Blog do Orlando Costa

Verba volant, scripta manent – ANO XVI

Tag: Saúde

‘OPS, FOI MAL’, É TUDO QUE CUNHA TEM A DIZER SOBRE A SAÚDE?

O prefeito Fernando Cunha (PR) só pode estar de brincadeira. Passados oito meses de governo e sua principal realização continua sendo a tentativa de continuidade das obras deixadas inacabadas pelo seu antecessor. Fora isso, é só queixas e lamentações. Choro e ranger de dentes.

E quando se imagina que nada mais grave sairá dali, eis que o alcaide lança mais essas: a de que precisará de mais um ano para sanear a saúde, que o próprio meio de comunicação que lhe dá sustentação diz que está “um caos” oito meses após suas tentativas malogradas de correção de rumo; e a de que a transição feita por ele junto ao governo passado, antes de tomar posse, “foi fajuta”.

Cunha precisa de duas coisas: aprender a governar urgentemente e, enquanto isso não acontece, aprender a pensar antes de falar. “Prefeito diz que precisará de mais um ano para sanear caos da saúde”, é a manchete daquele jornal que, conforme disse, já foi um leão e hoje apenas mia feito gatinho diante do governo de turno, e que na introdução do texto dando ciência a seus leitores de tamanho desalento, tenta justificar o injustificável.

“A solução desses problemas parece estar mais distante do que era imaginado inicialmente, fazendo crer que o sofrimento dessas pessoas ainda vai demorar para chegar a um momento de solução mais rápida”, afirmou.

Perceberam a meiguice das declarações do alcaide? A que se perguntar se foram preciso oito meses para ele perceber que a solução está “mais distante do que era imaginado antes”. Imaginado por quem? Pelo gnomos? Pela fada dos dentes? E tem mais:

“Eu tenho sensos de urgência, gostaria de fazer isso para a semana que vem, mas acho que vai talvez um ano mais para a gente ter um sistema de saúde mais razoável para a população aceitar bem”.

Isso dói na alma de quem ainda nutria um fio de esperança de que estava na cadeira principal da Praça Rui Barbosa, 54, alguém assaz preparado para dar um fim às agonias prementes do cidadão pagador de impostos e usuário do sistema público de saúde.

“Em Olímpia a situação da saúde é muito ruim. Essa é a realidade. Não é porque quero criticar esse ou aquele. É uma consta­tação”, avaliou.

Em Olímpia e alhures o sistema de saúde “é muito ruim”. Portanto, o sistema de saúde em Olímpia seria ruim na medida em que não há o que fazer para melhora-lo, ou seja, a saúde local vinha sendo tocada, digamos, da melhor maneira possível, e assim sendo, Cunha candidato prometeu o que agora não tem como cumprir.

É como se chegasse agora para dizer ao povo que continuasse a sofrer as agruras de uma saúde que, aos trancos e barrancos, foi oferecida ao cidadão, com suas deficiências e carências, situação que não mudou um tiquinho sequer, a não ser para pior, uma vez que sequer alguém do ramo o governo conseguiu encontrar para gerenciar o setor.

Teve que improvisar, numa área em que improvisos geralmente redundam em sofrimento alheio quando não em mortes. Mas, não nos desesperemos, porque o prefeito disse àquela emissora amiga aqui do centro que “já entendeu os pontos mais fracos desse setor e já começou a atacar o problema. “Só que é caro e toma tempo”.

E o que o cidadão doente, que precisa de medicamento, de um exame, de uma cirurgia, de um atendimento de urgência, tem a ver com isso? Ele paga seus impostos e estes impostos têm que ser convertidos pelo menos em um atendimento digno em saúde, prover seu bem estar físico, emocional e psicológico.

E quanto a tomar tempo, digamos que tempo é o que mais um governo deve dispor para enfrentar questões prementes. Decerto, na visão do alcaide, problemas físicos como prioridades em estabelecimentos de saúde seja mais benéficos ao cidadão do que a solução de problemas estruturais de atendimento.

Reclamar, definitivamente, não deveria mais fazer parte do “cardápio” governamental de Cunha. Isso já está ficando chato.

MENOS DINHEIRO NA SAÚDE EM 2018
A propósito, para quem ainda não sabe, nos números apresentados por Mary Brito Silveira, secretária de Finanças de Cunha, na Audiência Pública sobre o orçamento para o ano que vem, os gastos previstos em Saúde estão estimados 42,6% abaixo daqueles previstos para serem investidos este ano. Ou seja, em espécie, a Saúde olimpiense, que o então candidato Cunha disse ser prioridade, terá R$ 11,6 milhões a menos em 2018.

Os gastos orçamentários em Saúde, por lei, têm limite mínimo de 15%. Cunha estima chegar a até 23%. No Orçamento em execução, estão previstas despesas no setor da Saúde de R$ 38,8 milhões, e para o ano que vem, Cunha quer despender R$ 27,2 milhões. Nessa toada, o ano que vem vai de “embrulho” também.

COMO ASSIM, TRANSIÇÃO NÃO EXISTIU?
É claro que o prefeito Cunha não ia dar esta noticia desalentadora assim, do nada. É preciso que haja um culpado, ou uma culpa para impingir a outrem e “limpar” a sua própria. Então, o que ele faz? Vem dizer que houve “falhas estruturais que prejudicou(sic) a transição de governo”. Como assim?, pergunta o Zé na esquina.

Poderíamos aqui trazer arquivos e mais arquivos dos jornais locais, eletrônicos ou impressos, constantes ou não no “portfólio” de agraciados com contratos de publicidade oficial, onde o então prefeito eleito e depois o prefeito em exercício diz de viva-voz que a transição foi um sucesso e que tudo estava em ordem.

E agora vem dizer que a tal transição “foi fajuta”? Entre outras coisas, acusando uma “concentração de poder muito grande, um autoritarismo muito grande”? Tipo de situação que deveria ter sido denunciada na hora, sem pestanejar. Por que só agora?

“Quer dizer, essa transição de governo foi fajuta, uma transição de discurso”, classificou Cunha. Ora, então foi discurso da parte dele, porque só ele falou sobre a tal transição antes, durante e depois. E nunca se queixou, pelo que nos lembramos.

“Nem mesmo sobre a fila de espera por exames ninguém tinha conhecimento”. Convenhamos que se foi feita transição na saúde e ninguém tomou conhecimento disso, alguém foi relapso.

Não se pode culpar ou alegar “autoritarismo” da outra parte, se quem está ali para obter estas informações tem todo o poder de direito e os meios judiciais para fazer valer tais direitos. Portanto…

E para concluir: Cunha disse ao filósofo, advogado e jornalista: “Havia problemas também na área de medicação que teve que ser totalmente reorganizada a distribuição de medicação”.

E nós contribuímos com uma informação ao prefeito: este setor não está reorganizado coisa nenhuma, e a distribuição de medicamentos continua do mesmo jeito, ruim à beça, embora já tenhamos nos deparado com  relatos de que tenha piorado em relação ao sistema anterior.

Enfim, de tudo o que o alcaide disse àquela emissora amiga, pode-se tirar uma única conclusão: a de que ele veio a público expressar o seu “Ops, foi mal!”.

O DILEMA QUE TODOS OS PREFEITOS QUERIAM

Em entrevista concedida pelo prefeito Fernando Cunha (PR) a uma emissora de rádio local, na segunda-feira, 13, de tudo o que foi dito ganhou relevância um detalhe não-explícito de sua fala. O prefeito, na medida em que vai tomando assento no cargo de fato, vai também percebendo o mar de dificuldades e já começa a ensaiar o discurso da “herança maldita”.

E esta “herança” seriam as obras por acabar, como a urbanização da Aurora Forti Neves, a Estação de Tratamento de Esgoto, a Estação de Tratamento de Água, a ETA seca, a creche do Morada Verde, todas entregues ao novo mandatário com mais da metade concluída. Um outro projeto gigante, o aeródromo, foi entregue apenas no papel, com parte de área comprada, que Cunha vai abandonar.

No caso da avenida, Cunha diz ter tido problema técnico, porém solucionáveis a médio prazo, e no caso da ETA, o alcaide diz ser impossível tocar o projeto nos moldes em que foi elaborado. Pretende abandona-lo também.

De cinco obras grandes e importantes, Cunha já desistiu de duas. Outras três, por imprescindíveis, deverá toca-las até o fim. As três, coincidentemente ou não, já têm recursos alocados, seja do Estado, seja da União. Até mesmo a ETA seca tinha recursos alocados. Somente o aeródromo era dinheiro do caixa próprio.

Esta semana surgiram informações sobre um eventual abandono de 50% da frota de ambulâncias, todas avariadas, algumas já fora de uso e outras recuperáveis. De 21 unidades de pronto-atendimento, 11 estavam paradas. Cunha arriscou dizer que talvez isso tenha ocorrido por ser “fim de governo” e por isso o desinteresse em recuperar tais veículos.

Bom, ele tem agora a chance de resolver o problema. Haja vista que, segundo informações extra-oficiais, o caixa da Saúde teria sido entregue a ele recheado com R$ 3 milhões. Outros R$ 2,4 milhões seria o saldo entregue a ele pela Daemo, além de R$ 1,6 milhão disponível no caixa da própria prefeitura. A Prodem chegou com mais de R$ 1,5 milhão de prejuízos, mas aí já é outro assunto.

Convenhamos que para os dias turbulentos e incertos que o país atravessa também no aspecto econômico, e tendo um prefeito que não via vantagem do dinheiro em caixa mas, sim, sendo investido em uma coisa ou outra, que muitos chamavam de perdulário, não é pouca coisa.

Cunha não reclamou até agora, pelo menos, de dificuldades financeiras prementes. Ou seja, teria recebido uma prefeitura “redondinha”, malgrado pequenos detalhes aqui e ali. Tecnicamente, uma prefeitura “grande”, que ele pretende “enxugar”, porém espera-se sem problemas de continuidade, e administrativamente, recebeu uma prefeitura sem carências, embora cada mandatário tenha lá sua visão de mundo.

Este comentário é apenas uma precaução para o caso de a tal “herança maldita” se tornar um mantra na atual gestão, que não a teria vislumbrado quando da transição de governo. Ao contrário, até elogiou o legado.

Portanto, se tal assertiva passar a constar de forma rotineira nas falas de Cunha, será irresistível crer que o problema não está no que ele recebeu. Mas nele próprio.

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