O prefeito Geninho acaba de encaminhar à Câmara Municipal um calhamaço de projetos de Lei, ao qual poderíamos chamar de “pacote de novembro”, que visa, no apagar das luzes do ano Legislativo, aprovar em sessão extraordinária, vários temas de seu mais imediato interesse. Nesta terça-feira uma reunião entre vereadores irá tratar deste pedido, encaminhado pelo secretário de Gabinete, Paulinho da Uvesp, ainda durante a “gestão” do presidente-substituto, Toto Ferezin (PMDB), que no entanto não se propôs a assinar ofício se comprometendo com a extraordinária, que o prefeito queria já para esta quarta-feira.

A responsabilidade foi deixada para o presidente Hilário Ruiz (PT), que após sanar problemas familiares ligados à saúde, retornou, tomou ciência do fato e propôs-se a reunir os demais vereadores nesta terça, para discussão da proposta. Pode ser que a extraordinária aconteça na quinta-feira, 18. É claro que do “pacote” fazem parte as indefectíveis suplementações orçamentárias, outros projetos de menor vulto, e um, em particular, que será alvo de maior atenção dos edis (menos, é claro, os da bancada situacionista e os neo-situacionistas): aquele nosso velho conhecido que visa reduzir à metade, a carga de impostos que o Thermas recolhe para os cofres do município.

Não é de hoje que o prefeito Geninho (DEM) tenta fazer passar na Câmara essa benesse inexplicável para o clube que fatura milhares e milhares de reais a cada semana, e ao que consta, tem passado ao largo de qualquer tipo de crise, mormente a financeira. O que chama ainda mais a atenção, segundo as primeiras informações, é a “capciosidade” do projeto. Ele vem travestido de “projeto de incentivo ou fomento ao turismo”, cheio de firulas, texto empolado (ao que parece elaborado pelo “velho bruxo”, que sempre é acionado quando a coisa complica) para, na essência, se revelar o mesmo propósito dos anteriores, já rechaçados pela Casa de Leis e por considerável parcela da opinião pública olimpiense.

Mas, desde o princípio, nos meios políticos comenta-se que Geninho não iria desistir de seu intento, até por força de dever a ser cumprido, oriundo de acordo pré-eleitoral que teria firmado com o presidente do empreendimento, Benito Benatti. Assim, até parece fazer sentido aqueles fartos comentários de que teria havido, recentemente, um certo “estremecimento” na relação de ambos, que agora bem poderia ser explicado: o empresário deve ter-lhe cobrado de forma mais dura o cumprimento do acordo, sentindo-se, talvez, “enrolado” pelo alcaide.

Dá para imaginar que desta vez, salvo arroubos passadistas de um ou outro edil neo-governista, que o projeto será aprovado, apesar do choro e ranger de dentes que naturalmente hão de vir da parte dos contrários. E o prefeito deve estar contando com sete votos para tanto – os três da “coalizão” dando luxuoso auxílio, à guisa de “fomentar o turismo” na cidade. Mas, de novo, faltará a discussão mais aprofundada sobre esta decisão do prefeito.  Mais ainda, sobre a real necessidade dela.

O clube está em dificuldades financeiras? O que deixar de pagar será revertido para algum setor da cidade mais necessitado, por exemplo, a Santa Casa de Misericórdia? A quanto remontará esta renúncia de Receita? Por que junto ao projeto não foi anexada uma planilha constando valor de renúncia, valor a ser recebido, quanto o clube deve, e quanto pagava – se a proposta não for a de sanar inadimplência. Enfim, mais uma vez, falta clareza, como em tudo, aliás, neste Governo.

E, depois, creio estar me repetindo, mas continuo a defender a tese de que o clube deve mais à cidade, do que a cidade a ele. Muitos poderão não concordar, se apenas olharem o universo relacionado ao Thermas dos Laranjais de forma superficial. Mas, se descermos ao âmago da questão, veremos que a cidade tem sido por demais generosa com um empreendimento que visa lucro- e dá lucro enorme! -a todos que ali têm seu espaço, não importando de que forma lá chegou, uma vez que o estatuto social nem sempre é respeitado. Fomento ao turismo, deve ser o mote?

Então era importante que o projeto contemplasse outras questões, também. Por exemplo, a urbanística e de urbanidade. Sinalização de trânsito. Investimento em instituições que, com o crescimento do fluxo de pessoas, têm a responsabilidade de garantir sua integridade ou de socorrê-las de imediato, caso da Santa Casa. Qual a contrapartida que o clube dá à cidade pelo uso intenso das dependências e dos plantões do hospital? E mais: cadê estrutura para este hospital atender adequadamente os turistas que para cá veem a cada fim de semana prolongado, fim de semana comum ou temporada de férias?

Vão dizer: “Mas o clube representou um ‘boom’ no desenvolvimento da cidade.” “Que desenvolvimento?”, eu devolvo. Algo deve estar muito “torto” nesta visão e pseudo-constatação, porque acabamos de ver um IBGE apontar queda populacional nos últimos três anos, embora tudo ainda esteja no terreno das possibilidades, até da falha técnica, mas não é um bom sinal. O normal, a corroborar com a tese do “boom” econômico, seria um aumento populacional nos moldes em que era esperado, a cidade passando dos 50 mil habitantes, quiçá chegando aos 60 mil. Ninguém vai embora de uma cidade em franco desenvolvimento. Então, algo não está “batendo”.

Aí vão invocar a geração de empregos. Ok, pousadas, hoteis, têm chamado mais pessoas para trabalhar, o próprio Thermas tem feito crescer seu quadro de trabalhadores, embora um contingente considerável seja de temporários, ou periodistas- trabalham nos finais de semana, ou períodos de maior demanda -o que gera na cidade a categoria dos informais. Mas, qual a quantidade e a dimensão da mão-de-obra empregada por causa do clube? Estes números ninguém tem. Se tem, não mostra. Fora o território “turismo das águas” houve algum incremento econômico considerável?

Sei que vão invocar também o “boom imobiliário”, como consequência de uma “transformação” da cidade. Mas, o que se pode garantir é que tal “boom” ocorre dissociado do clube. Sim, porque em todo país, em toda nossa região a saga construtivista é efervescente. Ribeirão Preto, por exemplo, ainda esta semana se ressentia da falta de mão-de-obra na construção civil, em franco desenvolvimento. Portanto, é um fenômeno gerado pela ecomomia brasileira dos últimos anos. Só faltava Olímpia estar fora dele! O diferencial, talvez, é que os empreendedores estariam encontrando no prefeito Geninho um facilitador de suas ações, autorizando loteamentos à farta, de maneira talvez desordenada, como desconfiam técnicos do setor, e como de resto desordenado é tudo neste governo.

Não se pretende aqui praticar o exercício do negativismo, nem o elogio do pessimismo. Mas, ao contrário, de tratar esta questão com racionalidade, clareza e lucidez. Enquanto os homens responsáveis pelos destinos desta cidade (que já foi a “capital do café”, depois “a quarta maior produtora de laranja” do Estado, e que hoje talvez esteja entre as primeiras na produção de cana-de-açúcar, e legitimamente buscando cristalizar a “era do turismo”) não pararem, respirarem fundo, e elaborarem um traçado responsável sobre o que de fato pretendem (a gestão sustentável), vamos ficar assim, de ciclos em ciclos, de mudanças em mudanças, ao sabor do destino. E este, como se sabe, é traiçoeiro.

SE NÃO, UM EXEMPLO….
“Quase em todo feriado em que o final de semana é emendado a cena se repete: Resort, hotéis e pousadas ficam lotados; restaurantes, lanchonetes e pizzarias com filas imensas; o trânsito sofre a intervenção da Polícia Militar para desatar os ‘nós’ viários, e o Thermas dos Laranjais, principal responsável pelo ‘boom’ (olha ele aí!) turístico da cidade, tem de agir rápido para absorver essa ‘invasão’ até o seu limite. Foi o que aconteceu neste domingo, véspera de feriado de 15 de novembro.

Por volta das 9 horas de hoje, parece que todos os turistas combinaram de chegar ao mesmo tempo na portaria do Parque. Resultado: as vendas de convites tiveram de ser limitados e, quase que imediatamente, cancelados. Cerca de 140 ônibus fretados, sem contar veículos, estacionaram no parque e imediações.”

O texto acima foi publicado ontem em um site de notícias de Olímpia, mantido pelo colega Leonardo Concon. Claro que, pintado com o rosa-maravilha de sempre, passa a impressão de que se trata de um fato corriqueiro, sem maiores consequências. Mas, não é. Conforme o texto “insuspeito” diz, trata-se de uma cena que “acontece em quase todo feriado em que o final de semana é emendado”. Portanto, é algo previsível sim, e que poderia já ter sido resolvido, por meio de um programa de gestão técnica que contemplasse a dimensão do clube, e fosse norteador de sua demanda.

O impacto de uma situação como a que se viu ontem, na cidade, é muito grande. O desconforto a seus cidadãos (ainda ontem uma figura ligada às hostes zulianistas reclamava do cerceamento do seu direito de ir e vir, por conta disso [para não dizerem que é “coisa dos contra”]), é por demais grande. O desconforto do turista que vem ao clube para momentos de lazer e descontração, acaba se transformando em momentos de puro suplício, de antipropaganda para o clube. Fomentar o turismo é, também, cuidar do bem estar de quem os visita, não atulhar o parque aquático de gente, privilegiando o financeiro, somente.

E o fator humano, onde fica? Falta ao clube e seus dirigentes, no nosso entender, e de resto a nosso administrador e seus próximos, o necessário conceito turístico. Porque desenvolver turismo vai muito além do simplesmente faturar com isso e com aquilo, fomentar essa ou aquela atividade econômica. Porque tudo isso, dissociado de um sistema turístico conceitualizado, pode virar pó mais tarde, já que suas bases estão alicerçadas naquele projeto. Que talvez por falta de “foco”, pode ir por água abaixo, não querendo fazer trocadilho.

E sem, também, defender o turismo discriminatório, lê-se acima, que somente domingo, 140 ônibus fretados vieram lotados para Olímpia. Para o Thermas. Quanto isso representa de público frequentador? Calculando que cada um venha com sua lotação limite, talvez 40 ou 45 passageiros, seriam nada menos que um contingente entre 5,6 mil a 6,3 mil pessoas. Sem contar o espaço que estes veículos ocupam no estacionamento oficial, que turista bate-e-volta chega cedo. Depois veem os turistas com seus veículos, normalmente quatro pessoas, três, ou no mínimo um casal. Vem de longe, atraído pelas maravilhas do nosso parque temático.

E são mandados de volta, por falta de espaço para acomodação interna e externa. E os turistas que ficam na cidade, se hospedam nos hotéis e pousadas, movimentam em parte o comércio, como são tratados? Difícil saber. Terão lugar cativo no clube, ou correm o risco de não entrarem um dia ou outro? E, se entram, por força das reservas antecipadas, como são tratados lá dentro? Têm conforto, tranquilidade e podem “esquecer da vida” que por lá tudo está nos conformes? Ou vive constantes inquietações? Volta para casa, então, com a alma em sobressalto, quando esta deveria voltar em estado “alfa”. O que vão dizer aos amigos no trabalho, aos parentes ou a quem lhes solicitar informações sobre o “paraíso das águas quentes”?

Portanto, embutido neste projeto de “fomento ao turismo” encaminhado pelo prefeito à Câmara Municipal, bem poderiam estar contempladas outras questões, que fossem atinentes às responsabilidades do próprio município, doravante, e exigências a serem cumpridas pelo clube na relação com a cidade. Não é legítimo o município seguir a reboque do emprendimento, como parece ser o caso nesta administração. Legítimo seria o contrário. Os interesses primeiros do município e seu povo à frente.

Porque um empreendimento de porte gigantesco como o Thermas, sem um plano de gestão interna a nortear seu funcionamento, denigre não só ao próprio empreendimento, como também a cidade como um todo. E o clube, por sua vez, não pode ser visto somente como uma “máquina de ganhar dinheiro”. Há componentes humanísticos envolvidos nesta proposta. E é deles, ou por eles, que qualquer projeto neste segmento sobrevive. Ou não.

Até.