Começou “mansamente”, o provedor da Santa Casa de Misericórdia de Olímpia, Mário Francisco Montini. Anunciou primeiro que o hopsital iria suspender as cirurgias eletivas, aquelas que precisam de pré-agendamento para serem feitas. Uma suspensão “por tempo indeterminado”. Logo em seguida, o provedor fala do fechamento do Pronto Socorro, mas em princípio, dizendo que isso seria feito “em breve”. Mas este “em breve” foi logo na sexta, imediatamente após anunciar o fim das cirurgias.

Que nome se pode dar a isso? Crime de lesa-cidadão? Como isso é possível numa cidade com mais de 50 mil habitantes e que serve, com seu hospital, outras cinco cidades de pequeno porte, formando aí um contigente de quase 80 mil pessoas, incluídos bebês, crianças, adolescentes, jovens, adultos e velhos? Só não se pode classificar tal atitude como irresponsável por crermos estarem à frente da direção do hospital, pessoas probas e bem formadas.

“O SUS paga muito mal pelas cirurgias, e tanto a Santa Casa quanto os médicos que fazem as cirurgias estão pagando para trabalhar”, disse Montini. Certo, agora conte-nos uma novidade, senhor provedor. “Temos informação de que muitas Santas Casas estão suspendendo as cirurgias eletivas, inclusive a de Barretos há muito tempo tomou essa decisão”. Diga isso a quem precisa destas cirurgias que, embora eletivas, podem significar muito na vida de uma pessoa. Talvez até na morte – uma cirurgia de vesícula pode não ser urgente num momento e no momento seguinte pode tornar-se uma urgência-urgentíssima.

“Não recebemos nenhum repasse dos municípios da nossa comarca, e prestamos serviços a eles, isso tem que acabar”. Certo, mas isso não “tem que acabar” agora, teria que ter acabado lá atrás, bem lá atrás, se não os atendimentos, pelo menos a inadimplência destes municípios para com a Santa Casa. “Os serviços de urgência e emergência poderão, sim, ser suspensos aos pacientes desses municípios. Eles precisam e têm obrigação de ajudar financeiramente a Santa Casa”, cobra.

Aí cria-se um impasse. Corta-se o vínculo, não se atende mais e também não vem o dinheiro, como não vem agora. Que diferença fará, a não ser a da economia de material, serviço e pessoal?

Segundo o provedor, o setor privado também foi comunicado dessas medidas e chamado a ajudar. “Chamamos representantes do Thermas e pedimos ajuda para o nosso único hospital, e recebemos a resposta de que eles já pagam os impostos e isso não é problema deles.” Bom, ai já vemos exagero por parte dos diretores do clube. Que, aliás, teria que ter um serviço de pronto-atendimento em suas próprias dependências, para um primeiro socorro e depois a transferência para o hospital só em caso de extrema necessidade.

Se não têm, e seus usuários dão daspesas e altas para o único hospital da cidade, têm que contribuir além dos impostos. Principalmente agora que, com o fechamento do hospital, este atendimento passará a ser feito na UPA, onde se mantém estes serviços com recursos oriundos dos cofres públicos. E só dos cofres públicos. O município recebe os impostos do clube, mas não é obrigado a sustentar sua falta de estrutura no atendimento médico de socorro a seus usuários, em cuja alta temporada são em número equivalente ao de uma cidade de pequeno porte.

“A comunidade precisa ajudar mais o nosso hospital”, pede o provedor. Mas a comunidade se afastou do hospital exatamente no momento em que ele voltou para as mãos de políticos, com a intervenção feita nele pelo prefeito Geninho (DEM), mais por ação política que de real preocupação com a situação do hospital, o que agora fica mais que provado. Auxiliado pelo Ministério Público que, feito isso, “lavou as mãos” em relação ao caos que se instalou depois.

O pronto socorro só atendia convênios, após o surgimento da UPA? Tanto pior porque estes usuários dos planos não vão poder deixar de ter atendimento localizado. Vão todos para a UPA? A instituição é publica, bancada com dinheiro público, para atender ao SUS, vai poder abrigar também os conveniados? E se puder, como isso se dará? Voltaremos à condição de termos somente uma porta hospitalar, com superlotação, demora e serviço ruim. Caminhamos para trás, sequer para os lados feito caranguejo.

O BALANÇO
Se chegamos neste momento a este ponto crítico e gravíssimo em relação ao hospital, o que dizer daquele anúncio feito com pompa e circunstância sobre o “mar de brigadeiro” em que as finanças da Santa Casa começava a navegar? Como pode a coisa se agravar de forma tão intensa em menos de sete meses? Se estava tudo bem, a demonstrar finíssima perícia técnica e administrativa de sua diretoria, o que não deu certo, então, depois? O balanço, ao que parece, era pois, uma fantasia – o semanário Planeta News, naquela ocasião, já havia “desmontado” o documento, a provar uma certa manipulação de números, o que vem a se confirmar agora.

Se não, vejamos: a diretoria da Santa Casa de Misericórdia de Olímpia divulgou oficialmente na noite do dia 21 de março, uma quarta-feira, nas dependências do Hospital do Olho, o balanço relativo a 2011, no qual consta ter o hospital reduzido seu déficit em 97% (reparem bem, 97%!), em relação a 2010, fazendo-o cair dos R$ 397 mil, para pouco mais de R$ 11,8 mil. Nesta toada era de se esperar o quê? Zero total nos problemas das finanças para este ano, ou não? Em que momento, então, tudo deu errado?

E mais: o hospital teria faturado mais em 2011, segundo os números apresentados – 17,4% em relação a 2010, mas também gastado mais – 11,5% acima do ano retrasado. Foram arrecadados R$ 9,096 milhões, para um gasto de R$ 9,080 milhões, ficando um déficit de R$ 11.893,08, ou 97% menor que o registrado em 2010, segundo o balanço. Naquele ano foram arrecadados R$ 7,746 milhões, para gastos de R$ 8,143 milhões, com déficit de R$ 397 mil, apenas 31% abaixo de 2009, segundo ainda a diretoria. Já em 2009 haviam sido arrecadados R$ 6,928 milhões, e gastos R$ 7,502 milhões, com déficit de R$ 574 mil.

Observem, observem: de um déficit de R$ 574 mil em 2009, as mãos mágicas e os cérebros hiperprivilegiados que administram o hospital o reduziram para apenas e tão somente pouco mais de R$ 11,89 mil. Me recordo bem que quando do anúncio deste resultado, em coletiva de imprensa, o “voluntário” Vivaldo Mendes Vieira mostrava-se extremamente seguro de si e garantia que a partir dali as coisas todas seriam diferentes naquele hospital. Bem diferentes.

Mas só não dava para imaginar que fosse tão diferente assim. Porque até então todos haviam se queixado, ameaçado, mas ninguém havia tido a coragem – ou a necessidade – de, literalmente, fechar o hospital.

Até.