Pelo menos foi o que surgiu, forte, na noite de ontem na Câmara de Vereadores. Afinal, por que a pressa para garantir recursos para obras nem tão urgentes assim, se não há uma finalidade mais específica?

E que compulsão seria esta do prefeito Fernando Cunha (PR) em botar dívida, ou melhor, fazer crescer a dívida do município em mais de 100%? E para piorar, por que encaminhar à Câmara um projeto de Lei autorizativo sem especificar onde enfiará R$ 7 milhões?

De acordo com o próprio, este dinheiro seria usado em uma rotatória entre o Quinta da Aroeira e o Quinta da Colina (R$ 1,5 milhão [parece que algo mudou, porque antes o orçamento era de R$ 11,5 milhões]), cruzando a Desembargador José Manoel Arruda; para uma pista de caminhada e uma ciclovia na Avenida do Cinquentenário do Folclore, na Zona Leste (R$ 400 mil) e obras de pavimentação nas ruas revestidas com paralelepípedos (R$ 2 milhões).

Ainda que mal vos pergunte, onde está a urgência para estas obras?Se a Câmara aprovar – o que deve acontecer, uma vez que a bancada atrelada ao governo de turno possui cinco votos, o montante a ser buscado na agência da CAIXA supera todos os demais empréstimos feitos até agora -e foram três, em valores absolutos.

Cunha já pegou dinheiro no Banco do Brasil, em 2017, para comprar ambulâncias -R$ 1,3 milhão; já pegou dinheiro na CAIXA, em 2018, para recape e equipamentos de monitoramento eletrônico -R$ 3,5 milhões e já pegou, ano passado, outra bolada, desta vez para compra de máquinas -R$ 1.3 milhão, no BB. Total, R$ 6,1 milhões.

Lembrando que todos estes empréstimos saíram sem qualquer empecilho aprovados da Câmara. Sequer embate ferrenho teve, como desta vez. E os vereadores, são os mesmos. E o presidente da Casa, que tem a prerrogativa de pautar ou não as proposituras, era o vereador que agora Cunha chama de “mentiroso”, Luis Gustavo Pimenta (PSDB).

Qual a diferença entre aqueles e este, de R$ 7 milhões? Neste, Cunha não “amarrou” o dinheiro a obras específicas, e não deu esclarecimentos a todos os vereadores, apenas àqueles cujos votos estão atrelados à sua vontade.

Chamou-os ao Gabinete e lá disse-lhes o que fazer. Ignorou os quatro vereadores da bancada independente, menosprezando, naturalmente, seus votos, uma vez que a bancada atrelada forma cinco no total.

Cunha estava nervoso no começo da tarde desta quinta-feira. Falou por telefone a uma emissora de rádio e destilou veneno, disse coisas que já se pensava estarem no rol do folclore político do alcaide, já que nos últimos dias ele vinha acenando a bandeira da “paz e amor” com seus proclamados desafetos.

“Eu comemorei sim, o corte de verba que seria usada para cobrir o recinto, porque é uma obra desnecessária, com um gasto monstruoso de dinheiro”

Voltou ao ataque contra o Governo do Estado e, por tabela, o deputado federal olimpiense Geninho Zuliani (DEM). “Eu esperei passar as eleições para avaliar se os governos Federal e Estadual iriam nos destinar verbas. Cheguei à conclusão de que o Governo Federal vai liberar, mas bem pouco.

E com o Governo Estadual, que até cortou verba, na verdade, não podemos contar que os repasses sejam líquidos e certos. Por isso recorremos à CAIXA”, disse à emissora. “Para o trevo de acesso entre Aroeira e Quinta da Colina, não virá mais dinheiro do Estado”, complementou.

A questão é que este projeto Cunha mandou desenvolver e anunciou ao público, em 2018, sem ter sequer ideia de onde iria tirar dinheiro. Contava com uma promessa feita pelo então governador Márcio França, mas sem qualquer lastro documental. E agora joga a responsabilidade para cima de João Dória.

Cunha classificou as obras já citadas acima como tão “prioritárias”, a ponto de trocar projeto anterior de construção de uma sede administrativa para a prefeitura em área em frente o Ginásio de Esportes, por elas.

“Foi por isso que deixamos em aberto o uso dos recursos no projeto”, observou. “Tenho receito de ‘trava-los’ e não poder usar para outra coisa” (caso a verba com a qual ele não conta mais, acabar vindo). O supra-sumo do contraditório.

Cunha se gaba de que hoje a prefeitura tem condições de caixa para obter até R$ 60 milhões em empréstimos da CAIXA. Diz que foi resultado de trabalho seu nos últimos dois anos. Mas, na verdade, recebeu este caixa já saneado do antecessor, sem dívidas e com precatórios todos pagos, restando pouco valor para o Recinto do Folclore, somente.

E mais: Cunha usa também como justificativa para buscar dinheiro emprestado o fato de que, se usar dinheiro do próprio caixa da prefeitura, “faltaria para os serviços de todos os dias, “como compra de remédios, para merenda escolar, operações tapa-buracos. Se não captar, não tem como fazer estas obras”, insiste.

Quando fala da Câmara e dos vereadores independentes, Cunha fica irritado. Principalmente com o ex-presidente da Casa, Gustavo Pimenta, que horas antes da sessão de ontem, já havia declarado voto contrário à propositura. O vereador havia dito que eles poderiam ir buscar e trazer verbas para estas obras, sem necessidade do empréstimo.

“É mentira”, gritou o prefeito, lembrando que Pimenta “festejou” o corte de verba para turismo feito por Dória, que no entanto liberou recentemente mais de R$ 4 milhões para obras na área do turismo.

“Eu comemorei sim, o corte da verba que seria usada para cobrir o recinto, porque é uma obra desnecessária, com um gasto monstruoso de dinheiro. E para quê? Para ser usada no máximo duas a três vezes no ano”, asseverou Pimenta. Mas, parece que Cunha vai mesmo usá-los todos para a cobertura da Arena do Recinto.

Durante a sessão de ontem surgiu inclusive a suspeita de que Cunha já havia agilizado os papeis junto ao banco, antes mesmo de encaminhar o projeto à Câmara. O vereador Fernando Roberto da Silva, o Fernandinho (PSD), deixou escapar a informação em um ato falho, mas o líder do prefeito, João Magalhães (MDB) veio correndo socorrê-lo.

“Não, não, foi só um encaminhamento, uma simulação do empréstimo”, disse, deixando a pulga com os independentes.

E essa suspeita é reforçada quando o próprio prefeito diz que a obtenção do dinheiro é demorada, pelo menos uns três meses, depois vêm as licitações, “é um processo longo”, arrematou. Num dado momento Cunha diz que, mesmo liberado o dinheiro, “podemos nem usar”.