O provedor da Santa Casa de Misericórdia de Olímpia, advogado Mário Francisco Montini, sucumbiu às pressões oriundas do Poder Público. Vai renunciar ao cargo na próxima quinta-feira, dia 30. Colocará a proposta em votação na assembléia convocada para a tarde/noite daquele dia.
Inicialmente, a renúncia será dos membros da diretoria executiva (Provedoria), depois, eventualmente, do conselho fiscal e sócios. Na ocasião também será definida a nova diretoria.
Não se espante o caro leitor (ou melhor, espante-se sim, pasme, até!) porque este é mais um episódio da triste série “Santa Casa de Olímpia e as idiossincrasias” dos mandatários de turno.
Embora se tente fazer passar à opinião pública que o único hospital de Olímpia estaria à margem dos interesses políticos de momento, conforme aquele desprezível texto emanado da mente obscurantista importada de outras plagas para estas terras de São João Batista, na verdade ela sempre esteve a reboque do poder político.
Quando não, antes esteve a reboque do poder religioso, quando era comandada pelas irmãs católicas e a Paróquia -então regida por interesses paroquiais, a propósito?
Não está claro quando, exatamente, ela saiu das mãos dos paroquianos e foi se instalar na plataforma dos interesses políticos. Cremos ser de mais de 30 anos para cá, sobrevivendo, portanto, a pelo menos, talvez, sete prefeitos (conto de memória), sendo que três deles estiveram na cadeira por duas vezes cada (José Rizzatti [1989-1992 e 1997-2000], Carneiro [2001-2008] e Geninho [2009-2016]) e um quarto, foi mandatário da cidade por seis anos (Wison Zangirolami [1983-1988]).
Nos dois governos Rizzatti, que foram entremeados com a gestão de José Carlos Moreira (1993-1996), gente dele sempre ocupou a vaga de provedor e as demais constantes da diretoria como um todo. Ele próprio, Rizzatti, já foi provedor de lá*.
No governo Moreira, a mesma coisa. Porém, nestes períodos, tais situações seguiram aceitas como da maior normalidade pela opinião pública e os entes políticos de então. Não se dava à Santa Casa, ainda, a importância pública que passou a desfrutar depois, nas gestões de Carneiro e Geninho.
Aquele hospital era péssimo, então, mas havia uma enorme passividade da população em relação a ele. Talvez por ainda voltear por sobre o nosocômio, a “fumaça” do paroquianismo. Respeitava-se como dádiva santa, o hospital, que é Santa Casa, aliado às imagens das fluidas irmãs de caridade.
Porém, uma guerra nada santa parece ter se iniciado na gestão Carneiro. Aquele hospital teve até trancas automáticas colocadas na porta que separava o pronto socorro da ala interna do hospital. Brigas constantes, imprensa em cima, provedores despreparados. Na ponta final, cidadão mal amparado.
Foi na segunda gestão Carneiro que um grupo de abnegados olimpienses, tendo à frente a advogada Helena de Souza Pereira, decidiu montar chapa para assumir o hospital, uma vez que o grupo de então já dava mostras de exaustão e incapacidade administrativa, tanto que não criaram obstáculos para que o grupo novo e distanciado do poder público assumisse as rédeas.
E ninguém pode negar que foram tempos de bonança para o hospital, muitas vezes largamente elogiado por este blog, já que ali alcançara-se aquela situação ideal para que uma instituição possa sobreviver e contar com a adesão in incontinenti da população, do cidadão comum, conforme se verificou.
Grupos se formaram para dotar o hospital de roupas de cama e de banho trabalhadas, orgulhosamente e gratuitamente por senhoras; voluntários(as) se dispondo a todo mês levar alimentos e outros ítens necessários ao hospital; problemas de infra-estrutura sendo resolvidos, gerenciamento médico não deixando a desejar e até anexos como Hospital do Olho e novo PS construídos.
Tudo isso para pouco tempo depois, mudada a administração, ser derrubada aquela diretoria, por interesses políticos do prefeito de então, que queria gente dele na direção do hospital. Lembrando que houve a passagem triste em que Helena Pereira aproximou o hospital do então candidato Geninho, levando a Santa Casa para a campanha eleitoral.
O prefeito, logo depois que assumiu, declarou “guerra” à diretoria, da qual participaram médicos e Ministério Público. Houve comoção popular à época, mas de nada adiantou. Tomou a Santa Casa e passou a coordenar sua diretoria, partindo do vice-prefeito, Luiz Gustavo Pimenta, que foi o “interventor”, depois Marcelo Galette e finalmente, por duas gestões, Mário Montini, que ora renuncia.
A partir daí, é esperar para ver quem será o nome que o mandatário Cunha (PR) irá impor à diretoria que deve ser votada na próxima quinta-feira. Porque não se iludam, Montini renuncia por pressão política. E Cunha pressiona porque não o quer lá.
Um ato político meramente. Difícil imaginar que tenha finalidade técnico-administrativa, haja vista que há tempos aquele hospital deixou de figurar nas manchetes de jornais ou escaladas de emissoras de rádio ou até TVs regionais como uma instituição que presta maus serviços. Como ficará a partir de agora, é incógnita. A ver.
* Existe a possibilidade de que para a provedoria do Hospital seja escalado o ex-prefeito e ex-provedor José Fernando Rizzatti. O que poderá estar por trás disso, caso seja confirmado, será a tarefa deste blog descobrir.