Começo estas maltraçadas linhas já me preparando para eventuais saraivadas de críticas dos mais fanáticos. Mas, desta vez, o raciocínio, aqui, terá o objetivo, num primeiro momento,  de tecer elogios. Elogios ao “boom” turístico que a cidade experimenta, isso já de 20 anos para cá, no mínimo.

Leio nos meios de “informação” oficiais, esta semana, a seguinte afirmação ufanista: “Turismo não pára de crescer em Olímpia”. E concordo, pela primeira vez, plenamente, com um título estampado nos “panfletos” impressos e eletrônicos desta urbe.

Os prefeitos que passaram por este período da história em Olímpia, alguns mais, outros menos, todos experimentaram a dinâmica que a implantação do Thermas dos Laranjais imprimiu à cidade. Faz 29 anos que esta estória começou. E faz 20 anos que a cidade passou a viver num outro ritmo.

E há pelo menos 10, vem demonstrando a pujança do setor, com um crescimento estrondoso nos investimentos em hotéis, pousadas, resorts, centros de alimentação – embora faltando ainda o comércio “acordar” para estes novos tempos.

Não faz muito tempo que o presidente do clube que deu vida plena ao município reclamava da falta de leitos na cidade, que dada a dimensão do empreendimento que coordenava, haveria a necessidade de muitos deles, milhares deles, “para um tempo curto” no futuro.

Eram àquela época, pouco mais de mil, mil e quinhentos leitos, se tanto. Não eram raros os relatos de turistas que vinham para o Thermas e pernoitavam em São José do Rio Preto, por falta de acomodações locais.

Hoje Olímpia contaria com 14 hotéis, 35 pousadas, dois resorts, quatro hotéis-fazenda e 188 casas de temporada, conforme informa a Secretaria Municipal de Turismo. “Temos um total de 7.653 leitos em Olímpia”, contabiliza o diretor do setor, Paulo Duarte Ferreira.

Ainda nos fiando nas informações oficiais de Ferreira, a cidade disporia de 29 restaurantes, três churrascarias, cinco cafeterias, quatro bares noturnos, duas rotisseries, duas chocolaterias, nove sorveterias, 17 lanchonetes, 13 pizzarias e 16 padarias.

Quanto a atrativos turísticos públicos, Olímpia oferece três (?) e atrativos privados são oito (?). A cidade também possui 18 operadoras de turismo.

Mais números derivados do “boom”? Temos o Centro de Atendimento ao Turista-CAT, na Praça Rui Barbosa; o Centro de Informações ao Turista, um trailer itinerante (aliás, sumido!), além de seis lojas de artesanato, folhetaria. Mais ainda, anuncia o órgão municipal: “Em 2012 recebemos mais de 1,2 milhão de pessoas durante todo o ano”, segundo Ferreira.

“O segmento de turismo em Olímpia é responsável por pouco mais de 7 mil empregos, diretos e indiretos, o que representa 14% de nossa população ativa”, complementou.

E ainda agora vemos novos empreendimentos chegando, mais investimentos, e pesados, sendo feitos no setor turístico local. Seja na área de entretenimento-hospedagem, como é o caso do Hot Beach Resorts e o Hot Beach Diversões Aquáticas, tendo à frente uma empresa genuinamente olimpiense, investimento de R$ 130 milhões, e com outros empreendimentos no setor na cidade, e de outro lançamento, “menor”, de um centro comercial e um miniparque aquático, com quase mil apartamentos. E pousadas, que surgem aqui e ali, como flor selvagem.

Portanto, exemplos temos à farta. Talvez, somados, todos os investimentos em redor do turismo na cidade beire a casa do bilhão de reais ou muito mais que isso, ao longo dos últimos anos.

Agora, o que, acho, todos esperam: a razão de todo esse proselitismo. É para chamar ao raciocínio tantos quantos queiram enxergar um mínimo de realidade no que tange ao atual governo municipal. E para questionar estes tantos quantos sobre em que medida o poder público tem agido para que tudo isso estivesse assim, de forma tão forte e consistente, em pleno andamento.

Essa dinâmica municipal já atropelou pelo menos o governo passado, de Luiz Fernando Carneiro (2001-2004/2005-2008), que vivia às turras com o clube mais desejado do país, e deixou atônitos governos ainda anteriores, que a seu favor têm a desculpa de terem sido pegos de surpresa.

E agora, o atual tem se visto correr atrás dos acontecimentos. O que Geninho (DEM) tem feito nestes tempos à frente do Executivo Municipal é não se deixar ultrapassar pelos acontecimentos, pelos investimentos, pelos projetos e realizações,  enfim, pela visão de mundo daqueles que, vindos de outras plagas ou nativos, enxergam que no turismo está a salvação.

 

O quê, em favor do município ou, melhor, em favor dos munícipes, fez até agora a administração municipal? Dizem que um político, antes de tudo, deve ter sorte. E esta Geninho tem de sobra, além de sua natural perspicácia para transitar neste mundo.

E assim vai driblando a situação, de uma forma ou de outra se inserindo no contexto, para não ficar falando sozinho. E, claro, quando à noite não insone deita a cabeça em seu travesseiro ri, em triunfo, pelas coisas estarem acontecendo independentemente de sua visão administrativa, que é quase nula.

Sim, porque, se vamos analisar uma pujante cidade que vive única e exclusivamente por ação do turismo, que respira e aspira, tranquila, a brisa do desenvolvimento econômico em função dele, o turismo, nada mais oportuno que perguntar: o que fez, até agora, o Executivo Municipal visando o bem estar de seus cidadãos? A bem da verdade, as coisas em torno do turismo é que move o Executivo, e não o contrário, já repararam?

Vão perguntar: mas e os loteamentos tantos espalhados pela cidade? Bom, não se tratam de investimentos que promovam o bem estar coletivo, haja vista que compra um quem tem posses, quem pode financiar.

E, ademais, tratam-se de uma “ciranda financeira” patrocinada pelo Poder Público, perigosíssima, diga-se de passagem, eis que este mesmo Poder Público terá que, depois, dotá-los todos de infra-estrutura, e não falo somente da água, guia, asfalto, iluminação e coletores de esgotos.

Quando um loteamento é vendido, e constroem-se ali casas, logo se torna, se não um bairro novo, pelo menos um “apêndice” de outro já existente. E toma-lhe a necessidade de creches, escolas, transporte público, unidades de atendimento em saúde e outras “intervenções” públicas.

Neste primeiro momento, tantos loteamentos espalhados pela cidade têm tido a finalidade apenas de gerar dividendos, e em alguns casos, fazer fortuna individual ou de grupos restritos.

Empregos, onde estão os empregos fora aqueles gerados pela dinâmica do turismo ou mesmo pelas empresas tradicionais que os gera independentemente de quem esteja no comando do município? Ou ainda pelo comércio impulsionado, em parte, também pelo turismo, embora em sua quase totalidade pelos trabalhadores e cidadãos locais. A Saúde, sempre sofrendo seus percalços.

Temos a UPA, que mais que divide opiniões, fica entre o amor e o ódio dos cidadãos, mas “perdemos” a Santa Casa, “perdemos” o Pronto Socorro, o Hospital do Olho, as UBS’s que prestavam serviços nos bairros, próximas às nossa casas.

As crianças das escolas passaram a ter uniformes e “kits” escolares? Mas a qualidade do Ensino não tem a “marca” do atual governo. Se ela se mantém em patamares pelo menos decentes, é graças a trabalhos anteriores que estão sendo continuados, como já admitiu a própria responsável pela Pasta na cidade.

A juventude hoje tem mais entretenimento, com as festas do peão e shows em datas oportunas? Mas suas vidas continuam, ainda, carentes de rumo e sentido, e suas perspectivas de futuro na cidade ainda são incógnitas.

Além disso, “ganhamos” a festa do peão e quejandos, mas perdemos nosso Festival do Folclore, pedra maior no jogo cultural do país, nosso “soft power” relegado a planos menores. A obra de um visionário preocupado com as coisas de raízes nacionais, que um dia foi grandiosa, hoje fora de seu tempo e data, conforme a visão míope dos que nos governam.

E por aí vai. E como já ocupei muito do tempo de quem ainda esteja lendo estas linhas, paro por aqui. Mas conclamo aos que tiveram a paciência de Jó para vir até este trecho final (espero que não tenham pulado o “miolo”), a raciocinar sem paixões, sem “contaminações” resultantes da força midiática do atual Governo, a ponderar sobre o que aqui vai narrado.

Porque a pergunta que deixo é: o que foi feito na cidade, até hoje, que não tenha sido o turismo a mola propulsora?

Até.