Blog do Orlando Costa

Verba volant, scripta manent – ANO XVI

Tag: José Carlos Moreira

CUNHA SERÁ O ÚLTIMO PREFEITO A NÃO SE BENEFICIAR DA REELEIÇÃO?

Desde a implantação do instituto da reeleição para presidente, governadores e prefeitos, pelas vias tortas de FHC, em 1997, apenas um prefeito olimpiense não conseguiu chegar lá: José Fernando Rizzatti que, se reeleito, governaria a cidade por três mandatos, sendo o primeiro de 1989 a 1992, após o que foi substituído no cargo por José Carlos Moreira (1993/1996).

Nas eleições de 1996, Rizzatti foi beneficiado pela total inanição política de Moreira, que sequer tinha candidato para indicar ao cargo após seus quatro anos de mandato. Também negociações de bastidores envolvendo “derrapadas” administrativas de Moreira forçaram-no a ficar silente e deixar Rizzatti à vontade, para disputar contra candidatos inviáveis.

Este, então, cumpriu seu período de quatro anos e buscou a reeleição conforme a nova lei autorizava. Arrancou bem, tinha a vitória luzindo no horizonte, mas negligenciou ante seu oponente que, de um candidato improvável, acabou abocanhando o pleito, para surpresa de ambos os lados.

Luiz Fernando Carneiro, eleito pelo então PMDB coligado com o PT, tendo como vice o oftalmologista Guilherme Kiil Jr., venceu a eleição no limite mínimo, tomou posse e logo nos primeiros meses de governo estava no maior “pé-de-briga” com seu vice, que acabou por romper com o alcaide e passou a ser estilingue contra seu governo.

A desavença acabou atingindo de morte o partido a que o vice pertencia, uma vez que próceres petistas integravam o governo e se recusaram a seguir o vice. Mas esse é outro assunto.

Quando de sua campanha à reeleição, em 2004, Carneiro teve enormes pedreiras à frente, como a candidatura do advogado Celso Mazitelli Júnior que, impulsionado pelo médico Nilton Roberto Martinez como seu vice, saiu do zero e quase chega lá, não fosse a intromissão de José Fernando Rizzati, que declaradamente se candidatara “a fim de atrapalhar o Nilton’, conforme seus próprios assessores diziam à época.

E conseguiu: os votos “desviados” a ele poderiam ter sido em grande parte destinados a Mazitelli, que dadas as circunstâncias daquela campanha, venceria Carneiro. O ex-vice de Carneiro, Guilherme Kiil, também se candidatar a prefeito naquela eleição, mas sem maiores surpresas. O então prefeito se reelegeu, e o restante da história todos conhecem.

Chega 2008 e surge a candidatura Geninho Zuliani. Carneiro lançara mão de seu então vice, o médico José Augusto Zambom Delamanha, como candidato a prefeito, tendo Cristina Reale como vice.

Nas idas e vindas da campanha, com a candidatura Delamanha sendo difícil de carregar e Geninho correndo aceleradamente, a situação se inverteu e este venceu as eleições que tiveram, nos momentos finais, altos níveis de suspense, com o crescimento vertiginoso do então “outsider” Walter Gonzales, que disparou na preferência eleitoral, porém tardiamente, no dia da eleição.

Quatro anos depois, 2012, Geninho vai para a reeleição contra, entre outros, João Magalhães, representando a facção então derrotada quatro anos antes. E sofre uma derrota acachapante, com Geninho abocanhando mais de 73% dos votos válidos. Performance que pegou a muitos de surpresa, uma vez que o primeiro mandato genista havia sido um pouco conturbado.

Em 2016, episódio recente, todos se lembram, surgiu a candidatura Fernando Cunha, olimpiense há quase 20 anos afastado e desligado dos problemas da cidade e da política, depois de uma passagem medíocre pela Assembleia Legislativa de São Paulo, não alcançando a reeleição em 1998.

O prefeito já está há dois anos e meio no cargo, tem criado muitas situações desagradáveis, que conspiram contra sua própria recandidatura, já anunciada aos quatro ventos a não muito tempo atrás.

Tem muitos desafetos pela cidade, tem um eleitorado que, aparentemente em sua maioria, sente ojeriza pelo alcaide. Criou atritos com o funcionalismo, menosprezando-o, tem apoio mecânico da Câmara de Vereadores, com uma maioria duvidosa. E, consta, ainda, não ter o prefeito boa aceitação popular, estando em situação bastante delicada nos levantamentos apresentados.

Resta saber se Cunha será o último prefeito de Olímpia a ficar no poder por dois mandatos, ou o último prefeito de Olímpia a voltar para casa após apenas quatro anos no poder.

Fatos coincidentes: Zé Rizzatti não se reelegeu prefeito no primeiro ano de validade da lei. Cunha não se reelegerá no último ano de validade desta mesma lei? Ou será o último prefeito da Estância a ser brindado com esta possibilidade? A ver.

Histórico

A reeleição nunca fez parte das Constituições brasileiras até a Emenda 16, de 1997, cujo processo de análise se iniciou em 1995 – PEC 1/95, apresentada pelo deputado Mendonça Filho (DEM-PE).

Desde antes de sua implantação, o tema não obteve consenso no Parlamento. Seus defensores argumentam que quatro anos de mandato podem se mostrar insuficientes para a implantação de projetos de governo mais duradouros.

Os contrários argumentam que a reeleição permite o uso da máquina pública e desvia o mandatário/candidato das atribuições da governança no ano de eleições. Outros defendem mandatos maiores para compensar o fim da reeleição.

CUNHA PRECISA DE UM CONCEITO DE GOVERNO PARA CHAMAR DE SEU

Como resquício das reflexões a propósito daquilo que postamos aqui na quarta-feira, Dia de Todos os Santos, véspera de Finados, o que nos remete àqueles que estão mortos e enterrados, e nos remete, por analogia, ao ano “finado” de 2017, nos veio à mente que Cunha não fez a lição de casa em dez meses, e que nada fará nestes dois meses restantes.

Na postagem anterior falamos sobre a celeridade com que o alcaide trocou quatro secretários, por exemplo, (incluindo o superintendente da Daemo Ambiental, cuja função é equivalente à de secretário), e só depois nos veio à mente algo similar a isso: o governo de José Carlos Moreira (1993-1996), onde trocar secretários e assessores do alto escalão era todo dia, praticamente.

Embora por questões bem diversas daquelas anotadas em Cunha, já que Moreira era político conciliador, afável e respeitoso aos seus subordinados. Porém, o seu quadro era uma verdadeira roda-viva. O atual mandatário caminha para isso, também, se não tomar as devidas precauções, os devidos cuidados e serenar os ânimos no trato com aqueles que o rodeiam.

Quando se conversa com esse ou aquele próximo ao prefeito, o que ressalta, sempre, é o comportamento irascível deste, a provocar fissuras desnecessárias. Afinal, toda forma de administração deve obedecer a uma dinâmica colegiada, não a um culto à personalidade.

Por mais que Cunha apregoe ser um gestor na função de prefeito, e não um político a ocupar a cadeira principal da Praça Rui Barbosa, este gestor deve deixar aflorar o necessário pendor político, quando em vez, se quiser chegar a algum lugar, a algum porto seguro.

Bom ressaltar que ele tem mantido a Câmara de Vereadores a rédeas curtas, tem recebido elogios até gratuitos da maioria dos senhores edis, mas também há que se ressaltar, o alcaide nunca precisou colocar a Casa à prova, com projetos polêmicos, e aqueles que geraram algum debate foram aprovados, ou não, mediante decisões equivocadas, se não dos edis, do próprio governo.

Findo 2017, há que se aguardar o que trará 2018 em nível governamental no município, pois há projetos esboçados, embora nenhum que seja do interesse coletivo, para serem executados, então.

Espera-se que também aqueles que foram anunciados com pompas e circunstâncias este ano saiam do papel. E que Cunha resolva a questão da coleta do esgoto, porque está muito feio aquela obra da ETE à beira da rodovia, parada, uma obra gigantesca à soldo do Estado, e cujo governador o prefeito desta urbe reputa como seu grande parceiro político.

Olímpia precisa, e urgente, daquela ETE. Não foi Cunha quem disse durante a campanha que poderia entrar no Gabinete do governador “sem bater à porta”, tal a afinidade entre ambos? Na verdade, Cunha, até hoje, sequer foi ao corredor do Bandeirantes, pelo que se sabe.

Nenhuma autoridade de peso esteve por aqui nestes dez meses. Havia uma que viria, o ministro de Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, anunciado com alarde pelo semanário que mia, para a entrega do último lote do “pacote habitacional” de Geninho, mas deu o cano. Melhor para Cunha, porque o homem acaba de se meter até o pescoço na Lava-Jato.

Falta ainda conceito ao governo Cunha. Pelo menos não é possível distingui-lo nesta salada indigesta que é a atual administração. Na verdade, não há conceito de governo, porque nem governo há, ainda.

Todos os olimpienses, com  certeza, esperam que a fase da mediocridade administrativa de Fernando Cunha encerre-se com 2017, enterre-se com ele. E que para 2018, o Instituto Áquila já tenha elaborado uma “apostila de governança” detalhando o “A,B,C,D” administrativo, o que é preciso fazer para ser um bom prefeito.

E nem precisa ser melhor que o antecessor, que nesta toada vai ser mesmo impossível, mas que passe ao cidadão a sensação de que há um conceito administrativo estabelecido. Ou simplesmente uma conceituação de governo que ele possa chamar de sua.

MONTINI RENUNCIA À SANTA CASA NA 5ª; QUEM SERÁ O ‘UNGIDO’ DE CUNHA?

O provedor da Santa Casa de Misericórdia de Olímpia, advogado Mário Francisco Montini, sucumbiu às pressões oriundas do Poder Público. Vai renunciar ao cargo na próxima quinta-feira, dia 30. Colocará a proposta em votação na assembléia convocada para a tarde/noite daquele dia.

Inicialmente, a renúncia será dos membros da diretoria executiva (Provedoria), depois, eventualmente, do conselho fiscal e sócios. Na ocasião também será definida a nova diretoria.

Não se espante o caro leitor (ou melhor, espante-se sim, pasme, até!) porque este é mais um episódio da triste série “Santa Casa de Olímpia e as idiossincrasias” dos mandatários de turno.

Embora se tente fazer passar à opinião pública que o único hospital de Olímpia estaria à margem dos interesses políticos de momento, conforme aquele desprezível texto emanado da mente obscurantista importada de outras plagas para estas terras de São João Batista, na verdade ela sempre esteve a reboque do poder político.

Quando não, antes esteve a reboque do poder religioso, quando era comandada pelas irmãs católicas e a Paróquia -então regida por interesses paroquiais, a propósito?

Não está claro quando, exatamente, ela saiu das mãos dos paroquianos e foi se instalar na plataforma dos interesses políticos. Cremos ser de mais de 30 anos para cá, sobrevivendo, portanto, a pelo menos, talvez, sete prefeitos (conto de memória), sendo que três deles estiveram na cadeira por duas vezes cada (José Rizzatti [1989-1992 e 1997-2000], Carneiro [2001-2008] e Geninho [2009-2016]) e um quarto, foi mandatário da cidade por seis anos (Wison Zangirolami [1983-1988]).

Nos dois governos Rizzatti, que foram entremeados com a gestão de José Carlos Moreira (1993-1996), gente dele sempre ocupou a vaga de provedor e as demais constantes da diretoria como um todo. Ele próprio, Rizzatti, já foi provedor de lá*.

No governo Moreira, a mesma coisa. Porém, nestes períodos, tais situações seguiram aceitas como da maior normalidade pela opinião pública e os entes políticos de então. Não se dava à Santa Casa, ainda, a importância pública que passou a desfrutar depois, nas gestões de Carneiro e Geninho.

Aquele hospital era péssimo, então, mas havia uma enorme passividade da população em relação a ele. Talvez por ainda voltear por sobre o nosocômio, a “fumaça” do paroquianismo. Respeitava-se como dádiva santa, o hospital, que é Santa Casa, aliado às imagens das fluidas irmãs de caridade.

Porém, uma guerra nada santa parece ter se iniciado na gestão Carneiro. Aquele hospital teve até trancas automáticas colocadas na porta que separava o pronto socorro da ala interna do hospital. Brigas constantes, imprensa em cima, provedores despreparados. Na ponta final, cidadão mal amparado.

Foi na segunda gestão Carneiro que um grupo de abnegados olimpienses, tendo à frente a advogada Helena de Souza Pereira, decidiu montar chapa para assumir o hospital, uma vez que o grupo de então já dava mostras de exaustão e incapacidade administrativa, tanto que não criaram obstáculos para que o grupo novo e distanciado do poder público assumisse as rédeas.

E ninguém pode negar que foram tempos de bonança para o hospital, muitas vezes largamente elogiado por este blog, já que ali alcançara-se aquela situação ideal para que uma instituição possa sobreviver e contar com a adesão in incontinenti da população, do cidadão comum, conforme se verificou.

Grupos se formaram para dotar o hospital de roupas de cama e de banho trabalhadas, orgulhosamente e gratuitamente por senhoras; voluntários(as) se dispondo a todo mês levar alimentos e outros ítens necessários ao hospital; problemas de infra-estrutura sendo resolvidos, gerenciamento médico não deixando a desejar e até anexos como Hospital do Olho e novo PS construídos.

Tudo isso para pouco tempo depois, mudada a administração, ser derrubada aquela diretoria, por interesses políticos do prefeito de então, que queria gente dele na direção do hospital. Lembrando que houve a passagem triste em que Helena Pereira aproximou o hospital do então candidato Geninho, levando a Santa Casa para a campanha eleitoral.

O prefeito, logo depois que assumiu, declarou “guerra” à diretoria, da qual participaram médicos e Ministério Público. Houve comoção popular à época, mas de nada adiantou. Tomou a Santa Casa e passou a coordenar sua diretoria, partindo do vice-prefeito, Luiz Gustavo Pimenta, que foi o “interventor”, depois Marcelo Galette e finalmente, por duas gestões, Mário Montini, que ora renuncia.

A partir daí, é esperar para ver quem será o nome que o mandatário Cunha (PR) irá impor à diretoria que deve ser votada na próxima quinta-feira. Porque não se iludam, Montini renuncia por pressão política. E Cunha pressiona porque não o quer lá.

Um ato político meramente. Difícil imaginar que tenha finalidade técnico-administrativa, haja vista que há tempos aquele hospital deixou de figurar nas manchetes de jornais ou escaladas de emissoras de rádio ou até TVs regionais como uma instituição que presta maus serviços. Como ficará a partir de agora, é incógnita. A ver.

* Existe a possibilidade de que para a provedoria do Hospital seja escalado o ex-prefeito e ex-provedor José Fernando Rizzatti. O que poderá estar por trás disso, caso seja confirmado, será a tarefa deste blog descobrir.

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