Blog do Orlando Costa

Verba volant, scripta manent – ANO XVI

Tag: 53º Festival do Folclore

A ‘VILA BRASIL’ RETOMARÁ SEU LUGAR DE DESTAQUE NO FEFOL?

Os vereadores Antonio Delomodarme, o Niquinha, e Helio Lisse Júnior, trataram na sessão da Câmara de segunda-feira passada, 3 de julho, entre outras coisas, do “desmonte” da Vila Brasil no Recinto do Folclore, solicitando à secretária Tina Riscali que restitua a ela o Galpão Crioulo e o Curral, ambos derrubados, sob a alegação de má conservação e perigo a terceiros.

Sem estes dois componentes, a Vila Brasil – cujo objetivo é resgatar as memórias do “Brasil caboclo”, tão afeitas ao Festival do Folclore – fica descaracterizada naquilo que representou ao longo dos últimos 10 anos, pelo menos.

É para lá que vão, nas noites de festa, aqueles que gostam de uma boa música raiz, um tocar de viola, um cantar acaipirado. Também aqueles que buscam um sabor da memória com suas comidas comuns no passado remoto e até o cafezinho feito à moda antiga, no fogão a lenha.

Os vereadores, como a totalidade daqueles que amam o Festival, não estão conformados com esta medida de força da secretária, que simplesmente desconsidera o legado, descaracteriza uma memória, em desfavor às culturas popular e folclórica.

Portanto, vem em boa hora a cobrança dos vereadores que, por extensão, é também da Câmara Municipal, exceto por um ou outro sabujo, entre eles aquele responsável pela nomeação de Tina Riscali. Os vereadores acreditam que ainda há tempo de reconstituir a Vila Brasil. Só não sabem se há boa vontade, disposição e, acima de tudo, propensão ao respeito às coisas “sagradas” do Festival.

Enquanto isso, a Comissão Organizadora do 53º Festival do Folclore de Olímpia, a ser realizado de 5 a 13 de agosto, na Praça de Atividades Folclóricas e Turísticas “Professor José Sant´anna”, já anunciou a contratação de nove grupos parafolclóricos das regiões Norte, Nordeste e Sul.

O problema, talvez, seja a falta de diversidade, o que poderá ocasionar um festival de redundâncias. Norte e Nordeste vêm com sete grupos, porém três do Pará e três do Ceará, respectivamente.

Das regiões Norte e Nordeste do país, diferente só o grupo da Paraíba, o Acauã da Serra, de universitários paraibanos. Estão confirmados, também, dois grupos gaúchos que, em síntese, acabam sendo iguais em tudo.

De nada adianta dizer que virão dois grupos gaúchos “inéditos”, porque não existe ineditismo em grupos daquela região, pois são iguais em suas manifestações, com pequenas diferenças em trejeitos e indumentárias, no que diz respeito, no entanto, às cores.

Quanto ao Norte e Nordeste, há ali, possibilidades de se encontrar inúmeras manifestações folclóricas, com certeza até muitas que o olimpiense não conhece, mas a Comissão optou por trazer grupos que, em síntese, acabam sempre apresentando variações de um mesmo tema.

Não adianta propagar a “diversidade” de Norte e Nordeste, se ela não está contemplada no rol de grupos que de lá virão.

‘MERCADO LIVRE’ E CHAMADA PÚBLICA AINDA NÃO GARANTEM BOM FEFOL

 

Vamos devagar com o andor, que o santo é de barro. Não vamos com muita sede ao pote.

Nada melhor que um provérbio português encampado pelo povo no Brasil, e outro de origem desconhecida, mas da mesma forma de uso cotidiano ainda hoje, para ilustrarem as primeiras medidas práticas tomadas pela administração municipal em torno do 53º Festival do Folclore, que começa em 5 de agosto, e se estende até 13 daquele mês.

Uma das medidas dá conta de que a Comissão Organizadora decidiu por liberar a marca da bebida a ser comercializada pelos barraqueiros dentro da Praça de Atividades Folclóricas e Turísticas “Professor José Sant´Anna”. O objetivo, diz o texto oficial, “é incentivar e apoiar os comerciantes e dar oportunidade ao público, que poderá pesquisar os melhores preços”.

Embora com muitas restrições ao fato de que todos estão comemorando o fato, como se a bebida fosse a razão de ser do Festival, não se pode furtar a ver a medida como positiva. Aquele “engessamento” de marca e formato de distribuição da bebida no interior do Recinto não era bom para ninguém.

Impedia os comerciantes de praticarem a livre iniciativa, e os consumidores, de exercerem o direito à livre escolha, privilegiando à frente o menor preço. Para que a iniciativa seja coroada de êxito, agora, basta que tais mudanças acabem com o chororô de todos os anos dos barraqueiros, que sempre punham à frente de suas reclamações a sistemática comercial no interior do recinto vigente até então.

A partir desta edição da festa, os barraqueiros poderão comercializar a marca que preferirem e adquirir a bebida do fornecedor que para eles for mais viável. Além disso, há um tabelamento, outra novidade: a unidade poderá ser vendida ao preço máximo de R$ 4,50 a cerveja, R$ 3,50 o refrigerante e R$ 2 a água.

BARRACAS POR LICITAÇÃO
Ao mesmo tempo, a Prefeitura da Estância Turística de Olímpia abriu licitação para o comércio de barracas no Recinto, por meio da Chamada Pública nº 03/2017, publicada na Imprensa Oficial do Município-IOM no dia 3 de junho, de autorização onerosa de uso de espaço público com o objetivo de exploração comercial.

Embora a secretária de Cultura, Esportes e Lazer, Tina Riscali, diga que os interessados terão a mesma oportunidade ao “disputar com transparência os locais na Praça de Atividades Folclóricas”, a vantagem fica só nisso, na “transparência”. Porque igualdade na disputa pelo espaço não é a inteira verdade, já que disputarão aqueles que tiverem condições financeiras imediatas, sejam pessoas físicas ou jurídicas.

Estão sendo disponibilizadas para licitação as barracas grandes, médias e as pequenas, além dos espaços demarcados para montagem de trailers, foodtrucks e similares.

As barracas de alvenaria serão destinadas à gastronomia. O critério de julgamento será o de maior oferta por metro quadrado, dando-se a classificação pela ordem decrescente das propostas apresentadas para cada lote.

Os valores mínimos por metro quadrado dos espaços citados acima são: Para o Lote 1, R$ 60 por metro quadrado; para o Lote 2, R$ 50 por metro quadrado; Lote 3, R$ 30; Lote 4, R$ 7 por metro quadrado. O critério de julgamento será o de maior oferta por metro quadrado, dando-se a classificação pela ordem decrescente das propostas apresentadas para cada lote.

Assim, os valores a serem pagos a título de lance mínimo partem por exemplo, de R$ 722,40, para uma barraca em alvenaria medindo 12,04 metros quadrados, para comércio de bebidas como caipirinha e batidas, etc. São pelo menos quatro a cinco barracas com estas medidas, no Lote I.

Outra barraca em alvenaria medindo 22,90 metros quadrados, terá lance mínimo de R$ 1.374. Também exclusiva para bebidas em geral. Outra, para lanches, medindo 23,66 metros quadrados, pode ser alugada partindo de um lance inicial de R$ 1.419,60. E há, ainda, aquela outra barraca para “lanche completo”, medindo 53,30 metros quadrados, com lance mínimo de R$ 3.198.

As barracas para artesanato em geral têm lance inicial de R$ 768,50 a R$ 373, conforme a área -15,37m2 ou 7,46m2. Áreas demarcadas têm lances de R$ 840, para um espaço de 28 metros quadrados, ou R$ 960, para um espaço de 32 metros quadrados. Por fim, resta a barraca restaurante e comidas típicas, com 547,83 metros quadrados, com lance mínimo de R$ 3.834,81.

Estes são exemplos de preços pinçados do Edital da Chamada Pública, cujo detalhamento encontra-se no site da prefeitura, no Portal da Transparência.

Como dito acima, são duas medidas que vêm dar uma “sacudida” numa estrutura “pétrea”, com vistas a facilitar, de certa forma, a comercialização dos espaços comerciais, embora ainda mantenha seu caráter restritivo, ao contrário do que pregam, e a chamar de volta o público que, dados os altos custos da frequência com consumo naquele logradouro, tornavam proibitiva a sua presença por mais vezes na semana.

Mas ainda não é tudo. Resta saber que tratamento será dado ao que mais interessa, do ponto de vista do evento mais que cinquentenário: seu conteúdo.

VILA BRASIL ‘SUCESSO NO FEFOL’, MESMO?

 

“Vila Brasil é mais uma vez atração confirmada para a 53ª edição do Festival do Folclore de Olímpia. O espaço, no entanto, passará por adequações devido a problemas estruturais identificados por engenheiros da Prefeitura. Duas edificações de madeira, que são o curral do caipira e a casa de taipa, estão sendo desmontadas nesta semana por estarem comprometidas e sendo consumida por cupins.”

Assim começa texto encaminhado por e-mail pela assessoria de imprensa do governo municipal, tratando da questão relacionada àquele espaço no Recinto do Folclore, que nos últimos anos tornou-se atração à parte. Mas, embora a promessa, nada indica que continuará mesmo a ser “o sucesso” do Festival. Se não, vejamos:

“No caso do curral, os pilares de madeira estão fora do prumo, em aproximadamente 25 centímetros. Em vistoria técnica, realizada pela secretaria de Obras, Engenharia e Infraestrutura, foi constatado que os pilares de madeira (pé direito) que promovem a sustentação da estrutura para cobertura do barracão, utilizado para eventos durante os festivais do Folclore, encontram-se fora do prumo devido à movimentação do solo. ‘Provocando com isso a desestabilização do conjunto, com risco iminente de ruína’, diz o laudo emitido no dia 29 de maio.”, é a segunda parte do texto. E aí vem:

‘Portanto, opinamos pela demolição cuidadosa e a guarda dos elementos estruturais para que sejam reaproveitados em outra oportunidade’, acrescenta o documento. Certo, mas que “outra oportunidade” que não essa, do Festival? Talvez em um juninão, para alimentar a fogueira? E veja, abaixo, qual foi a solução “pensada” pela secretária:

‘(..) Tina Riscali explica que as duas edificações serão instaladas novamente assim que a secretaria de Obras fizer os ajustes necessários. Por enquanto, serão colocadas duas tendas’. Oi? “Duas tendas”? Aproveitem e coloquem duas videntes para quem sabe antecipar a sorte do Festival.

‘A secretaria de Obras, Engenharia e Infraestrutura nos entregou um laudo que aponta todos esses problemas estruturais nas duas edificações. E nos orientou, de imediato, a desmontarmos as duas edificações, para não colocarmos a segurança dos frequentadores do local em risco’, explica Tina Riscali.

Tratam-se de duas “edificações” em madeira. Se o município não dispõe de uma equipe composta de três ou quatro marceneiros para colocar aquelas “edificações” de madeira em pé num prazo de dois meses, no mínimo, então, que administração é essa? Se uma secretária não tem poder de mando para exigir que aquelas “edificações” sejam colocadas em condições plenas de uso neste tempo, então, que secretária é essa? “Duas tendas”? É risível, para dizer o mínimo.

‘A secretária ressalta ainda que, dessa forma, a Vila Brasil vai continuar funcionando para agregar cultura às atrações do festival, no Recinto de Exposições e Praça de Atividades Folclóricas e Turísticas ‘Professor José Sant´anna.’

“O curral do caipira foi inaugurado em 2014”. E destruído em 2017. “A estrutura de madeira foi doada por um empresário olimpiense”. Que agora, se quiser, pode toma-la de volta. A Vila não será mais aquela conforme foi concebida. Pena.

PURISTA, MODERNOSO, EXTRAVAGANTE OU HARDCORE? OREM PELO FEFOL

Entre estupefato, estarrecido e incrédulo, encontrei na caixa postal na manhã de hoje e-mail oriundo da assessoria do Governo Municipal, cujo conteúdo traz o seguinte título: “Festival do Folclore de Olímpia abre inscrições para concurso da rainha e princesas da festa“. De imediato, me veio à mente aquela figurinha verde vomitando da internet. Sério. Porque é o que esta iniciativa merece: um vomitaço.

É impressionante a capacidade desta gente de querer transmutar as coisas “sagradas” do município a seu bel-prazer. E o verbo, se quiserem, pode ser usado no sentido químico, aquele que fala na transformação de um elemento químico em outro, com a condição de que já sabemos qual é o outro.

O leitor pode estar estranhando a falta de elegância derramada nesta introdução, mas estou transmitindo aqui a forma como recebemos as reclamações nas ruas por aí. Talvez entendam melhor, os senhores luminares do governo.

O texto abre com o seguinte parágrafo:

“O 53º Festival do Folclore da Estância Turística de Olímpia retomará, neste ano, a tradição do concurso para escolha da rainha da festa. A novidade é que também serão selecionadas a 1ª e 2ª princesas do festival.” Certo? Estavam sentindo falta delas, né, as acompanhantes da monarca?

O que causa espécie é que nesta altura do campeonato, quando todos que amam e respeitam o evento como difusor de cultura e conhecimento, conforme o legado de Sant’anna, esperavam as informações sobre o que se poderia esperar da festa este ano, em termos de conteúdo, porque o que se ouve por aí não é nada abonador, saem com essa.

Quer parecer que há uma excessiva gana “modernista” a rondar os organizadores, aquela “liberdade intelectual” nas escolhas e decisões sobre quem pode vir e quem não pode, e aquela displicência em não fazer esforço qualquer para convencer este ou aquele grupo a vir, mesmo o que vêm por conta própria como, parece, alguns estão desistindo.

Aí, gastam-se energia, tempo e recursos com algo tão frívolo e desnecessário quanto o tal concurso que nada, absolutamente nada, acresce ao Festival. E quer saber qual será a função destas garotas durante o evento? Muito bem, vamos lá:

“As eleitas serão as representantes oficiais da festa, tendo como obrigações, visitar os grupos durante a semana do festival, ser hospitaleiras, dar suporte e informações aos grupos a respeito da história e da programação do evento, entre outras. Além disso, deverão obrigatoriamente participar da abertura (5 de agosto), do 1º domingo (6 de agosto), e do desfile e encerramento do festival, no dia 13 de agosto.”

Porque sem elas nada acontecerá? É isso?

No quesito “visitar os grupos” já sabemos de antemão quais serão os preferenciais se não os únicos a terem o ar da graça das beldades folclorísticas. Vão participar “obrigatoriamente” da abertura, em 5 de agosto, do primeiro domingo, 6, e do desfile de encerramento que – outro pasmem-se! – deve ser levado para a Avenida Menina-Moça, como antes já fora, quando experimentou retumbante fracasso.

Aí nos vem à memória também a possível desativação da Vila Brasil e suas icônicas noites de verdadeira nostalgia de tempos idos. Então, que tal voltarem todas as tenções para estes detalhes, poupar vossas emoções para o que vale a pena, antes que nossas noites de palanque ou mesmo o desfile de encerramento fique mais com cara de carnaval fora de época – que as informações neste sentido também nos deixam com a pulga atrás das orelhas – que de manifestações das raízes culturais e históricas.

Em suma: vamos aprofundar o olhar e a mente e debruçar seriamente sobre o que há por fazer de responsável e comprometido com a história e cultura deste país

Temos esta responsabilidade. Não à toa somos a Capital Nacional do Folclore. É uma distinção que requer de nós, olimpienses, no mínimo discernimento para diferenciar o que é festa para encher os olhos, do que é festival para encher a alma e o intelecto.

Não sejamos injustos: há uma pergunta de profundo cunho cultural dirigida às incautas candidatas: “O que o Festival do Folclore de Olímpia representa para você?”. Só se espera que no dia do concurso não se interessem pelo prato preferido de cada uma delas.

Mas, falando sério, abaixo as firulas que se prenunciam. Respeitem o sono eterno de seu criador, professor e folclorista José Sant’anna.

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