Não sei se me sinto lisonjeado ou envergonhado. Se for para sentir lisonja, que seja pelo motivo piegas de ter minha “biografia” profissional ser toda destrinchada pelo mais improvável dos colegas de ofício. Se for para sentir vergonha, com certeza ela será alheia.

No primeiro caso tive meus qualificativos profissionais evidenciados para quem quis ouvir, já que na escrita o foco foi outro -áh, os mistérios gozosos da política… Mas, enfim, às vezes o ciúme faz destas coisas. Ao nos ressentirmos de algo em relação a outrem, sempre que fazemos a crítica ela vem precedida de elogios.

Assim, vou considerar como elogios aquilo tudo que o colega daquele semanário que por estes tempos mia, feito gatinho à procura do pires com leite, quando em outros tempos urrava, feito leão em busca da carne para saciar a fome, disse.

Não pretendo gastar muito latim em relação ao ocorrido, porque não me pareceram lúcidas as ponderações do colega porque, quem tem telhado de vidro, não deve atirar pedra em quem não o tem.

A verdade é que encontro dificuldades para elaborar este texto, dada a surrealidade da situação. Alguém se arvorar no direito de vigiar outrem, de fazer às vezes e às vozes daqueles que têm o mando, e ainda tentar disfarçar que não é bem assim. Posar de “isentão”, quando bem sabemos quais e quantas são as ramificações.

Na intenção de atacar, o colega apenas deixou de público o quilate de meu profissionalismo na área e, assim, por vias tortas, avaliza aquilo que tentava criticar. Aquilo que taxou como “imoral”, por ilegal não ser.

Perfeito. É mesmo imoral alguém ser contratado para fazer aquilo que “sempre fez na vida”, conforme o colega atesta. Para fazer aquilo que todos vão ver se está sendo feito ou não, se está sendo bem feito ou não, principalmente os responsáveis pela contratação.

Agora, e aquele que se contrata para realizar serviços obscuros, como em um almoxarifado, por exemplo (consiste no lugar destinado à armazenagem em condições adequadas de produtos para uso interno. O setor de almoxarifado exige o controle do estoque).

Você, nobre leitor, conhece, tem algum amigo, um vizinho, um colega de mesa de bar que diga “sou almoxarife”? Você logo vai perguntar: “E o que você faz”? É certo que exige uma noção de ordem e até um certo conhecimento do setor. Mas, convenhamos que qualquer pessoa interessada pode trabalhar ali.

Mas, quem garante que esta ou aquela pessoa está a desempenhar bem o seu papel? Quem garante que está trabalhando de fato? Quem garante que, numa empresa pública, este cargo ou função não é apenas um favor que se presta a alguém? Ou uma troca que se faz com alguém?

Falar do que é moral ou imoral em situações como as que atravessamos é uma linha fina entre a lucidez e a desrazão.

Nada que se faz à luz do sol é imoral. Aliás, já se disse que ela, a luz do sol, “é o melhor desinfetante”. Não posso esconder o que me chateia -e sei que não deve ser fácil a dependência parental-, para atirar no outro a pedra que está no meu próprio sapato.

E, no mais, a correlação que faz entre ser ou estar a serviço do ex-prefeito Geninho, de ter criticado-o e depois passado a defende-lo, seria fácil explicar caso fosse do interesse dele.

Assim como, também, poderia ele explicar por que nos primeiros tempos da gestão Geninho, chegou a lançar o epíteto de “melhor prefeito de todos os tempos” para aquele político que agora critica de forma doentia.

De minha parte é fácil explicar ou até mesmo nem carece de explicações. Aquele que possui um grão de arroz de massa cinzenta compreende. E dada minha biografia ora enaltecida pelo nobre colega, entenderão melhor ainda.

E ele, pode explicar a súbita mudança que o fez, ao longo dos anos da gestão passada, esquecer o “a,b,c” do jornalismo, a cartilha “caminho suave” do ofício para simplesmente atacar, atacar e atacar, sem jamais dar espaço ao outro lado, que embora, a bem da verdade, pouca questão fazia disso, sabedora de que até a resposta mais embasada na verdade seria distorcida?

Assim, sempre que alguém for invocar tais adjetivos -moral/imoral-, precisa antes fazer um exame de consciência, atentar bem para discernir se não está exercendo, a seu bel prazer, o caráter consciente e refletido de moralidade, ou seja, se não está impregnado na alma de um mal disfarçado comportamento amoral.