Se a voz do povo é a voz de Deus (vox populi vox dei), como dizem, neste caso específico, o vaticínio está correto. Porque foram muitas as contestações populares quanto ao que falava o provedor da Santa Casa de Misericórdia de Olímpia, Marcelo Galette, na entrevista à Rádio Menina-AM na tarde de ontem, quinta-feira, 26. Pode até ser que Galette estivesse imbuído do melhor espírito da verdade, ainda que uma verdade sua, mas deixou transparecer para quem ouvia, que apenas tergiversava sobre o assunto. Claro está que não sinalizou nenhuma possibilidade de solução dos problemas havidos naquele hospital.

Ao contrário, fez a cantilena de todos os demais adminsitradores que por lá passaram antes dele, embora de forma melopéica, no seu caso, e cobrou as velhas cobranças, também as mesmas cobradas por aqueles que por lá passaram. Uma tentativa de justificar a crise com problemas “históricos”. Galette chegou a se irritar em alguns momentos, mas não mostrou saídas para a Santa Casa. A culpa é da falta de colaboração dos prefeitos da microrregião, do setor de turismo – hotéis, pousadas e Thermas, o agronegócio canavieiro e até da população da cidade.

Mas, não há culpa do nosso burgomestre neste cartório, pelo que Galette deixou passar. A arrogância e a prepotência, até mesmo a violência com que o alcaide e sua secretária de Saúde, Silvi Storti, arrancaram de lá a diretoria apolítica após quatro anos de uma gestão reconhecidamente positiva, não ganharam destaque nas falas do provedor. Ao contrário, o provedor preferiu não só isentar o prefeito de culpa, como também “endeusá-lo”, dizendo que ele tem feito pelo hospital o que não faz, seguramente.

E é claro que o blog oficioso não poderia deixar de meter o bedelho no assunto, claro, da forma enviesada na qual é expert. Após a entrevista, estava lá que Galette foi à emissora “rebater as constantes críticas de seus apresentadores e de alguns veículos de imprensa que, nas últimas semanas, colocaram a Santa Casa num turbilhão de acusações de mau atendimento e até omissão de socorro”. A culpa, pois, é dos apresentadores da emissora, e de veículos da imprensa. Não de quem tudo fez para estar ali, para derrubar quem trabalhava visando apernas e tão somente o bom funcionamento daquela instituição.

E a jóia da tarde foi a garantia dada por Galette de que “ninguém fica sem atendimento na Santa Casa”. Sem exagero, tal declaração enfureceu ouvintes nos quatro cantos da cidade. Da mesma forma que se enfureceram quando Galette disse que o plantão à distância “está funcionando normalmente, com as seis especialidades exigidas por lei, embora não recebendo em dia”. Portanto, não é fora da normalidade concluir-se que este governo está absurdamente dissociado da sociedade olimpiense e, pior ainda, também da realidade olimpiense.

Nesta mesma esteira seguem os asseclas do poderoso de turno, aqueles para quem tudo é possível em nome do chefe. Mesmo que depois tenham que, na cara-de-pau, voltar atrás naquilo que publicou ou falou. E este miserável blogueiro confessa jamais ter visto, em toda sua vida profissional de rádio e jornalismo – e lá se vão 30 anos – algo como se viu agora: um texto noticioso ser simplesmente mudado, ter seu conteúdo primeiro modificado, termos “amenizados”, adjetivos trocados. A começar do título da matéria que passou a ser: BOMBA: SANTA CASA PROVA QUE DONA DE CASA FOI ATENDIDA E FILME MOSTRA ZANOLLI FOTOGRAFANDO. Perceberam como o enfoque foi totalmente outro?

E veio o título após a indicação de que se tratava de uma “atualização”. Atualização? Isso só ocorre no jornalismo escrito, radiofônico ou televisivo quando se tem algo a acrescentar ao texto, à informação, e não quando se quer extrair dele a acidez, a agressividade, a ofensa gratuita, etc. Neste caso específico, onde não havia nada de novo a acrescentar à denúncia, mas, sim, havia a necessidade de corrigir um mal-feito, melhor seria ter redigido uma “sequência” colocando os pingos nos “is”, mudando o enfoque e até mesmo fazendo um mea-culpa quanto ao que havia sido afirmado antes.

Para quem leu a “bombástica” matéria no blog em questão, deve se lembrar como foi narrada a queda da vítima Fernanda dos Santos Silva  da cadeira de rodas. Pois bem, na matéria “atualizada”, ela ficou assim: “O Ministério Público tem um filme em que mostra o jornalista da Folha da Região, Willian Antonio Zanolli, conversando (grifos nosso) com Fernanda, que estava numa cadeira de rodas e, depois, ela escorregou da cadeira, e Willian a fotografou.” Até então Zanolli havia cochichado e a moça tinha sido empurrada da cadeira pela sua parente (no caso, irmã). E mais: o filme, gravado pelas câmeras de segurança da Santa Casa mostra que após a conversa com Zanolli, “ela escorregou lentamente da cadeira”, diz o texto “atualizado”.

Jamais imaginei viver para ver coisa igual em jornalismo. O texto ser mudado no mesmo corpo da matéria, a notícia ser refeita, amenizada, quando o mais fácil seria redigir outro texto sobre o mesmo assunto, porém, se explicando e até – por que não? – pedindo desculpas pelo juízo apressado e perigoso que se fez da informação. Até porque o delito dado e julgado como certo virou “possível encenação armada pelo assessor da Folha da Região”.

No final do texto, a justificativa do responsável pela publicação: “O Blog do Concon atualiza sempre as suas informações. Como o referido filme é objeto de investigação no Ministério Público, e como houve, erroneamente, uma interpretação apressada dos fatos, este Portal tratou de corrigir o que foi publicado, tanto em respeito à vítima, quanto ao Ministério Público e mesmo ao jornalista da Folha da Região, tido como assessor e colaborador. Em nenhum momento este Blog quis denegrir a imagem de alguém, ou mesmo foi dirigido por alguém, já que possui identidade própria. Vamos aguardar a investigação do MP.”

Tudo o que diz qualquer manual de redação vem de encontro ao que fez Concon com esta informação. E tudo o que não diz qualquer manual de redação foi o que Concon fez com sua “atualização”. Se for medo de qualquer atitude visando reparar danos, melhor seria o blogueiro pedir desculpas explícitas. Porque fazer da forma como fez deixa claro que seus textos são, sim, manipulados por quem quer detratar seus críticos, seus adversários. Em suma, jornalismo de “gaveta”.

PS: E antes que alguém pergunte ‘O que Marcelo Galette está fazendo na Santa Casa, levando tanta bordoada e se desgastando perante a sociedade, se não tem nenhuma pretensão política, ou coisa que o valha?”, eu arrsico dizer que possivelmente este quadro mudará em breve. Galette tem muitos afazeres e sua presença à frente do hospital estaria com os dias contados. Mas, um sopro de vento nos diz que o prefeto Geninho (DEM) poderá tomar uma decisão em relação à administração do hospital que tem tudo para não dar certo. Porque a medida, acreditamos, despersonalizará, ou melhor, “despessoalizará” a gestão do hospital. Esperar para ver.

Até.