Eis o esquecido mito

Eis o esquecido mito

Amigos do blog, e lá vamos nós para as últimas horas do nosso mais importante evento, do mais importante evento do gênero no país, o Festival do Folclore – 45ª edição. Pena que poucos até agora atentaram para sua grandeza e principal função.

O que vai ficar desta 45ª edição? E o que deve ser esquecido? Impossível que alguém vá dizer que tudo correu à perfeição, que o objetivo foi alcançado e coisa que o valha, porque não será verdade. Houve uma tentativa – se verdadeira ou não se verá depois – de trazer a festa para mais próximo de suas origens.

Mas, o bordão do ‘resgate’ desgastou-se ao longo dos dias. Com a festa acontecendo, foi-se vendo as dicotomias, as idiossincrasias e as vicissitudes aflorando em cada canto, em cada palavra, em cada gesto. Os idealizadores da nova fase do Fefol acabaram por se trair. Condimentaram suas pretensões com a ardidez da reinvenção, a bem da verdade.

Não houve, até hoje, desde a morte do folclorista José San´tanna, em 1999, quem não arriscasse dar um palpite, fazer uma mudança aqui e acolá, um ajustezinho ou ajustezão, houve até quem chegou a falar em ‘vender’ a festa por meio dos cartazes de divulgação – santa heresia!

Com certeza, esta idéia jamais, em tempo algum, passou pela cabeça de José. Já vimos várias configurações e adaptações, tudo sob o manto do engrandecimento do evento, quando o que queria o folclorista era que tudo permanecesse como estava, aquele tamanho era o tamanho justo, aquela forma de fazer, a forma correta.

Quando o ‘barco’ da vida soçobrou para Sant´anna, surgiram os ‘descobridores’. Alguns se dizendo até ‘inovadores’, quando a mais prescindível na festa de José era exatamente esta abominável figura: a do ‘inovador’. E agora, chegada à 45ª edição, após 45 anos de difusão da cultura popular, exatos dez anos da morte do mestre, ei-los, às pencas, assumindo o leme da festa.

Já de cara, transformando uma brincadeira, na qual o prefeito entrega a chave da cidade ao mito Curupira, patrono, por decreto municipal, dos festivais de Folclore, em uma cerimônia católico-religiosa, quando, por definição de origem, a festa é ‘laica’ na concepção de Sant´anna.

Um laicismo onde cabem todas as correntes, todas as crenças, todas as religiões e por fim também todas as não-crenças, não-religiões. Estes ‘inovadores’ do Fefol foram longe demais. Radicais demais. E pouco afeitos ao diálogo que são, impuseram a toda gente seus métodos, suas vontades. Azar de quem não gostou, parecem dizer!

No jornal ‘Folha da Região’ deste sábado, o título da capa chama a atenção para o que seria uma desfiguração por completo do Fefol, que o jornal compara ao Fifol, aquele festival internacional que tivemos por alguns anos, e que não raro se houve dizer, foi a principal razão da infinita tristeza que manifestava o mestre, até sua morte.

Quanto a mim, não sei se chega a tanto. Mas é bom ficarmos atentos. Porque os ‘inovadores’ estão aí. E porque, também, paradigmas foram impiedosamente quebrados nesta edição da festa. A começar pela ‘desconstrução’ arquitetônica no entorno da arena do Recinto. Interesses inconfessos. Mentirosas justificativas depois.

E como observa o jornal, a estátua do mito, na porta do Recinto, parece se preparar para fugir. Ao invés de estar voltado para o interior da Casa do Folclore, a sua casa, está voltado para o portão de entrada, como a querer sair.

A estátua cresceu, se agigantou, a bem da verdade. Triste será decobrir depois que ela terá ficado maior, muito maior que esta edição do Fefol.