O prefeito Geninho (DEM) foi à Câmara Municipal de Olímpia na noite de ontem, segunda-feira, 7, para um discurso “solene” na reabertura dos trabalhos legislativos, após o recesso de final de ano. Recebeu afagos, fez um discurso xoxo, e vendeu, como só ele sabe fazer, o seu “peixe administrativo”. E para não perder o costume, fez bravatas contra os “irresponsáveis e desinformados”, dizendo, entre outras coisas, que não iria se “dobrar” a eles. Mas, indiretamente, até agradeceu aos seus desafetos, quando, usando trecho bíblico, comentou que são eles, os críticos, que lhe dão ânimo para o trabalho.

Geninho discursou por 25 minutos, mas sua interferência na sessão se arrastou por 40 minutos, já que além de seu discurso, teve também o “momento bajulação”, protagonizado pelo vereador e vice-lider na Casa, Primo Gerolim (DEM), que fez um histórico da caminhada elitoral do alcaide, ano passado, não se esquecendo de enaltecê-lo pela performance nas eleições deste ano, quando muitos candidatos a deputados ligados a ele foram bem votados aqui e eleitos.

No que pareceu ironia, Geninho pediu aos seus companheiros de Câmara – sete vereadores, “mais empenho e responsabilidade na votação dos grandes projetos que virão nesta metade de mandato”. Sendo assim, somos da opinião de que muitas das matérias para lá enviadas teriam que sofrer “pente fino” e teriam dificuldades para passar. Então, melhor para o prefeito que não seja assim.

Claro que ele não ia perder a chance de atacar “os caluniadores, os que prestam desserviço à população olimpiense”, bravateando: “Não vamos nos dobrar às críticas dos desinformados e vamos pagar todo o mal com o bem”. Como sempre, o mal são os outros.

Mas, segundo suas poróprias palavras, são os críticos que têm “empurrado” esta cidade para a frente, uma vez que eles estariam dando a força necessária para o prefeito trabalhar mais e mais a cada dia. Se não, por que ele diria que “à cada crítica, cada pedra que tentam colocar no meu caminho, é motivo para mais trabalho, de se movimentar ainda mais”?

Isso é salutar, vindo de quem vem. Assim, nos dá a certeza de que prestamos um serviço coletivo, com vistas à defesa dos interesses do cidadão, ao mesmo tempo que atrapalhamos eventuais planos de se implantar na cidade um Governo tirano, para o qual não basta apenas exercer o controle absoluto sobre a massa, a qual, por meio de uma espécie de lavagem cerebral, seria então convertida em manada (conforme idéia original de Daniel Piza). Seguindo o raciocínio de Piza – que parece falar de Olímpia -, para o prefeito seria preciso, também, manter a propaganda oficial acima da contestação da imprensa séria.

O prefeito até fez um juramento desnecessário, eis que estava ali no “santuário” da justiça política. Disse que continuará “obediente à lei, especialmente à Lei de Responsabilidade Fiscal e aos ensinamentos sábios do respeitável Tribunal de Contas de nosso Estado”. E poderia ser diferente? Com ele, aliás, até foi. Agora que se enquadrou, claro que nunca mais vai querer passar pelo que passou com suas contas. “Nossos erros, se houver, serão casuais e nunca propositais”. Melhor que erros não haja, propomos.

Não faltou, no discurso xoxo do prefeito, uma citação bem ao estilo ‘alencariano’. Desta vez foi trecho do livro “O Mundo Bárbaro”, de Luís Fernando Veríssimo: “Quando querem tonar as coisas mais fáceis para nós os leigos compreendermos, os economistas costumam recorrer à analogia doméstica. Um país é como uma família: precisa ser realista no seu orçamento e responsável nos seus gastos. Senão, como uma família, vai à bancarrota”.

Bom que o prefeito pense nisso a partir de agora. Porque agindo como agiu nos dois primeiros anos, se uma família fosse, seguindo a analogia, não conseguiria pagar o carnê das Casas Bahia. Outra aparente tomada de consciência do prefeito está na afirmação: “Fazer o correto é mais fácil. Nós faremos isso, faremos o que é correto. Os fantasmas (?) serão repugnados por todos nós.” Tomara, prefeito, tomara.

E na hora de “vender o peixe” fez uma saudação ao secretariado, lá presente – Saúde, Educação, Finanças, Daemo, Prodem, Planejamento, Assistência Social, Jurídico, Agricultura. E rebateu críticas feitas pela imprensa séria ao aluguel da mansão do ex-vereador Chico Ruiz para lá instalar o Fundo Social de Solidariedade. “Muitos criticam que a nova sede, alugada, do Fundo, tem até piscina. E tem mesmo, só que os desinformados não sabem que é para os idosos fazerem hidroginástica, minimizando assim os efeitos do Mal de Alzheimer.” O blog pergunta: para isso não seria melhor adotar um equipamento público, do qual não só idosos da terceira idade pudessem usufruir?

ADENDUM: O blog oficialesco se apressou em noticiar hoje pela manhã, que “as galerias estavam lotadas”. Primeiro, que não estavam. Segundo, que quase todo o secretariado municipal estava lá – ausentes Beto Puttini, Gilberto Cunha e Cleber Cizoto. E terceiro, que o restante do público, cerca de 25 pessoas, era formado por funcionários da Saúde, que não foram lá para, digamos, saudar o chefe do executivo. Ao contrário, lá estavam para “vigiar” o comportamento dos vereadores em torno do projeto de reajuste salarial aos médicos, que não os contemplavam – psicólogos, dentistas, assistentes sociais etc..

Mas, tal projeto nem tramitou ontem. O prefeito foi embora, secretariado atrás, e lá ficaram, até quase o final da sessão, estes mesmos funcionários. Se o blogueiro quase-oficial tivesse ficado até o final da sessão, teria visto que o grupo manifestou seu descontentamento com a situação, apludindo somente vereadores oposicionistas. Guto Zanette, Bertoco, Gerolim e Salata discursaram e tiveram o silêncio como resposta. Lelé pelo menos recebeu os seus, por cortesia. Já Hilário Ruiz, Magalhães e Guegué foram muito aplaudidos ao final de cada explanação. Assim, com relação a essa categoria de municipais, o recado foi dado. Pena que o prefeito não ficou lá para ouví-lo.

Até.