Olímpia acaba de receber, de acordo com texto emanado pela assessoria do prefeito Cunha (PR), “selo internacional inédito” de Turismo Sustentável da ONU.

Diz o texto que a cidade “foi certificada, neste fim de semana, como o primeiro destino brasileiro a receber o selo do ano internacional do Turismo Sustentável da ONU (Organização das Nações Unidas) em parceria com a OMT (Organização Mundial do Turismo)”.

Diz ainda o release, que “a certificação foi concedida pela Revista Ecoturismo, o primeiro veículo de Turismo Sustentável do Brasil, que trouxe o município de Olímpia como capa da edição de abril, com o subtítulo Uma Cidade em Destaque e Desenvolvimento.

E daí?

Primeiro, a que se questionar o valor a se dar a este selo. Com que base foi escolhida Olímpia para receber tal selo? Que tipos de pesquisas foram feitas? Que especialistas foram encaminhados para cá a fim de levantar as potencialidades eco-sustentável-turísticas da cidade?

Sim, o blog “gugou” e obteve a confirmação de que a Organização das Nações Unidas de fato proclamou 2017 como o “Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento”, em reconhecimento ao grande potencial da indústria do turismo, que responde por cerca de 10% da atividade econômica mundial, em contribuir para a luta contra a pobreza e promover a compreensão mútua e o diálogo intercultural, temas centrais da missão da UNESCO.

Perfeito. Todos sabemos o quão sérios e preocupados com a habitabilidade do mundo são estes órgãos internacionais.

O presidente da revista diz que “a escolha de Olímpia se deu pela forte ação empreendedora do município, que é um ‘case’ de sucesso do turismo mundial”. Onde está o “sustentável”?

A que se perguntar se isso não é muito pouco para se obter um selo desta envergadura. E a revista, em si, dá a impressão de focar seu trabalho mais em cima da divulgação de municípios turísticos e exploração de suas potencialidades comerciais, do que propriamente um veículo de bases, digamos, “científicas”.

Exemplo de ferramenta científica, neste aspecto, é uma revista eletrônica com nome similar ao desta, a Revista Brasileira de Ecoturismo (RBEcotur), uma publicação eletrônica trimestral produzida pela Sociedade Brasileira de Ecoturismo (SBEcotur), criada em 2008.

A revista que ora premia Olímpia com o selo da ONU, está indo para o seu 26º ano de existência, com circulação mensal, e cerca de 30 mil exemplares a cada edição, com circulação em todas as regiões do país e, diz seu expediente, internacional também (Europa, Mercosul e Estados Unidos).

O release da prefeitura, infelizmente não traz nenhum outro dado que não seja a noticia em si de que a cidade fora agraciada com este selo. Pesquisando, descobre-se que o principal objetivo do selo é destacar o potencial do turismo para o desenvolvimento econômico sustentável, a geração de empregos, redução da pobreza, proteção ambiental, defesa do patrimônio cultural, entre outras estratégias.

Daí surge a outra pergunta: tudo isso foi levantado em Olímpia? Por quem? Quando? Com que critérios? A revista eletrônica similar que citamos acima, por exemplo, tem como eixos temáticos o Ecoturismo e Educação Ambiental; Planejamento e Gestão do Ecoturismo; Manejo e Conservação dos Recursos Naturais através do Turismo Sustentável; Ensino, Pesquisa e Extensão em Ecoturismo no Brasil e Ecoturismo de Base Comunitária.

São exemplos. Não quer dizer que a revista que nos agraciou com o selo da ONU tenha que seguir esta receita. Pode, claro, ter a sua própria. Mas apenas mostramos aos leitores que uma conclusão a que diz ter chegado a revista Ecoturismo, não tem lá um caminho muito fácil e rápido a ser trilhado.

E quando chega com a chancela da ONU e da Unesco, então, é de se dar valor incontestável. Mas, infelizmente, repetimos, o anúncio de tão distinta honraria, não se fez acompanhar das explicações, dos detalhamentos necessários sobre que critérios foram utilizados, que metodologias, o que constou do levantamento, o que foi levado em conta ou não. Antes disso tudo, quando foi feita tal pesquisa?

A leitura do texto publicado em sua edição 285, de abril de 2017, não nos leva sequer a entender um pouco mais sobre o que temos vivenciado na cidade ao longo destes anos de fortalecimento turístico do município, nem dá pistas de que algo diferente, seja jornalisticamente, seja “cientificamente”, foi feito.

O texto está muito mais para peça publicitária da cidade e sua pujança turística, com o necessário aporte comercial em cada página, do que propriamente um trabalho de análise profunda e independente. Cheio de lugares comuns, o texto repete aquilo tudo que já temos lido, visto e ouvido à exaustão.

A crítica aqui não cabe diretamente à atual gestão, nem à gestão passada. Seja Geninho (DEM), seja Cunha (PR), aquele que “endossou” tal trabalho da revista, com certeza estava imbuído da melhor das intenções.

Se não foi o município, mas, sim, as partes interessadas, quais sejam, Thermas e outros empreendimentos econômicos, também, da mesma forma, prezavam pelos seus interesses.

Ou, na pior das hipóteses, todos podem ter caído no canto da sereia, afinal não é todo dia que alguém surge “plantando” uma ideia com a chancela da ONU e da Unesco juntas. Ou, se foi uma iniciativa da própria revista, à revelia das instituições, com vistas ao comercial somente, tanto mais pior ainda.

Lembrando que um selo deste porte é sempre importante para quem depende da boa imagem alhures para se sustentar turisticamente. Mas, importante também é cobrar o tanto de seriedade necessária para se chegar a este fim. O cidadão, seja de onde for, que receber uma informação desta, precisará de imediato do material que a embasa.

Não bastasse isso, o conteúdo do tal Certificado, se bem observado, é bastante sofrível, com ausência de vírgulas, espaçamentos indevidos e extremamente sucinto e simplório para um prêmio desta envergadura.

No frigir destes ovos todos, alguém ficou devendo alguma coisa a alguém:  Ou a revista, que não forneceu seus estudos na íntegra, ou forneceu, e a assessoria de Cunha não viu importância em divulgá-los, ou não existe estudo nenhum. E aí surge a terceira pergunta: o tal selo tem o valor de face que os nomes a ele emprestados suscitam?

Aguardamos e deixamos espaço aberto a manifestações das partes interessadas.