Durante a Ditadura Militar, a publicidade do Regime de 1964 influenciou mais de uma geração de brasileiros pela sua veiculação em todos os meios de comunicação. E não bastasse isso, também as escolas, campo de futebol, os cantores mais “verde-olivas” e até veículos particulares eram usados para tanto. Me lembro particularmente de um adesivo que circulava num grande número de carros na minha infância, com a palavra de ordem “Brasil: Ame-o ou deixe-o”, que impunha ao incauto cidadão a condição de amar incondicionalmente seu país e tudo que nele havia – incluindo aí o regime ditatorial -, ou abandoná-lo de vez.
Servia, muito mais que um slogan de oportunidade, também como um aviso àqueles que insistiam em trazer para estes rincões, o “regime vermelho”, o comunismo tão temido, “comedor de criancinhas”, ou simplesmente almejavam o restabelecimento da democracia. Eram os tempos do absolutismo, e assim os lemas e as canções de incentivo surgiam a todo instante. Foram criadas as mais diversas frases de efeito, como, por exemplo, além da já citada, que era usada por adultos e crianças, ostentada em objetos e nas janelas dos automóveis, também outras como “Brasil: AME-O”, que muitas empresas de transportes de valores utilizavam ostentada em seus veículos, ou ainda, “Quem não vive para servir ao Brasil, não serve para viver no Brasil”, e assim por diante.
Na música, lembremos-nos de “Noventa milhões em ação/pra frente Brasil/do meu coração (…)”, por conta do tri Campeonato Mundial, em 1970 – que o povo cantava embevecido e eufórico pelas ruas, enquanto nos porões dos Doi-Codis da vida muitos morriam, ou sofriam na pele o ódio incrustado na alma dos militares; ou “Eu te Amo, meu Brasil/eu te amo/meu coração é verde/amarelo/branco/azul anil (…)”, cantada pela dupla Dom e Ravel, autores, também, de outra pérola para enaltecer o Mobral, que surgia em plena ditadura para ensinar os mais velhos a ler e escrever – diz a lenda que a intenção, na verdade, era contrapor o Estado ao “ensino subversivo” que se fazia nas periferias.
Até hoje, ainda, se prestarmos atenção vamos ver pelo menos o tal “Brasil: Ame-o ou deixe-o” em algum Fusca ou outro carro que esteve no auge naqueles tempos.
Mas, todo este “revival” foi necessário para que agora possamos nos ater ao nosso pedaço de chão, a Olímpia velha de guerra. É que por aqui parece estar se iniciando um processo político bastante parecido, se não simbiótico. Se já não tivéssemos visto e vivido exemplos bastantes, as manifestações do prefeito Geninho (DEM), esta semana, em sua página social Facebook, e as do vereador Salata (PP), na sessão desta segunda-feira (4) da Câmara, nos dariam a certeza absoluta desta pretensão. Ambos foram totalitaristas em suas manifestações.
No caso do prefeito, sua ira se mostrou quando seu video sobre o carnê do IPTU, que “baixou”, foi contestado em sua página por este mesmo blogueiro, com o seguinte argumento, aliás, já postado aqui recentemente, em forma de nota: “‘Olímpia é a única cidade no Brasil que baixou o carnê do imposto’?
Mas, não devemos nos esquecer que Olímpia também foi a única cidade no Brasil a praticar um aumento de 128.57% na taxa de lixo, o que causou um impacto de até 52% no valor do IPTU a partir de 2009. Taxa que agora, segundo a Administração, baixou 30%. Portanto, tem muita ‘gordura’ ainda para queimar.
A resposta do prefeito foi: “Mentir aqui não!!! Na rádio podem falar por (que) não tenho direito (de) defesa. Não houve aumento nenhum na taxa do lixo, parem de mentir, houve uma aplicação do Código Tributário aprovado no ano 2000, há 11 anos atrás. E o Carnê do IPTU abaixou mesmo, os pobres pagavam pelos ricos e ninguém teve coragem de mudar.” Não considerando o viés de inverdade desta resposta do alcaide, vê-se, no tom empregado, a nítida contrariedade por ter sido contestado com números, e contra números, se não forem meramente estatísticos, não há argumento.
Depois, o colega de rádio Márcio Matheus complementou minha observação, após a resposta do alcaide, dizendo: “Enquanto eu estiver na rádio, prefeito, todos terão direito à defesa. Só não vai se defender quem não tem como fazê-lo. Acreditar que imposto em Olímpia é barato é brincadeira. E a taxa de lixo aumentou 128%, sim. Todos olimpienses que pagam suas contas sabem disso. O senhor pode até enfeitar o nome do aumento como ‘correção do código tributário’, mas foi um aumento descarado, vergonhoso, injusto e ainda por cima anônimo, já que ninguém assumiu ou assinou o aumento em 2009. Tão injusto que a taxa já baixou em alguns carnês.” Bom, se não há verdade no que disse Matheus, então não mais sei onde ela estará.
Mas, atentem para a resposta do prefeito desta urbe: “Então me chama na rádio e vamos debater Olimpia ontem e Olimpia Hoje, me dê oportunidade, se seu patrão ou patroa deixar. Definitivamente, não vou bater boca neste espaço com boca de aluguel, se quiser me chamar na rádio mentirosa, ao vivo, irei com prazer.” O que custava o prefeito responder, e educadamente, como convém a um mandatário, a questão que lhe fora posta? Ao invés disso, prefere o quê? Ser chamado à emissora porque lá sabe que poderá espalhar suas fantasias de um mundo maravilhoso, o melhor deles, para milhares de pessoas ao mesmo tempo. Se não demonstra disposição para o debate civilizado, por que agiria diferente na emissora?
Já quanto a seu lider na Câmara, o discurso que sempre faz, eivado de ironias e poucas certezas, na segunda-feira ganhou ares de absolutismo e ameaças veladas à imprensa livre da cidade. O tempo todo lembrava que poderia processar o Planeta News, por conta de matérias que, para ele, seriam atentórias à moral de pessoas que ele não citou quais, mas seguramente falava de si e do prefeito que representa naquela Casa de Leis – aliás, a mais silenciosa e submissa Casa de Leis de que se tem conhecimento na história de Olímpia. Quem fala é Salata. Quem ameaça é Salata, com a conivência dos outros seis situacionistas-chanceladores.
Este blog mesmo já foi alvo de tentativa de processo, com pedido de indenização por perdas e danos. E o tempo todo a imprensa livre recebe “recadinhos” de cá e de lá, quanto à possibilidade de “chover processos”. Salata, por exempolo, não perde uma oportunidade de lembrar que a Rádio Menina, a pedra no sapato dos maus políticos locais, foi multada durante o pleito eleitoral. Por razões diversas das que ele tenta fazer crer, motivadas as multas pela legislação eleitoral, que de resto também multou a concorrente e o próprio candidato Geninho, que quase perdeu a cadeira da 9 de Julho por causa disso.
Este texto é um texto-alerta. Antes que, por meio de lei aprovada pelos “sete cavaleiros da tábula rasa”, o burgomestre obrigue cada cidadão a pregar nas suas portas ou nos vidros de seus carros, as palavras de ordem dos anos de chumbo, adaptadas para a terrinha: “Olímpia: Ame-a ou deixe-a”.
Até.
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