorável à paralisação, e de “lei da alforria” por outro profissional, este um pouco mais ponderado, mas igualmente a favor do que a maioria decidiria, o que resta dizer é que a categoria deu força de lei àquilo que é apenas uma decisão de foro interno do órgão que fiscaliza e regulamenta o exercío da profissão. Mas, há que se perguntar: tal decisão tomada, visando não ferir a resolução, não acaba por ferir a própria ética médica, por ir de encontro ao que preceitua o juramento feito por eles, médicos, ao receberem seus canudos? “(…) Em toda a casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução, sobretudo longe dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados (…)”, diz trecho do juramento de Hipócrates, o juramento dos médicos. Será que a “lei áurea”, ou a “carta de alforria” citadas pelos médicos tem a ver exatamente com este trecho do tal juramento?

SEGUNDO MOTIVO
Não houve por parte do Ministério Público nenhuma decisão, nenhuma palavra, nenhum apelo mais enérgico, nenhum movimento no sentido de fazer valer o interesse do cidadão comum, o povo, o pagador de impostos que, diz a Carta Magna, tem direito à saúde, que por sua vez, é dever do Estado. Demonstrou boa vontade o MP em intermediar e levar a discussão a termo, mas talvez não estivesse este mesmo MP revestido do poder necessário para fazer valer o interesse coletivo e não o de três dezenas de profissionais, que em última análise, teem responsabilidade sobre cada vida humana. Porque a primeira pessoa que vier desgraçadamente a morrer na porta do hospital por falta de um médico para atendê-lo, o mundo vai vir abaixo, com certeza. A secretária municipal de Saúde, Silvia Storti, observou para este blog que a responsabilidade será do diretor clínico da Santa Casa. Este blog responde que não interessa de quem será a culpa. Interessa é que pessoas poderão morrer. E como ficará a situação? Como reparar isso depois? Será que chegar aos familiares e dizer: “A responsabilidade é do diretor clínico”, vai adiantar? Vai confortá-los?

TERCEIRO MOTIVO
Faltou Poder Público na discussão. Fora as bravatas do prefeito Geninho (DEM), que na reunião de ontem ‘peitou’ os médicos, chegando a cobrar deles a responsabilidade pelas vidas humanas, pela saúde da população, chegando a dizer que estava “se lixando” para a resolução do Cremesp, que os médicos, se quizessem, podiam rever a decisão, aceitar os valores propostos e mais adiante discutir novamente a questão, nada mais ofereceu o alcaide ou sua secretária de Saúde, que a cada fala transformava o ‘conclave’ em algo parecido com um encontro político. O município, no final das contas, não desembolsou um tostão para ajudar a resolver o problema. Os R$ 37 mil oferecidos aos médicos formaram com doações da Açúcar Guarani – R$ 2 mil, Thermas dos Laranjais – R$ 10 mil, Unimed – R$ 10 mil, e a própria Santa Casa – R$ 15 mil,valores tirados da subvenção de R$ 65 mil correspondente ao pagamento dos serviços de pronto-socorro prestado pelo hospital ao município. Ou seja, cadê o dinheiro da prefeitura? E será ela, não tenham dúvidas disso os amigos, que irá arcar com o ônus seja financeiro, político ou social do problema. Ela, mais que o hospital, que é entidade filantrópica, tem sobre si a obrigação de garantir a vida do cidadão. No mínimo o bom atendimento em saúde. Afinal, ele, cidadção, paga por isso.

TEORIA DA CONSPIRAÇÃO
A menos que as suspeitas sejam verdadeiras. Ou seja, que o prefeito, mais sua secretária estejam querendo encampar o hospital, tocá-lo sob as expensas dos cofres públicos. Não é de se duvidar, porque até ex-provedor de hospital em seu ‘staff’ se encontra. A secretária se diz expert em SUS e coisas e tais. O prefeito se mexe bem entre as esferas de poder no Estado e na União, assim, obter emendas e verbas não seria problema, presume-se. Por isso, talvez, esteja forçando o golpe de misericórdia sobre a diretoria do hospital, com esta paralisação dos médicos. Mas, ainda se for este o jogo, não precisava o prefeito agir com tamanha truculência. Bastava esperar apenas mais 50 dias, porque no dia 31 de março expira o mandato da atual diretoria. E pronto, era só pegar as chaves e ser feliz. Não precisava o prefeito deste ‘circo’ todo. Por isso o blog prefere acreditar que esta tese não seja verdadeira. Mas, se for, age mal o Executivo e sua secretária que, de resto, ainda não deixaram claro porque alimentam este ranço, esta picuinha toda contra a provedora Helena Pereira. Que, apesar de dizer o alcaide não se lembrar, foi sua companheira de primeira hora quando das dificuldades encontradas para a formatação da chapa para concorrer às eleições municipais.

FECHANDO
O vereador Toto Ferezin disse ao blog que fica. Que não vai se afastar da Câmara, nem mesmo para seu necessário tratamento de saúde. O blog disse na semana passada que ele ia ficar 60 dias fora da Casa de Leis, tempo em que Marco Coca (PSB) assumiria a cadeira e votaria a favor do parecer do TCE pela rejeição das contas-2007 do ex-prefeito Carneiro. Mas, ontem à noite ele frisou: “Pode dizer lá que não vou me afastar da Câmara. Nem mesmo para fazer o tratamento de saúde que preciso”. Tá dito, vereador.