Blog do Orlando Costa

Verba volant, scripta manent – ANO XVI

Mês: abril 2017 (Página 2 de 2)

POR QUE CUNHA NÃO DIZ LOGO: ‘A SANTA CASA É NOSSA’?

A diretoria provisória da Santa Casa, e o provedor Perroni (segundo da esquerda para a direita)

O prefeito Cunha e os representantes do hospital, assessores, presidente da Câmara, Pimenta, e o vice-prefeito Fábio Martinez (de costas)

Leio na imprensa eletrônica local que o prefeito Fernando Cunha recebeu, na tarde de ontem, terça-feira, dia 4, a nova diretoria da Santa Casa de Misericórdia de Olímpia. E que o encontro foi realizado na sala de reuniões do Gabinete Executivo.

Diz o texto oficial, emanado da assessoria do alcaide: “O objetivo da visita dos novos gestores foi de apresentar a diretoria ao prefeito para aproximar a relação entre o Executivo e a entidade a (em?) favor do único hospital da cidade.”

Segue o texto: “Durante o encontro, a diretoria expôs que pretende fazer uma gestão mais transparente e colaborativa, abrindo as portas da instituição para a população (PS; nunca tiveram fechadas, pelo que saibamos).”

E mais: “Na ocasião, o prefeito se colocou à disposição da instituição, cuja diretoria irá elaborar um raio-x do hospital e um plano de despesas. ‘A saúde é uma necessidade fundamental para qualquer cidadão. Sabemos que são muitas prioridades, mas estamos empenhados em também ajudar o hospital’“, teria dito Fernando Cunha.

Tudo muito bem ensaiado, mas cheira a ópera-bufa. O prefeito insiste neste personagem “isentão” com relação à Santa Casa, mas sabe-se, nas rodas, que não é bem assim, nem nunca foi. O ex-prefeito Geninho, por exemplo, foi mais sincero neste aspecto. Foi lá, tomou e pronto.

Cunha não. Cunha fica fazendo de conta que as coisas estão acontecendo naquele hospital, à sua revelia, que ele apenas acompanha de longe, como observador de uma entidade que leva uns trocados do Erário.

Mas a história é bem outra. Para longe do teatro mal interpretado por seus atores, o prefeito Cunha teve tudo a ver com o que aconteceu nestes últimos dias no entorno da Santa Casa. A começar pela renúncia intempestiva de Mário Montini, seu provedor, e sua diretoria, bem como a de alguns associados.

Contar aqui o que se passou nos momentos que se seguiram à renúncia, seria trair confidentes, embora não tivesse havido o compromisso de não publicar. Mas o que se pode dizer é que, malgrada a boa vontade intrínseca ou não dos voluntários, o prefeito Cunha passou por maus bocados. É o caso de se dizer que ele “suou frio” naqueles momentos, com direito a explosão colérica e tudo o mais.

Portanto, por mais que Cunha queira posar de observador nestas andanças hospitalescas, ele é o grande mentor de tudo o que aconteceu, e grande tutor de tudo que ainda vai acontecer por lá.

Se não, vejamos nas palavras do próprio chefe do Executivo: “Nossa intenção nunca foi tirar diretoria já que lá é autônomo. A diretoria que está lá não concordou com isso (valor do repasse, aquela “briga” inicial), aí inclusive eles estariam renunciando esta semana (ele disse isso uma semana atrás, a renúncia foi na quinta-feira) e a semana que vem, se isso se confirmar (sim, se confirmou) queremos uma nova diretoria na Santa Casa (observaram bem o “queremos”?). Deverá ser uma diretoria transitória, provisória, por cerca de 45 dias. Aí sim, ter uma série de associações novas  na Santa Casa e eleger uma diretoria definitiva daqui uns 45 dias, né?”

Quem, após dizer em público tais coisas, pode depois posar como alheio ao que está ocorrendo lá? Essa situação de apoderamento político da Santa Casa não é de agora, nem Cunha seu inventor. Mas ele poderia, pelo menos, demonstrar respeito ao cidadão, não insistindo em achar que todo mundo é bobão. Que todo mundo ignora o que está de fato acontecendo naquele hospital.

Enfim, que as coisas lá nunca vão se suceder sem que antes ele próprio tenha conhecimento. E que ele próprio dê o “ok” ou não. E la nave vá.

A DIRETORIA
A propósito, os nomes que compõem a diretoria provisória da Santa Casa são: provedor, Gustavo Mathias Perroni; gerente geral, Lillyane Albergaria Prado Novo; tesoureiro, Silvio Roberto Pelegrini, e 1º secretário, José Roberto Barossi. Além disso, o novo Conselho Fiscal foi formado com Alair Faria Oliveira, Lígia Faria de Lima Velho e Flávio Roberto Bachega.

ENQUANTO ISSO…
O vereador João Magalhães (PMDB) iniciou cruzada contra o posto de atendimento da Unimed na Santa Casa. Aquele posto ocupa espaço construído para ser o pronto socorro do hospital que, com a chegada da UPA, teria ficado sem função prática.

A Unimed fez uma proposta, a diretoria da Santa Casa aceitou e eles estão lá, já há quase quatro anos. Mas, agora que surge a ideia da instalação de um PS ao lado do hospital, o melhor a fazer é utilizar aquele espaço, ao que parece, que é bastante adequado e dotado de uma estrutura condizente com as necessidades.

Magalhães, por certo, segue roteiro traçado pelo Governo de turno, visando criar um clima no qual a instituição, de caráter privado, comece a se “coçar” e decida por si deixar o local. Ou virá nova intervenção “branca” por aí. Afinal, tem dinheiro público naquele espaço. A ver.

 

COMENTÁRIOS A RESPEITO DE CUNHA

O vice-prefeito, Fábio Martinez, e a secretária de Saúde, Lucineia dos Santos, ambos com a responsabilidade de impor soluções ao setor

“A saúde é o problema maior no país inteiro e em Olímpia também. Nós temos consciência disso e não aceitamos a qualidade do serviço que é oferecido para a população. Eu sei porque as críticas a gente houve. Eu converso com as pessoas. Meu vice, que é médico, está muito preocupado, está tentando ajudar a fazer o melhor trabalho possível. Agora, a saúde é cara e exige tempo.”

Adivinhem de quem são estas palavras? Sim, do prefeito Fernando Cunha (PR). Ele se defende da crescente onda de críticas que vem recebendo por não mostrar, até agora, atitudes concretas, ou pelo menos visível, no tocante a resolver o problema da saúde em Olímpia. Que a saúde é cara, todos sabemos. Mas não acham que a vida é muito mais cara ainda?

“Então, nós temos que ir mudando, por que nós também não podemos demitir todo mundo e contratar, nós temos que aproveitar quem está aí e ir substituindo.”

O problema é que não foi bem assim. Cunha chegou substituindo todo mundo de suas funções e cargos, chefias, diretorias, numa tacada só. E, claro, isso cria um problema gravíssimo de continuidade e desenvolvimento dos serviços. Há informações concretas de que tudo parou na Saúde pelo menos nos primeiros 60 dias. Se começou a andar, foi de 30 dias para cá. Mas não é isso que a realidade mostra.

“Em primeiro lugar, nós estamos preocupados com a UPA, que tem problemas de instalações, como a rede elétrica, problema com o ar condicionado. São coisas que parecem simples, mas são muito importantes para um bom funcionamento.”

Isso nem deveria estar contido no rol de problemas do Executivo com relação à Unidade de Pronto Atendimento. É o chamado “varejinho”, terá que ser repetido por várias vezes ainda, antes do término de sua gestão.

“Nós estamos fazendo uma mudança na direção da UPA. Nós testamos esses três meses a direção existente, e agora estamos trocando a direção para que reordene a administração da UPA.”

Vejam aí mais uma “mudança”. O grau de responsabilidade desta atitude reside exatamente nos resultados que advirão, vejam bem, em curto espaço de tempo, haja vista que a situação ali é de urgência-urgentíssima. A UPA não mudou um grão nestes últimos três meses. Se a solução, para Cunha, é mudar a diretoria, que seja. Espera-se os resultados.

“Também temos um problema sério na escala dos médicos que atendem lá. Esse médico que está assumindo, ele vai com  ‘carta branca’ para mexer na escala e selecionar os que vão atender na UPA.”

Todo mundo sabe que mexer em escala de médicos é como declarar a terceira guerra mundial. Todo mundo sabe como funciona o “organismo” do atendimento público em Saúde na cidade. Se esse médico-gestor que Cunha diz estar com “carta branca” vai dar conta do recado é o que veremos mais adiante. Porém, “colega” com “colega” sempre rola um corporativismozinho aqui, outro ali. O ideal, pois, não seria um técnico gestor não-médico?

Por fim, mais uma promessa, da qual vamos fazer o espelho da seriedade deste governo.

“Hoje, a capacidade de fazer exames, é de 248 por mês. Nós precisamos de 400 exames por mês. Se continuar assim, então todo mês vai acumulando 160 exames, e hoje nós temos, só de ultrassom, 2 mil exames para trás. Então, estamos contratando, através da Faculdade Unilago (de Rio Preto), setor de medicina, um reforço (de serviços), e vamos passar a fazer 720 exames a partir da semana que vem (ou seja, esta semana). Então, ao invés de fazermos 240, vamos passar a fazer 720 por mês, para poder fazer 400 (novos), não deixar aumentar tanto, e tirar 300 por mês de atraso que está aí.”

Ontem mesmo publicamos aqui que a burocracia do setor de saúde em Olímpia é o caminho mais curto para a morte. E este calvário começa exatamente na necessidade de exames diversos. Este último parágrafo da fala de Cunha, portanto, fica como apelo principal para que demonstre, de forma cabal, estar seriamente atacando a causa. E que as outras coisas, em tempo médio, sejam acrescentadas.

A BUROCRACIA NA SAÚDE LOCAL, CAMINHO MAIS CURTO PARA A MORTE

Sempre ressaltando que não se quer dizer aqui que neste aspecto piorou, melhorou ou está igual, é preciso insistir em que, a permanecer assim, o cidadão vai continuar sendo sacrificado e, no mais das vezes, tendo a vida abreviada. Falamos da burocracia no atendimento público em saúde na cidade.

Claro que alguém poderia argumentar: “É assim em todo lugar”. Ao que outro alguém poderia responder: “Mas eu não moro em todo lugar”. Sim, moramos em Olímpia, cidade que por acachapante maioria de votos elegeu um prefeito que prometeu resolver o problema crônico que a saúde sempre foi nessa urbe, eliminando seus gargalos.

E talvez o mais crítico e urgente deles seja o do atendimento burocrático, do tipo marcar consulta-ser atendido-pedir o exame-fazê-lo-obter o resultado-e continuar o tratamento.

  1. A consulta nunca se marca para tempo a seguir, a espera é sempre longa e aflita. 2) O atendimento, nunca se sabe se será a contento ou mesmo se o Dr. não estará de férias, doente, de ressaca ou simplesmente “muito ocupado” para estar lá agora. 3) Se atendido, havendo pedido de exame, a sua realização é para no mínimo 30 a 40 dias depois. 4) Feito o exame, a angústia fica por conta de quando se terá o resultado, e se se terá o resultado quando dizem que terá. 5) E continuar o tratamento implica nos ítens um e dois desta narrativa.

Exemplos não faltam. Como o de um senhor que veio da Bahia somente para fazer a revisão de um (…) e tinha que voltar em seguida e não podia voltar sem fazer a tal revisão. Resultado: Voltou sem fazer a revisão, mesmo depois de “chorar” muito para os atendentes.

Como ele, outros três a quatro pacientes tiveram a mesma “sorte”. Por quê? O técnico responsável “costuma atrasar bastante em seus horários ou às vezes nem aparece, e nem avisa”. Ou às vezes, está de férias.

Como foi o caso de outro paciente que foi buscar resultado de exame de sangue dentro do “a partir de 15 dias úteis” solicitado, até com dois a mais do prazo estipulado, e recebeu a seguinte resposta: “O médico está de férias, só volta em abril”. Ele pergunta: “Quando, mais ou menos em abril eu posso vir buscar”. Ela: “Não sei te dizer, porque quando ele voltar terá um MONTE de laudo para fazer antes do teu”.

Ou um resultado de Raio-X, com prazo estipulado para ser retirado e, chegando lá, o paciente ouve da funcionária apenas “ainda não está aqui”, após uma rápida passada de olhos pelas caixas em volta. Detalhe: o exame foi feito em fins de fevereiro. A procura foi em fins de março.

Mais um exemplo? Um exame aguardado por cerca de 30 dias, a pedido do médico que atendeu o paciente cerca de 40 dias após o agendamento. No dia de ser realizado, fins de março, o paciente tomou um medicamento inadvertidamente, e teve que adiar o tal exame. De 28 de março para 4 de maio! *

Certamente há outros e até piores exemplos, como os de pessoas em estado grave que não podem esperar, que lutam contra o tempo para preservar sua vida ou de um ente querido. Mas tem que vencer, antes, a infernal burocracia.

A pessoa precisa de um diagnóstico para fazer o tratamento. De imediato, precisa de uma receita, para saber que remédios tomar. Em seguida precisa do medicamento, para se tratar. Aí precisa realizar o exame que o médico prescreveu, a fim de saber o grau de sua enfermidade. Depois, precisa deste exame para levar ao médico. Para tanto, precisa ter uma data para que este médico o atenda. Atendido, com muita sorte dá inicio ao tratamento, efetivamente.

Quanto tempo terá se passado, entre o diagnóstico e o efetivo início do tratamento? No mínimo meses, às vezes ano. Casos de pessoas que faleceram antes que o desafortunado paciente cumprisse uma destas etapas tem aos montes, infelizmente.

Portanto, ainda que a situação seja igual em qualquer lugar, por aqui ela pode ser diferente. Basta que haja vontade administrativa. Porque obrigação este governo tem. Se não por razão de fazer, pelo menos por razão de cumprir promessas de campanha. Porque a burocracia tem sido o caminho mais curto para a morte de quem depende da saúde pública em Olímpia.

PS: Só não vale o prefeito de turno sair-se com o malfadado e irritante “isso vem da gestão passada”, porque já cansou este bordão.

(*Nomes, especialidades e setores foram preservados para evitar constrangimentos ou qualquer outra situação desagradável)

A cidade sucumbirá em uma montanha de papeís?

burocracia
substantivo feminino
sistema de execução da atividade pública, esp. da administração, por funcionários com cargos bem definidos, e que se pautam por um regulamento fixo, determinada rotina e hierarquia com linhas de autoridade e responsabilidade bem demarcadas.
2 -esse corpo de funcionários; a classe dos burocratas.

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