Que nunca se deixem assoberbar os organizadores do 55º Festival do Folclore da Estância Turística de Olímpia. Que não se rendam facilmente aos elogios, que não se deixem levar pela ignorância de quem acha o belo fundamental para o sucesso do evento. Estes hão de passar. Porque a beleza verdadeira do festival olimpiense é essencialmente imaterial.

Por ora, todo trabalho feito pela Comissão Organizadora e a Secretaria de Cultura, não pode ser classificado como manifestação de apreço às nossas mais autênticas raízes.

Parece-nos, aliás, haver um certo constrangimento em certos envolvidos, de mostrar aquilo tudo a que o Festival está destinado, por conta de que o brasileiro médio tem vergonha de se ver como parte, como originário daquilo que se mostra a ele durante a festa.

Espera-se que, para o ano que vem, ou para edições mais adiantes até –uma vez que a pouca atenção dispensada a evento tão importante em nível de Brasil vem de muitos anos– haja uma volta à profundidade que o Festival anseia, conscientes de que o Fefol não deve ser só danças no palco.

Aliás, mestre José Sant’anna quem dizia sempre, que as apresentações no palco eram o apogeu dos dias de Festival. E assim deve ser encarado se quisermos despertar novamente o interesse de pesquisadores, estudiosos, ou mesmo de curiosos em busca de informação e conhecimento. E só as danças não suprem esta característica.

Já não é de hoje que a grande preocupação no entorno da festa tem sido quantos grupos foram contratados, que grupos foram contratados, que grupo nunca veio, que grupo virá de novo, quantos folclóricos, quantos parafolclóricos, assemelhando-se a uma “maratona de quem conhece mais e melhores grupos”.

A seleção criteriosa de participantes é importante, mas não deve ser a única e principal preocupação, como se tem notado. Hoje, as atrações cênicas mais se aproximam do teatro musicado do que da representação folclórica necessária e sempre priorizada por Sant’anna quando da escolha dos parafolclóricos.

Se antes tais grupos faziam o chamado aproveitamento do folclore para elaborar suas coreografias e danças, hoje fica a impressão de que tais grupos fizeram, na verdade, uma apropriação cultural do folclore e o usam da forma que lhes parece mais conveniente e quanto mais livre das amarras da origem melhor.

Então, o perigo que se impõe à nossa festa, é o da superficialidade, é o da ideia de que palanque basta e as programações constantes de todos os anos idem como símbolos de sua perenidade. Mas, que tal a preocupação com o aprofundamento disso tudo?

O Fefol foi forjado para que Olímpia se tornasse um foco de resistência cultural ao longo do tempo e suas mudanças, mas temo que não tenhamos resistido à força do moderno, pois caminhamos celeremente para nos tornarmos um painel de generalidades.

Hoje percebe-se um distanciamento maior, uma teatralização maior (no que o teatro tem de livre representação), um colorido às vezes absurdo, exagerado, não contando os elementos novos incorporados, sabendo-se que para alguns deles, com certeza, Sant’anna faria muxoxos e “rabo-de-olho” para quem estivesse do seu lado.

Ele não admitia heresias. Grupos deixaram de ser chamados ou vieram apenas uma vez e não mais por conta disso.

Não se faz aqui análises fáticas sobre a edição deste ano do Fefol. Melhor fazer esta “cobrança” por profundidade maior, já que é quase consenso ter tido esta edição resultados positivos no que diz respeito ao seu aspecto de festa, propriamente dito.

Porém, cada “está lindo” ouvido, naturalmente faz surgir uma pulga atrás da orelha daqueles que ainda hoje sentem ressoar no âmago as palavras do mestre no sentido de que o festival era uma festa antes para a alma. Estamos mergulhados, este ano, em uma festa para os olhos –Antes ver com a alma!

No aspecto estudos, discussões, debates, troca de conhecimentos e culturas, transmissão do ideário folclórico, porém, fica a desejar. Não é culpa dos organizadores de agora. Esta situação vem num crescendo que, esperava-se, caminhasse para um fim.

Mas, a considerar o esmero com que foi tratado o lado festa do Festival, o lado visual, do brilho, o lado “lindo”, este desejo torna-se um sentimento inócuo.