Dando uma olhada na Resolução revisada pelo Tribunal Superior Eleitoral esta semana, entende-se a pressa do prefeito Fernando Cunha (PSD) em fazer inaugurações de obras inacabadas nos últimos dias, promovendo em paralelo, perigosas aglomerações (vide o caso do presidente da Câmara, com suspeita de Covid-19).
Mas, também entende-se a pressa em usar a pena na troca de nomes de assessores comissionados na quinta e sexta-feira passadas, com a nomeação de oito assessores de Gabinete I e II, e a exoneração de seis deles.
Em que pese a inexatidão das atividades destes assessores, circulou por aí que as nomeações no apagar das luzes da gestão Cunha eram necessárias, “porque os que estavam saindo trabalhavam, sim”.
Na verdade, o que se sabe é que os que deixaram suas funções (sejam lá quais forem), na verdade o fizeram porque são pré-candidatos a vereadores. O que se configuraria, no mínimo, em uma quebra de ética e moralidade, já que não ilegal, praticada pelo alcaide.
Desde os primórdios se sabe que estas figuras seriam concorrentes a uma cadeira na Casa Legislativa. Então, como imaginar que estas personas trabalharam, agiram, de forma isenta e absolutamente técnica ao longo destes quase quatro anos mantendo contato direto com o cidadão?
Há indicações de que um ou outro era responsável por receber currículos de gente incauta em busca de uma colocação em terceirizadas; outros eram responsáveis por manter sólida a ponte do poderoso de turno com as igrejas evangélicas; outros ainda, ficaram responsáveis por arregimentar “simpatizantes” para a corrida reeleitoral de Cunha.
E, até mesmo, houve aqueles que detinham em mãos as chaves de todas as portas da Secretaria de Saúde para, digamos, os casos de ulteriores necessidades.
Portanto, é possível que admitamos ter havido aí, favorecimento pessoal, político e eleitoral? Teria havido aí uma “casta” de candidatos ao Legislativo, privilegiada de forma absurda, e com dinheiro público? Ninguém nos poderá tirar o direito de formular tal pensamento, de ter tal convicção.
E, quando voltamos as atenções para aqueles que entram, só piora esta imagem indecorosa que formamos do momento, uma vez que todos eles, de uma forma ou de outra, representam aquela velha fórmula de se fazer política, ou seja, “primeiro os nossos”.
Ligações com políticos alinhados, ex-detentores de cargos legislativos que precisam ajeitar aqui e ali familiares ou agregados eleitorais, que indiretamente seriam pagos pelos cofres públicos para pedir votos por aí, sejam para o candidato proporcional, seja para o candidato majoritário.
A isso se pode denominar vergonha administrativa. Desrespeito com o que é público, da maioria, em favor de uma minoria privilegiada. E as nomeações destes últimos dois dias da semana foram de certa forma tão descaradamente político-eleitorais, que chega a dar náuseas.
E vem demonstrar como o poder corrompe almas, derrete preceitos morais, entorta intenções, e transforma lisuras em vale-tudo na busca pela manutenção do status quo político.
Na conclusão deste texto, entendo que caberia bem uma assertiva do então candidato a presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, cuja gênese extrapola a capacidade de absorção de seu significado por nosotros comuns: “É a política, estúpido!”.