Abro a caixa de comentários do blog para o devido filtro e me deparo com um comentário do leitor que se assina Jair Andrade, nos seguintes termos: “Eu quero ver não dar em nada, e todos os que criticam e falam abrobrinhas (sic) levarem um tiro bem dado no pé.”

O comentário foi sobre a postagem O ‘LUXO’ DO LIXO, de 1º de novembro, que versa sobre os valores que teriam sido depositados ou entregues a alguém em Olímpia, referente a possível propina pela terceirização da coleta de lixo.

Como já foi extenuantemente divulgado, a terceirização do lixo em Olímpia pode ter rendido pelo menos R$ 239 mil em propina no município. Olímpia é citada nove vezes na planilha que foi apreendida em computador da empresa dos irmãos Scamatti, que mostra possíveis pagamentos mensais, com valores, em média, de R$ 25 mil. Ao lado dos valores não constam nomes de quem recebeu, mas só os nomes de quem entregou o dinheiro, ou de que “caixa” ele saiu. Em 2011 foram R$ 123 mil e, em 2012, R$ 116 mil.

O prefeito negou de forma veemente que tenha alguma coisa a ver com isso, ou que tenha sido o responsável pelo recebimento de tal valor ou, ainda, que tenha participado de qualquer esquema de propina com os irmãos Scamatti, apesar de que a quase totalidade das obras realizadas na cidade, em sua primeira gestão, tenha sido delegada ou à Demop (esta em maior quantidade e valores) ou à Scamatti & Seller e suas derivadas. Disse mais, o prefeito: que acredita num “final feliz” deste caso.

Cito o comentário do leitor Jair para lembrar que tal forma de pensamento é típica do brasileiro, o desacreditado brasileiro que não vê a Justiça prosperar quando se trata de “tubarões”, sejam da política, sejam do sistema financeiro ou, em outras palavras, basta ser pessoa poderosa, notória ou rica – as três coisas juntas ajudam mais ainda -, para não ir para a cadeia.

E as decisões das instâncias judiciárias dos últimos tempos vêm demonstrar isso de forma cabal. Essa cultura do “não vai dar em nada” que o cidadão comum tem, infelizmente encontra embasamento nos fatos em si. Temos por aí, em nível nacional, exemplos notórios de políticos de alta envergadura que transitam para lá e para cá atirando nas nossas caras as suas desfaçatez.

E em todos os níveis da política ou da sociedade brasileiras isso é perceptível. Por isso que quem entra em esquemas de corrupção, sejam os mais graduados, sejam os “peixes pequenos”, o fazem com a nítida certeza de que, uma vez pegos, “não vai dar em nada”.

E tripudiam sobre promotores, juízes, desembargadores, ministros de tribunais. Grupos que, aliás, formam uma casta que não dispensa uma salamaleque com poderosos da política ou do mercado financeiro e às vezes nem sequer resistem às tentações da propina e da corrupção.

Não se quer dizer com isso que o prefeito de Olímpia tenha culpa neste cartório. Como também não se quer aqui isenta-lo de qualquer responsabilidade caso haja. Mas uma coisa é certa: se tiver algo a ver com isso, também o prefeito está a contribuir para a fossilização do lugar comum “não vai dar em nada”. E, mais que isso, como os demais envolvidos comprovadamente, está acreditando na máxima do pensamento comum brasileiro.

Como o Jair Andrade. Mas este o diz talvez como desabafo de desalentado cidadão brasileiro.

Até.