Mais que a renúncia à pré-candidatura a prefeito de Olímpia, o que causou espécie nos meios políticos foi a informação constante da carta-renúncia publicada pelo candidato desistente Walter Gonzalis e por seu prócer político Hilário Ruiz (PT) em suas páginas no Facebook, dando conta de que a decisão já havia sido tomada desde fevereiro passado. Ou, pior, que a decisão em si tinha sido tomada no final de 2011, e a comunicação ao grupo petista feita em fevereiro.
A pergunta que repercutiu durante todo o dia desta quarta-feira é: Por que o PT guardou isso para si? E mais: Por que insistia em colocar o nome de Gonzalis entre os pré-prefeituráveis, inserindo-o nas discussões e nas entabulações com vistas à coalizão? Há quem duvide que a desistência tenha este tempo todo, encarando como jogo de cena do desistente, e que algo mais haveria por trás dessa decisão.
Da parte deste blog, não há a intenção, mínima que seja, de duvidar do que escreveu Gonzalis. Afinal, homens podem dizer mentiras. Escrevê-las, poucos têm coragem. Mas, cabe um “puxão de orelhas” no grupo que o rodeia e sabia de sua decisão irreversível. Caso todos estivessem cientes de que Gonzalis estava fora, as conversas teriam tido outro rumo, as pesquisas teriam tido outros resultados e as entabulações já poderiam estar bem mais adiantadas. O pré-candidato do Partido dos Trabalhadores-PT alegou problemas pessoais e de saúde. Que seja, vamos respeitar.
“A decisão que tomei quinta-feira passada (31.5) já caminhava comigo desde o final de 2010 –conversei muito com minha esposa e familiares a respeito. Em fevereiro deste ano (23.2.2012) enviei e-mail ao companheiro Hilário Ruiz, comunicando minha renúncia e apenas não a tornei pública porque alguns amigos tentaram convencer-me a desistir dela. Aliás, minha filiação ao PT também foi uma (auto) tentativa de reanimar-me, mas restou infrutífera esta ação”, narrou ele em sua carta aberta, ou carta-renúncia.
É sempre bom lembrar que Gonzalis recebeu 8.678 votos em outubro de 2008, ficando em terceiro lugar na disputa, com 1.216 votos a menos que o vitorioso, Geninho (DEM), e a apenas 614 votos que o segundo colocado, Dr. Pituca (PMDB). Ele recebeu 31% dos votos do eleitorado.
Segundo fontes oposicionistas e até do situacionismo, o candidato desistente estava cravando índices de até 20% nos levantamentos de intenção de votos do eleitorado da cidade. Um universo em torno de seis mil votos, depurado o total de votantes.
Para quem irão agora estes votos? Se dividirão igualitariamente? Um dos três pretensos candidatos – Bira da Ki-Box, Helena Pereira e João Magalhães – levará a maior fatia? Qual deles? É sabido que Bira é o único nome fora do eixo político atuante, ao contrário de Helena e Magalhães, que estão “na roda” há tempos. Poderia ser ele o fator-surpresa e aparecer com mais nitidez dentro da próxima pesquisa de intenção de votos? Ou haverá uma disseminação dos votos de forma igual, ou um tantinho para cada um?
É certo que muitos poderão engrossar os “nulos”, “brancos” e “abstenção”, mas em que volume? Este eleitorado que pendia para Gonzalis dá mostra de que pelo menos está disposto a votar em um nome. E que este nome não é o do atual prefeito. Se não, já teriam se decidido por ele. Geninho pode ser aquinhoado por um certo tanto destes votos? Pode. Mas não é de todo crível que isso vá acontecer.
Portanto, depende agora dos próceres da oposição detectar que tipo de eleitor é esse que está órfão de candidato no momento e conseguir captá-lo, convencê-lo de suas qualidades. Porque votar ele quer.
Leia, abaixo, a íntegra da carta-renúncia de Gonzalis.
A CONSCIÊNCIA: IDEAL x REAL
[“Não é desistir, é recomeçar.”]
Ricos, pobres e mendigos; workaholics, desempregados e vagabundos; religiosos, cientistas e ateus; ingleses, indianos, brasileiros, japoneses, russos… Realidades diferentes? Não! Situações diferentes dentro da mesma realidade; situações diferentes que tumultuam essa realidade: preconceito, intolerância, corrupção, diferenças e indiferenças, mandos e desmandos, prepotência, arrogância, escravidão (da carne e dos sentidos), politicagem, ditatorialismo, coronelismo, exploração, depredação. Ética? Moral? Justiça? Direitos humanos? Res publica? Meio Ambiente? Hospitalidade? Comensalidade? Paz? O real muito distante do ideal.
Estas reflexões trago comigo há anos e me levaram a entrar na política em 2003 – filiei-me ao Partido Verde (PV) e participei de todas as eleições: em 2004 como candidato a vereador; 2008, prefeito; 2006 e 2010, deputado federal – conquistei a suplência. Depois de muito contribuir com o PV, em termos local, regional e estadual, em 2011 filiei-me ao Partido dos Trabalhadores (PT). Antes da política partidária, servia a comunidade por intermédio de associações que ajudei a fundar ou reinaugurar: Clube de Ciclismo (CICLO), Rotaract Club e Racionalismo Cristão, oportunidades em que debatia o plano ideal.
Assim, a partir de 2003, atuei concomitantemente na comunidade e na política. Na comunidade, voluntário na prestação de serviços. Na política, o instrumento para promover, no município e na região, a abertura política que possibilitaria a mais pessoas, em diversas áreas e setores (rural, empresarial, social e cultural …), se manifestarem politicamente, profissionalmente e socialmente.
Na política atuei com a necessidade da (auto) propaganda – currículo, panfletos etc. Na comunidade, sob o manto do axioma “o que uma mão faz, a outra não precisa saber” – assim procedi com muito afinco, gosto e movido pela preocupação com o outrem. Porém, no momento necessito preocupar-me comigo, pois minha saúde está abalada. Nada grave, mas um problema sério que exige cuidados e parte do tratamento recomenda o afastamento da disputa eleitoral.
A decisão que tomei quinta-feira passada (31.5) já caminhava comigo desde o final de 2010 –conversei muito com minha esposa e familiares a respeito. Em fevereiro deste ano (23.2.2012) enviei e-mail ao companheiro Hilário Ruiz, comunicando minha renúncia e apenas não a tornei pública porque alguns amigos tentaram convencer-me a desistir dela. Aliás, minha filiação ao PT também foi uma (auto) tentativa de reanimar-me, mas restou infrutífera esta ação.
Sim, afirmo agora, publicamente, que não sou mais pré-candidato nem serei candidato nestas eleições municipais de 2012. E porque pensava mais em retirar-me do que permanecer na política é que evitei entrevistas a rádios e jornais.
A decisão tomei após ser julgado pelo Tribunal da Consciência (claro, da minha própria consciência) e tomar ciência de que não estou mais preparado, ao menos por ora, para encarar uma campanha nem a prefeitura. Na condição espiritual (ou psíquica, ou moral) em que me encontro, não posso me dar ao capricho de levar adiante uma campanha eleitoral e prejudicar um grupo de pessoas (militantes e coligação); não posso arriscar um resultado positivo nas urnas e depois não honrá-lo na administração do município – o prejuízo seria de 50.000 habitantes, diretamente, e de toda uma região, indiretamente.
Em 2010, problemas pessoais me fizeram perceber alguns erros que eu vinha cometendo desde o ano de 2007 e que me trouxeram dificuldades financeiras, desavenças conjugais e um problema de saúde que desencadeou hábitos que me tomam tempo e energia anímica. Diagnosticado por um respeitável médico da cidade, aceitei o problema, confirmei o diagnóstico com outros profissionais e refleti bastante. Reconheci, então, que eu estava errado e comecei a lutar, desta vez não contra os mandos e desmandos que vemos todos os dias nos noticiários, mas contra os meus próprios mandos e desmandos. Ao refletir, compreendi que esses problemas foram ocasionados, em parte, por severidade, ansiedade, frustrações (profissional, política e social), perdas e pressa. Sim, acho que tive pressa e ela me embotou os sentidos.
Assim, do final de 2010 e durante todo o ano de 2011 me afastei de inúmeras atividades, especialmente aquelas que envolviam política; não participei de discussões/debates nem da formação de um projeto de governo – e sei que para ser mandatário de um município não basta apenas ter boas intenções. Minha literatura no ano passado não foi nem um pouco voltada para a política, questões partidárias ou Direito e ainda tenho dificuldade de voltar a estes tipos de texto e assunto. Registro que até festas, comemorações e divertimento eu perdi.
Os problemas estão controlados, mas não resolvidos – ainda luto todos os dias. Carrego dúvidas e dívidas ocasionadas, em parte, pela vida política, pois procurei financiar-me nesse meio a fim de não ficar “de rabo preso” com ninguém. Assim, se vencesse (prefeito ou deputado), poderia iniciar um processo de abertura política na cidade e na região, em que novas lideranças teriam a oportunidade de surgir e atuar – vindas da iniciativa privada ou mesmo do setor público, sem medo de retaliações e perseguições. Nunca me considerei melhor do que ninguém, mas tinha comigo o propósito de fazer mais e melhor por nossa cidade (se eleito prefeito) e pela nação (se eleito deputado).
A administração pública necessita que homens e mulheres (e elas estão se destacando), corajosos e dignos, participem diretamente da política e assumam o comando. É óbvio que para chegarem lá necessitam ser reconhecidos pelos eleitores, responsáveis, com sua escolha, pela mudança política ou hegemonia de um grupo político… ou politiqueiro. Sou humano e errei e, no presente, não me vejo mais apto a subir em palanque, gravar voz em rádio ou posar para fotos pedindo algo tão valioso para uma comunidade: o voto.
Peço desculpas aos amigos que me incentivaram nesta jornada política e aos muitíssimos cidadãos e eleitores que desde 2004 me deram seu voto de confiança. Não posso mais continuar nesta atividade, sinto muito. Vou me retirar para reeducar-me como indivíduo e cidadão e no futuro restabelecer-me como político (não necessariamente a figura que busca um mandato).
Neste ponto da minha jornada não teço críticas a ninguém, antes agradeço a todos que caminharam comigo, que me deram oportunidades, conselhos, patrocínio. Fiz amigos, perdi contatos, sofri com animosidades – dei causa a muitas delas, perdi dinheiro, gastei tempo, quase desfiz o meu lar. Ganhei, entretanto, muita experiência, maturidade e coragem suficiente para, agora, declarar que não disputarei as eleições municipais, porque atualmente não me julgo merecedor de um mandato – por isso não vou pleiteá-lo.
Agradeço também ao Diretório de Olímpia do Partido dos Trabalhadores (PT), que me acolheu e sustentou meu nome como um bom projeto político. Há questões políticas, eleitorais e sociais que me incomodam e também ocasionaram o meu afastamento. Por princípio ético, serão tratadas apenas internamente e levadas ao conhecimento apenas do meu atual partido (PT).
Agradeço, especialmente, à minha esposa, pela paciência, carinho e coragem com que tratou as questões, a minha condição e a nossa situação. Agradeço aos parentes e amigos mais próximos que, conhecedores do meu caráter e cientes dos meus problemas, muito me apoiaram nestes dois anos. Agradeço as orações que fizeram por mim e por terem me apoiado na decisão que ora exponho.
Hoje compreendo e aceito a afirmação popular de que “se Deus quiser…” serei prefeito, ou deputado, ou vereador. Mas, dadas as minhas condições e dúvidas que ainda carrego, a única certeza que tenho é que necessito retirar-me do cenário político. A hora não é agora. E se estiver nos desígnios de Deus que um dia eu seja prefeito deste Município, naturalmente voltarei à disputa – não importa quando – e mais preparado para enfrentar tudo isso.
“Não é desistir, é recomeçar.” Esta frase, escrita no colchete abaixo do título desta carta, está entre aspas porque não é minha. Li uma vez no Orkut (ou MSN?) de uma amiga. Achei-a muito interessante e precisa, pois representa algo que muitas pessoas não querem entender: as coisas mudam para melhor quando nos propomos a fazer parte da mudança. Para isso, às vezes temos de assumir erros e mudar a direção. E mesmo noutros caminhos, sempre buscar “fazer o bem sem olhar a quem”. É o que farei agora… desta vez, sem pressa.
Agradeço a compreensão e mais uma vez peço desculpas a todos.
Agradeço amigos, agradeço Olímpia!
Grande e fraternal abraço a todos.
WALTER GONZALIS
Até.
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