Notem bem que o titulo desta postagem não se refere a valor material. Caso contrário, a pergunta seria: quanto custa uma vida? Falo aqui do valor imaterial, intrínseco de uma vida. Ainda que possível fosse mensurá-la em termos monetários, quanto valeria? Ou quanto custaria? Não creio ser possível alguém, seja quem for, medir uma vida nestes termos. Ela é imensurável.

Então, o que leva pessoas que detêm todos os mecanismos e ferramentas possíveis em mãos A negligenciar sobre a vida alheia? Dar-lhe pouca importância, por causa de questões burocráticas ou nem tanto, talvez por questões de desapego ao ser humano, mesmo? Agora parece que tudo se resolverá, haja vista que familiares do caso Edno Rosa informa-nos que até o final da tarde de hoje estaria com o remédio em mãos.

Que teria sido a própria secretária municipal de Saúde, a ligar para a residência do doente informando que o medicamento estaria à disposição, vindo de Ribeirão Preto. Se pôde resolver agora, porque não o pôde antes, possibilitando que o homem já estivesse fazendo seu tratamento mais rigoroso e, com isso, pudesse ter mais funda a certeza de reversão do quadro?

Por que não foi possível evitar-se tanto sofrimento, tanta agonia, tantas idas e vindas e, por fim, o constrangimento de ter que dar, sob estardalhaço, aquilo que até então negava? É esta lógica que não se consegue atinar em certos seres humanos uma vez no poder.

Dito isso, reproduzo, abaixo, matéria inserida na edição de hoje, 22 de fevereiro, do semanário Planeta News, para o entendimento do que se passou:

O pedreiro Edno Rosa, de 46 anos, sofre de um caso grave de câncer, um tipo quase raro, chamado “linfoma do manto”. Até agora, fez três sessões de quimioterapia, perdendo 80% da força física. Mas, teve que parar, à espera do medicamento Rituximab, que custa, para o Poder Público, pouco mais de R$ 166 mil. E para a família, em torno de R$ 350 mil.

O município, até ontem, se negava a fornecê-lo. Mas, após muitas idas e vindas à Justiça – incluindo até desistências de dois advogados dativos, que ficaram temerosos de moverem ações contra a prefeitura, devido a compromissos financeiros que mantêm com ela, segundo consta -, ontem à tarde ele conseguiu o bloqueio, junto aos cofres públicos, dos R$ 166 mil que, tudo indica, deverão ser transferidos hoje para uma conta bancária.

Mas, Rosa já perdeu o prazo para a internação. Era para hoje, mas teria que ter confirmado ontem, e como não o fez, ligaram do hospital cancelando a internação. “Agora sabe-se lá quando terá nova vaga”, lamentou ontem à tarde à reportagem do Planeta.

Rosa seguiu o caminho que lhe indicaram, com a orientação de que tinha que entrar com ação contra o município, para que o município entrasse com ação contra o Estado. Assim, a prefeitura municipal, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, forneceria o remédio e depois seria ressarcida pelo Estado. “Mas eles preferiram recorrer da minha ação, ao invés de ‘brigar’ com o Estado”, disse o paciente.

Por conta desta insistência em negar o medicamento, Rosa passou por três advogados, encontrando guarida e todo esforço necessário no profissional Gilson Eduardo Delgado, que obteve três vitórias na Justiça, porém em duas delas, as determinações da juíza Adriane Bandeira Pereira, da 2ª Vara, não foram obedecidas. Da terceira vez, ela determinou o bloqueio do valor por meio de um oficial de Justiça.

QUATRO INTERNAÇÕES ADIADAS
Mas, até chegar a este estágio, Edno Rosa adiou quatro internações marcadas – 16 de janeiro, 13 de fevereiro, 15 de fevereiro e a de hoje, pela falta do medicamento. Ele foi diagnosticado com a doença em 2010. “Linfoma do Manto”, diz. Mal confirmado por três médicos do Hospital do Câncer de Barretos. “Antes de ter os advogados, eu já estava indo atrás”, diz. Só após as dificuldades foi à Justiça.

“Tem até receita que deixei na Secretaria e nem me devolveram”, exemplifica o pouco caso do Poder Público em relação à sua saúde. “Tivemos a liminar para fornecer o remédio por duas vezes. E na terceira ela mandou confiscar o dinheiro no valor dos remédios”, conta. Rosa usava outros tipos de medicamentos. Mas não funcionavam.

“Eu já estava até com vergonha de chegar lá e ouvir as enfermeiras perguntarem ‘trouxe o remédio?’. Até porque pacientes de cidades menores tinham. Um lá do fundo do Acre teve o diagnóstico, voltou para sua cidade e em seguida já estava com o remédio”, compara.

Rosa está parado há quatro meses. Quem sustenta a casa é a esposa, faxineira no Fórum de Olímpia, salário mínimo. “As colegas lá do Fórum é que tem nos ajudado”, conta ela, que não quis sequer sair na foto. Moram nos fundos da casa do cunhado.

Segundo informações a embalagem do Rituximab contém 14 ampolas do remédio. Cada ampola, ao ser injetada, obriga uma internação de 72 horas. A receita está assinada pelo médico Eduardo José de A. Paton. Na Secretaria da Saúde, a única coisa que Rosa conseguiu foi um ofício onde o órgão se eximia da responsabilidade do fornecimento do medicamento, e a passava ao Departamento Regional de Saúde, de Barretos, que por sua vez teria que obter autorização de Procedimento de Alta Complexidade-APAC. O ofício está assinado por Rosa Maria Carvalho, à época secretária-substituta.

AGRAVO DE INSTRUMENTO

Ontem à tarde, a reportagem do Planeta entrou em contato com o advogado Gilson Eduardo Delgado, que disse ter havido o bloqueio de recursos no valor de pouco mais de R$ 166 mil, e que depois seria comunicado o banco onde está o depósito da prefeitura, e ele acreditava que até hoje, no mais tardar, a situação estaria resolvida.

“Eu falei com o médico lá em Barretos e pedi que a família enviasse a ele uma carta para ver se conseguimos a internação para a metade da semana que vem”, disse Delgado. Disse o advogado que o prefeito Geninho (DEM) determinou que a prefeitura entrasse com um agravo de instrumento, para evitar o bloqueio. Mas, até então não havia conseguido o efeito suspensivo.

“Houve muita resistência da parte deles”, conta Delgado. “Tentaram impedir o oficial de bloquear, dizendo que não podia fazer isso. O oficial disse a eles então que discutisse isso no processo, porque sua obrigação era a de cumprir a determinação da juíza”, relatou.

Até.