Amigos do blog, começou o Festival de Folclore aqui em Olímpia. Ainda não dá para fazer um julgamento do todo, já que ontem à noite tivemos apenas a cerimônia de abertura e apresentação de violas de ponteio. Áh, teve também a chegada da ‘mãe peregrina’, como é conhecida N.S.Aparecida.

Mas, vamos por partes. Meu temor de que ao invés de se fazer um resgate das raízes do Festival, estariam, isto sim, reiventando a festa parece não estar muito longe de setornar realidade. Pelo menos no âmbito da abertura e nas coisas outras vistas no Recinto, isso fica mais ou menos nítido. Depois voltamos a este ponto.

A coreografia de apresentação do evento foi sem novidades. Nada que não se tenha visto antes. Aliás, achei até repetitivo, discursivo, muito longo e as danças, muito extensas. Os textos já haviam sido lidos antes, em outras aberturas, pelo menos em grande parte.

E fazer mesclagem de ritmos e manifestações também não é novo. Já aconteceu em outras edições pretéritas do evento. Em síntese, achei fraquíssima a coreografia, de efeito simplório e até um tanto amadora, modorrenta.

No palco, dois apresentadores totalmente perdidos, sem textos e imaginação, o tempo todo lendo relação de patrocinadores. Errando nomes, denominações, funções de pessoas, enfim, parece terem caído ali de paraquedas, naquele momento. Um horror.

A impressão que ficou é a de que eles, terminada a cerimônia, pegariam a nave espacial e voltariam para o planeta de onde vieram, tamanho o descompasso entre o estar e o a fazer ali. Vieram os discursos, todos babões, evidenciando a figura política do prefeito, quando o foco das atenções, alí, deveria ser outro. É por isso que são importantes os ‘baba-ovos’.

Já o prefeito, no seu discurso, para justificar o fato de não trazer de volta a brincadeira do Curupira (quando entrega a chave da cidade ao protetor das matas, que passa a ‘governá-la’ durante os dias de festa), saiu-se com essa: “Não é possível entregar a chave ao Curupira, porque, desde o dia 1º de janeiro, ela já foi entregue a Jesus Cristo”. Argh! Que pérola!

E que desculpa mais esfarrapada. Além de uma analogia infame (chega a ser pior que a comparação feita entre Festival de Folclore e futebol, igualando-os na concepção popular. Outro argh!). Se a proposta é resgatar as raízes do Festival, por que, então, não trazer a brincadeira de volta? Alguém pode explicar?

(E um detalhe: após a fala do prefeito, imediatamente depois do “obrigado”, foram feitos dois disparos de fogos de artíficio que assustou o público. Por que será? Terá o setor de ‘inteligência’ do Governo detectado algo que nós, mortais, não detectamos? Segundo detalhe: o prefeito andava com seguranças pelo recinto, algo nunca visto na história da festa. Terceiro e último detalhe: lembram do camarote das ‘autoridades’? Pois é, ficou vazio, e o povo excedente, ficou de pé! Arre!)

Bom, aí é chegada a hora da ‘Mãe Peregrina’, N.S.Aparecida, entrar em cena. Um momento de ecumenismo forçado. Na verdade, nem sei o que o mestre Sant´anna acharia disso. Houve fato folclórico nesta cerimônia? Só o mestre podia dizer se sim ou se não.

De minha parte, ficou a impressão de que ali estava se processando uma busca pela ‘catolização’ (‘catequização’?) da festa. E pelos conceitos imprimidos a ela pelo mestre José, sempre tive a impressão de que o evento primava por uma espécie de laicismo no seu contexto geral.

Era um momento de congregação de todas as manifestações religiosas, de cultos e até pagãs. A ‘catolização’ de um evento deste porte, portanto, tende a excluir certos segmentos. O perigo é grande, portanto, de se deixar perder o objetivo primeiro da festa. Trocar a ‘democracia’ da fé pelo teocracia da crença.

Bem, voltemos agora ao pretenso resgate do festival. Fico temeroso, amigos, com esta tendência, que não foi explicitada na primeira noite da festa. E quero crer que privilegiar grupos da terra e da região não teve outro significado que não redução de custos. Nada contra, pelo contrário, assim começou a caminhar a nossa festa maior.

Nada mais justo que eles estarem presentes em grande escala, como aliás deveria ter sido sempre. Mas, Estados importantes – em número de sete – foram cortados. O ‘Cordão de Bichos de Tatuí’, que faz parte da infância de toda uma geração, por exemplo, foi cortado. Redução de custos.

É preciso ficar claro que há uma diferença enorme entre o ‘Revelando São Paulo’, da Ong Abaçai Cultura e Arte, com o Festival do Folclore de Olímpia. O Fefol é muito, muito maior e mais importante. Em todos os seus aspectos. Aqui não há nada a ser revelado. Pelo contrário, nosso Festival revela-se.

Então, há que se tomar muito cuidado para não se romper a tênue linha que separa a proposta de resgate com a intenção de se reinventar o que já existe por sí só. E é grande por sua significância. Não há de ser apequenado de forma alguma.