O prefeito Fernando Cunha (PR) acaba de perder mais um convênio que viria sustentar mais um dos seus, digamos, projetos supérfluos. Desta vez foi a verba pleiteada para a obra de cobertura do Recinto do Folclore, conforme ele anunciara ao final do 53º Festival, em agosto de 2017.

A decisão é do dia 18 de janeiro, por meio da Resolução 03. O processo era o de número 106/2018, convênio 324/2018. Observem que desde 2017 o prefeito vem tratando deste assunto. Passaram pelo Bandeirantes dois governadores.

E só um ano e meio depois, na última semana de dezembro do ano eleitoral de 2018, é que obtém a autorização?

Cunha já havia “perdido” outra verba anteriormente, esta de cerca de R$ 5 milhões, que usaria para a não tão urgente e necessária duplicação da Vicinal Wilquem Manoel Neves, partindo do Hot Beach até o Trevo da Cutrale. Da mesma forma, convênio assinado no “apagar das luzes” de 2018.

Embora as carpideiras de plantão tenham difundido seus chororôs nas redes sociais nas últimas horas, o governador João Dória (PSDB) procedeu ao corte de convênios de mais de 160 cidades, turísticas (cerca de 70) ou de Interesse Turístico. Não foi, portanto, somente Olímpia.

E embora ainda tais carpideiras venham tentando fazer crer que se trata de perseguição política, porque Cunha pediu votos para Márcio França ao governo do Estado, nas eleições passadas, tratou-se, segundo justificativa da Secretaria do Turismo, de uma decisão técnica.

Decisão lastreada na intenção visível do ex-governador de impulsionar sua candidatura ao Bandeirantes assinando convênios “a torto e a direito” no “apagar das luzes” do ano passado, distribuindo sem nenhum critério e embasamento técnico, dinheiro público.

Haja vista que o convênio com o DADETUR, no valor de exatos R$ 3.890.233,37, foi assinado no dia 19 de dezembro, já praticamente no “escuro” da sala de um administrador que saía do cargo. O mesmo se deu com o convênio anterior, de cerca de R$ 5 milhões. O atual governo contestou a “urgência” de ambos os projetos.

O detalhe desta verba de agora, que o prefeito e suas carpideiras tratam como retaliação, é que ela foi anunciada pelo alcaide em 2017, no encerramento da edição do Fefol daquele ano, o primeiro sob a “regência” de Cunha e sua trupe.

De onde o mandante de turno tirou esta ideia não se sabe. O recinto do Folclore existe há mais de 30 anos na cidade e sempre foi sem a cobertura que Cunha agora quer impor a ele. decisão unilateral e totalitária que dividiu opiniões. Ou nem as suscitou, tamanha a estranheza.

Não foi possível detectar os primórdios dos trabalhos em torno do Recinto, desde o projeto original, coisa que data de 32 anos atrás, no mínimo. Mas segundo as parcas informações, uma arquiteta de origem nipônica teria sido a autora do projeto, naturalmente com base na proposta de José Sant’anna, criador e principal mantenedor dos festivais, até sua morte.

A profissional fazia parte de um programa de auxílio técnico a projetos, do Governo do Estado, salvo engano denominado “Somando Verde”. Quando de sua inauguração, foram estas as palavras do mestre:

“Olímpia dá uma contribuição elevadíssima ao estudo e à preservação do folclore nacional. A Praça, de construção moderna, é elegante e espaçosa, e merece especial menção entre as principais obras do gosto de nossa gente. Nela, o povo se reanima e sente-se valorizado, pois apresenta um aspecto pitoresco e muito agradável em meio a músicas, danças, folguedos, flores, comidas e ao geral e entusiástico contentamento da povoação inteira”.

O Recinto foi imaginado por Sant’anna, desenhado por profissionais zelosos e construído com muito sacrifício, para ser uma homenagem aos primórdios da civilização, com seu desenho e estrutura ao estilo greco-romano, ou seja, um projeto no qual não cabe jamais, cobertura, seja de que espécie for, ainda que modernosa e “futurista” como a que foi apresentada.

Seria, ali, um “elefante branco” suspenso. Por sorte a caneta de Dória pelo menos adiou a concretização desta ideia “luminosa”, a dar tempo para que o mandatário reflita sobre estas e outras questões atinentes àquele local, propriedade do povo.

Por exemplo, concluindo-o e assim realizando o sonho da vida de Sant’anna, que era a construção de alojamentos no local, onde já por décadas estão plantados os alicerces, e o estacionamento urbanizado para os ônibus de grupos e de turistas (neste caso, hoje tão rarefeitos).

Podia também fechar uma daquelas barracas, dota-la de ar condicionado, piso mais nobre, paredes idem, sistema de som, etc., para conferências, encontros, debates e até apresentações musicais de caráter regional e de raízes folclóricas, ou mesmo de grupos. São exemplos.

Exemplos de investimentos racionais e que agregariam valor àquela localidade que, com arquibancadas mais confortáveis e um pouco mais de acessibilidade, estaria perfeito para o seu propósito.

Se ao invés disso a proposta é cobrir a arena, calçar seu solo e impor ali outras “modernidades”, terá sido mera materialização da visão burguesa da qual nosso Fefol tem sido vítima ao longo dos muitos últimos anos.