Sempre ressaltando que não se quer dizer aqui que neste aspecto piorou, melhorou ou está igual, é preciso insistir em que, a permanecer assim, o cidadão vai continuar sendo sacrificado e, no mais das vezes, tendo a vida abreviada. Falamos da burocracia no atendimento público em saúde na cidade.

Claro que alguém poderia argumentar: “É assim em todo lugar”. Ao que outro alguém poderia responder: “Mas eu não moro em todo lugar”. Sim, moramos em Olímpia, cidade que por acachapante maioria de votos elegeu um prefeito que prometeu resolver o problema crônico que a saúde sempre foi nessa urbe, eliminando seus gargalos.

E talvez o mais crítico e urgente deles seja o do atendimento burocrático, do tipo marcar consulta-ser atendido-pedir o exame-fazê-lo-obter o resultado-e continuar o tratamento.

  1. A consulta nunca se marca para tempo a seguir, a espera é sempre longa e aflita. 2) O atendimento, nunca se sabe se será a contento ou mesmo se o Dr. não estará de férias, doente, de ressaca ou simplesmente “muito ocupado” para estar lá agora. 3) Se atendido, havendo pedido de exame, a sua realização é para no mínimo 30 a 40 dias depois. 4) Feito o exame, a angústia fica por conta de quando se terá o resultado, e se se terá o resultado quando dizem que terá. 5) E continuar o tratamento implica nos ítens um e dois desta narrativa.

Exemplos não faltam. Como o de um senhor que veio da Bahia somente para fazer a revisão de um (…) e tinha que voltar em seguida e não podia voltar sem fazer a tal revisão. Resultado: Voltou sem fazer a revisão, mesmo depois de “chorar” muito para os atendentes.

Como ele, outros três a quatro pacientes tiveram a mesma “sorte”. Por quê? O técnico responsável “costuma atrasar bastante em seus horários ou às vezes nem aparece, e nem avisa”. Ou às vezes, está de férias.

Como foi o caso de outro paciente que foi buscar resultado de exame de sangue dentro do “a partir de 15 dias úteis” solicitado, até com dois a mais do prazo estipulado, e recebeu a seguinte resposta: “O médico está de férias, só volta em abril”. Ele pergunta: “Quando, mais ou menos em abril eu posso vir buscar”. Ela: “Não sei te dizer, porque quando ele voltar terá um MONTE de laudo para fazer antes do teu”.

Ou um resultado de Raio-X, com prazo estipulado para ser retirado e, chegando lá, o paciente ouve da funcionária apenas “ainda não está aqui”, após uma rápida passada de olhos pelas caixas em volta. Detalhe: o exame foi feito em fins de fevereiro. A procura foi em fins de março.

Mais um exemplo? Um exame aguardado por cerca de 30 dias, a pedido do médico que atendeu o paciente cerca de 40 dias após o agendamento. No dia de ser realizado, fins de março, o paciente tomou um medicamento inadvertidamente, e teve que adiar o tal exame. De 28 de março para 4 de maio! *

Certamente há outros e até piores exemplos, como os de pessoas em estado grave que não podem esperar, que lutam contra o tempo para preservar sua vida ou de um ente querido. Mas tem que vencer, antes, a infernal burocracia.

A pessoa precisa de um diagnóstico para fazer o tratamento. De imediato, precisa de uma receita, para saber que remédios tomar. Em seguida precisa do medicamento, para se tratar. Aí precisa realizar o exame que o médico prescreveu, a fim de saber o grau de sua enfermidade. Depois, precisa deste exame para levar ao médico. Para tanto, precisa ter uma data para que este médico o atenda. Atendido, com muita sorte dá inicio ao tratamento, efetivamente.

Quanto tempo terá se passado, entre o diagnóstico e o efetivo início do tratamento? No mínimo meses, às vezes ano. Casos de pessoas que faleceram antes que o desafortunado paciente cumprisse uma destas etapas tem aos montes, infelizmente.

Portanto, ainda que a situação seja igual em qualquer lugar, por aqui ela pode ser diferente. Basta que haja vontade administrativa. Porque obrigação este governo tem. Se não por razão de fazer, pelo menos por razão de cumprir promessas de campanha. Porque a burocracia tem sido o caminho mais curto para a morte de quem depende da saúde pública em Olímpia.

PS: Só não vale o prefeito de turno sair-se com o malfadado e irritante “isso vem da gestão passada”, porque já cansou este bordão.

(*Nomes, especialidades e setores foram preservados para evitar constrangimentos ou qualquer outra situação desagradável)

A cidade sucumbirá em uma montanha de papeís?

burocracia
substantivo feminino
sistema de execução da atividade pública, esp. da administração, por funcionários com cargos bem definidos, e que se pautam por um regulamento fixo, determinada rotina e hierarquia com linhas de autoridade e responsabilidade bem demarcadas.
2 -esse corpo de funcionários; a classe dos burocratas.