Blog do Orlando Costa

Verba volant, scripta manent – ANO XVI

Mês: setembro 2017 (Página 2 de 2)

A SANTA CASA É E SEMPRE SERÁ DOS POLÍTICOS (E isso não precisa ser, necessariamente, ruim)

A provedora da Santa Casa de Misericórdia de Olímpia, Luzia Cristina Contim, personagem surgida no estalo da perda do provedor anterior, Pedro Antônio Diniz, que renunciou à função, pode ser tudo, menos ingênua. Pode até vir a ser uma boa provedora. Daquelas de marcar a gestão.

Mas o que ela não pode é tentar ludibriar a opinião pública, afirmando que “não deixará que o hospital seja manipulado pela ingerência de políticos”. Até porque isso já ocorre, a olhos vistos. E aqueles mais atentos às idiossincrasias políticas da cidade podem até se sentir ofendidos com uma afirmação dessas.

A Sata Casa de Misericórdia de Olímpia sempre esteve sob ingerências políticas. E se houve um período em que isso não ocorreu, pelo menos de forma direta, na maioria do tempo, foi aquele em que a advogada Helena de Sousa Pereira esteve à frente, como provedora. Nos períodos anteriores ao seu, e posteriores ao seu, a política e os políticos eram a pedra-de-toque da instituição.

E o mesmo se repete agora. E nem de forma velada, como era antes. O prefeito Fernando Cunha (PR), aliás, elegeu-se tendo a Santa Casa como uma de suas principais bandeiras. Foi responsável por articular o grupo que assumiu inicialmente os destinos da instituição. Foi responsável depois pela articulação do grupo que substituiu a improvisada provedoria primeira, e foi responsável por tirar da cartola a atual provedoria. E é consultado a cada passo a ser dado ali.

Ela disse dias atrás querer conquistar a confiança da população. Então que comece sendo transparente. Que mal há em ter o hospital atrelado a um governo de turno, desde que esse não o queira usar apenas com fins políticos? A menos que ela saiba de coisas que nós, pobres mortais, não sabemos.

Engraçado que ela disse o que disse em conversa com quem sabe de tudo isso. Com quem sabe, ou deveria saber, como as coisas funcionam ali. Com quem sempre denunciou este tipo de situação e, finalmente, com quem sabe que a afirmação de Contim é apenas retórica. Mas a trata como se novidade fosse. Como se factual fosse. Como se possível fosse.

Já ouviu-se aqui e ali alguma coisa sobre o destemor da provedora no tocante a algumas decisões. Já ouviu-se até sobre alguns ligeiros choques dela com o alcaide, no tocante a determinadas situações, a determinadas propostas. Mas, mesmo diante de tal postura, não há quem possa acreditar que não é Cunha quem manda lá. Até por questões político-estratégicas.

A Santa Casa não anda sozinha. A Santa Casa não sobrevive sem ações políticas. E, sobretudo, a Santa Casa não se sustenta se não houver a ingerência do governo municipal de turno. Ainda que se possa tecer as mais diversificadas e agudas críticas.

E ainda que Contim alcance seu intento, o de tornar o hospital superavitário por meio de seus próprios serviços prestados, jamais poderá negar que o hospital, infelizmente, é e sempre será uma extensão financeira da administração municipal, e também uma extensão política do administrador de turno.

PARA DESCONTRAIR
Eu poderia neste espaço gastar caracteres e mais caracteres em considerações a respeito daquele semanário que antes rugia, feito leão, e hoje mia, feito gatinho, e seu editor convertido a porta-voz dos ataques do poderoso de turno na cidade contra seu antecessor.

Mas, para não cansar os nobres leitores, vou apenas reproduzir um parágrafo do editorial risível publicado na edição de sábado passado, assaz premonitório e sem noção, para que os senhores possam medir o grau de falta de discernimento que certos acordos provocam.

(…) Foi eleito e denunciado na justiça eleitoral por desequilibrar economicamente o pleito engessan­do parte da mídia com argumentos econômicos e promessa de emprego, segundo aquele mesmo jornalista que, anos após, foi fazer parte de seu staff e atualmente o defende com unhas e dentes.

Basta frisar que o editor, ao tentar desmoralizar Geninho Zuliani (DEM) enquanto administrador de Olímpia por oito anos, comete imprecisões históricas, se intencionais não se sabe, e acusa. Naturalmente seguindo o roteiro preciso que lhe chega da praça.

Até porque, como ele mesmo gosta de frisar, “pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo” (A.L.).

HÁ MESMO UM ‘PLANO DIABÓLICO’ DE CUNHA CONTRA GENINHO?

Não são poucos aqueles que, versados nas coisas da política olimpiense e seus personagens, atestam que o prefeito Fernando Cunha (PR) “detesta” o ex-prefeito Geninho. Alguns usam até expressões mais fortes para denominar o sentimento que o nobre alcaide estaria nutrindo pelo seu antecessor.

Estes mesmos versados, no entanto, não encontram explicações para tanto. Tem até quem arrisque dizer que “alguma coisa de muito grave” aconteceu lá atrás entre os dois para que Cunha, vira e mexe, “solte os cachorros” para cima de Geninho.

Como não havia provas cabais de tal comportamento, sempre levávamos a coisa como diz-que-diz, impressões, o “ouvi dizer”, o “parece que é assim mesmo”, etc.

No entanto, quando um vereador, que até pouco tempo atrás era detentor de uma das mais, se não a mais importante Secretaria do Governo, vem a público e faz uma denúncia da gravidade da que foi feita na sessão de segunda-feira passada, 4 de setembro, da Câmara, conclui-se que as conversas dos cafés fazem sentido e pelo menos “raspam” a verdade.

Salata (PP) vem de acusar o prefeito de articular um “plano diabólico” contra Geninho. O ex-secretário vai mais fundo ainda, e revela que o prefeito teria oferecido cargos aos vereadores para que votassem contra a prestação de contas do ex-prefeito, que está em vias de ser votada na Casa de Leis, com parecer pela aprovação do Tribunal de Contas do Estado.

Mas, como o julgamento de tais contas é político, Cunha estaria tentando fazer a maioria da Câmara, conforme Salata, votar pela rejeição destas contas, o que no final traria problemas para a ascensão política do ex-mandatário.

O que viria a ser um resquício do ódio cunhista por Geninho, a bem da verdade. Mas que não explicaria, como de resto o prefeito não explica, prefere tergiversar, declarando uma indiferença em relação a seu antecessor que, estamos vendo a cada dia que passa, não existe.

O ex-secretário de Turismo, Agricultura e Desenvolvimento Econômico de Fernando Cunha e agora vereador Luiz Antônio Moreira Salata fez na Câmara o que chamou de “desagravo” contra o chefe do Executivo, que disse em entrevista, entre outras coisas, ter sido obrigado a “engoli-lo” na Secretaria, para “ajustar a eleição da Mesa da Câmara”, o que em si já estende uma névoa de mácula sobre o poder Legislativo.

O vereador disse ainda que Cunha teria tentado “golpeá-lo de forma violenta”, por meio da Abecao. E na seara política fez a grave acusação contra o prefeito: a de que ele estaria “articulando um plano diabólico no sentido de rejeitar as contas de Geninho” na Câmara de Vereadores.

Disse Salata que, em abril passado, foi consultado por pessoas do Gabinete do prefeito, e teria se manifestado solidário ao ex-prefeito Geninho, com relação às suas contas.

“Em abril, de forma articulada, ele determinou ao meu suplente (Tarcísio Cândido de Aguiar, atualmente secretário de Agricultura) que viesse a esta Casa e consultasse alguns vereadores, e oferecesse cargos, para votarem contrários às contas do ex-prefeito. É um absurdo”, denunciou.

E o mais interessante a notar é que, mesmo diante de tão grave acusação, nenhum representante da bancada do prefeito levantou-se para defendê-lo, nem mesmo seu líder, João Magalhães (PMDB). Fizeram “ouvidos moucos”.

Salata pediu até que Cunha “pare de viver na sombra do ex-prefeito Geninho e comece a trabalhar”.

Pano rápido.

‘ILLUMINATIS’ DA ÁQUILA SALVARAM CUNHA DE VEXAME ORÇAMENTÁRIO?

O prefeito Cunha (PR) não disse isso textualmente em sua entrevista coletiva sem coletivo de segunda-feira à tarde, mas este blog vai tomar a liberdade de creditar ao caríssimo Instituto Áquila um feito que tirou o chefe do Executivo de uma grande cilada administrativa. Aqueles “illuminatis”, e estamos fazendo uma suposição, podem ter colocado o Orçamento-2018 nos trilhos da Maria-Fumaça administrativa.

Sim, porque o governo municipal vem de anunciar a correção da peça orçamentária antes mesmo de ela “esquentar” nos protocolos da Câmara de Vereadores, e depois de a secretária de Finanças, Mary Britto, ter feito pompas e circunstâncias naquela Casa, em audiência pública.

Se, de fato, Cunha lançou mão da empresa que se pretende criadora de uma “nova ordem” administrativa, quem sabe o fez após ter sido alertado por este escriba de que a Saúde carecia de mais recursos do que aqueles que ao setor estavam sendo destinados.

E esta diferença gritante entre o que se pretendia para 2018 e o que está orçado para esta ano, só pode ser creditada a um lapso de quem elaborou o documento. Porque de sã consciência, impossível um técnico cometer tal erro.

E se foi gente da empresa a qual o prefeito tenta negar a existência, tanto pior. Não faria jus, então, aos R$ 450 mil que Cunha garantiu que ela, no mínimo, receberá, se não o R$ 1,8 milhão contratado.

O Orçamento apresentado inicialmente pela secretária, era de R$ 220 milhões, cujo arredondamento foi também objeto de observação nossa. Agora, ele passou a ser de R$ 226.462.185,01 (observaram o detalhe do R$ 0,01?). Com isso, o Orçamento-2018 foi reajustado em 2,9%.

Para os três anos subsequentes, não houve mudanças nos valores: R$ 227 milhões para 2019; R$ 236 milhões para 2020 e R$ 246 milhões para 2021. Porém, diante desta reconfiguração da peça, 2019 terá Orçamento apenas 0,2% acima daquele previsto para o ano que vem. Está certo isso, “Illuminatis”?

Agora sintam a abissal diferença de valores no tocante à Saúde: dos R$ 29,5 milhões previstos inicialmente, e apontado por este blog como absurdo na comparação com este ano, a previsão saltou para R$ R$ 39.518.787, ou seja, cresceu 45,2%. Até então, este orçamento para o setor estava 42,6% abaixo do deste ano, que é de R$ 38,8 milhões.

E para a Educação? Falha pior não poderia ter sido registrada. Havia uma previsão orçamentária apresentada inicialmente de R$ 29,5 milhões, que agora subiu para R$ 57.348.679,15, ou seja, 94,4% acima do estimado antes. Como tamanha discrepância foi possível?

E querem saber de mais um erro absurdo que ia sendo cometido pelos responsáveis pela peça? Foquem na área do Social, onde agora foi aportado valor nada mais, nada menos, que 55,6% maior do que estava previsto na peça anterior. De meros R$ 4,7 milhões, o orçamento daquela Pasta saltou para R$ 7.311.810,34. Como puderam errar tanto?

Lembrando que os demais setores não foram alvos de nossa atenção, por julgarmos estes três super-estratégicos, espinhas dorsais de qualquer governo que se preze. Tomara que essa correção de rumo já seja reflexo da ação da Áquila (se é que economia também está no rol de serviços a serem prestados por aquela fortuna cobrada). Se não, estamos de mal a pior.

E mesmo com todas essas mudanças, não sobrou nem aquele R$ 0,01 para reajustar os salários do funcionalismo. Pelo menos isso não foi dito na entrevista, e nem lhes foi perguntado, a bem da verdade.

Porque, como se sabe, Mary Brito Silveira, secretária de Finanças de Cunha, na audiência pública do dia 16 de agosto passado, havia dito que não há espaço no Orçamento para dar aumento real à categoria. E o espaço, ao que parece, não foi encontrado nem com estas mudanças ora anunciadas.

O argumento governamental é o de que o Orçamento-2018 estava ainda em discussão, embora isso não tivesse sido dito na Audiência, onde a secretária apresentara os números de forma conclusiva. Diz agora o governo que aquela audiência pública teria sido para “discutir o que estava sendo preparado para o Orçamento”. Não foi isso que se ouviu naquela ocasião, só para constar.

Bom, vá lá que o prefeito e sua secretária justifiquem as diferenças com mudanças e alterações “com o intuito de organizar as despesas e aplicações da prefeitura”, mas são todas elas de caráter administrativo, não financeiras, propriamente ditas.

Observamos que, para os demais setores, como Legislativo, Daemo e Instituto de Previdência, os valores não mudaram -respectivamente, R$ 5,9 milhões, R$ 18,6 milhões e R$ 14,7 milhões.

PS: No projeto de Lei 5.272/2017, que “Dispõe sobre as Diretrizes Orçamentárias para a elaboração e execução da Lei Orçamentária para o Exercício Financeiro de 2018 e dá outras providências”, no Artigo 16 fazem remissão, no seu Parágrafo Único, a um “Inciso IV” que não existe. Não considerando o erro de texto no tal Parágrafo Único.

POPULAÇÃO DE OLÍMPIA CRESCEU QUASE 7% EM NOVE ANOS. E DAÍ?

Olímpia ‘ganhar’ mais de 3,4 mil moradores em nove anos é bom ou ruim? Pois foi isso que aconteceu a nossa cidade, de acordo com informação que consta do mais recente levantamento divulgado pelo IBGE, na quarta-feira da semana passada, dia 30 de agosto, indicando um crescimento populacional da ordem de 6,78% nesse período.

Mais exatamente, Olímpia passou a contar, nos últimos nove anos, com novos 3.435 moradores, quando comparado aos números do levantamento divulgado em 2009. Percentualmente, este contingente representou 6,78% mais moradores na cidade ou quase 400 pessoas a mais a cada ano. E isso é bom ou ruim?

O estudo do Instituto, na verdade, é referente a 2017, com base em dados de 2016, apontando crescimento populacional, até julho passado, de 335 moradores novos na cidade, ou 0,66% acima do ano passado.

A comparação com os últimos nove anos foi feita por nós mesmos, para termos um parâmetro do que representou o “boom” turístico da cidade também neste aspecto.

Assim, segundo o Instituto, Olímpia passou de 53.702 habitantes do ano passado, para 54.037 agora, com base em 1º de julho. Em 2009 Olímpia tinha população de 50.602 habitantes. Mas a Capital Nacional do Folclore está incluída no rol que abrange mais da metade dos municípios do país, onde as taxas de crescimento populacional foram inferiores a 1% no espaço de um ano.

Mas crescer quase 7% em nove anos pode ser considerado um acontecimento. Principalmente sabendo-se que 25% dos municípios brasileiros tiveram redução na população de 2016 para 2017. O crescimento populacional de Olímpia do ano passado para este, ficou na média do país, que foi de 0,77%. Consta que, no país, a densidade populacional vem decrescendo, e a razão principal seria a queda na taxa de fecundidade.

No caso específico de Olímpia, com a tendência de crescimento, é possível apontar que, diferentemente do país, o aumento populacional se deve mais à migração que propriamente ao aumento na taxa de fertilidade, embora nasçam por aqui número equivalente de novos concidadãos a cada ano. Ou talvez até mais. Porém, aos que morrem, não é?

Portanto, o crescimento econômico da cidade talvez seja o atrativo maior. o “boom” turístico e a consequente visibilidade que a cidade ganhou em nível nacional, e não só isso, também as muitas obras de construções de prédios, casas, novos empreendimentos podem estar sendo o chamariz maior.

Se isso é bom ou ruim, só o tempo vai dizer, e o cotidiano um pouco alterado em sua configuração já há algum tempo, tem tido o efeito de mudar nossas próprias visões de que ainda moramos “naquela Olímpia” de 20 anos atrás. Que mudou, percebe-se no dia-a-dia da cidade. Para o bem e para o mal.

É claro que existem sempre aqueles que pensam que a cidade crescer geográfica e demograficamente é o único caminho, como existem aqueles que entendem que manter uma cidade em tamanho médio é o melhor para todos.

Necessário frisar que, de acordo com estudiosos e especialistas em questões urbanas, os segundos estariam com a razão.

Por um simples motivo: cuidar de uma cidade do porte em que Olímpia ainda se encontra seria muito mais fácil que de uma cidade de porte dobrado ou triplicado, embora isso muito dependa, também, da categoria de administradores que venha a ter.

Mas, o recomendado por estes especialistas é que se dote uma cidade deste porte de toda infraestrutura necessária em saúde, educação, cultura, lazer, segurança, moradias, abastecimento, tratamento de esgoto, equipamentos urbanos outros benefícios de longo prazo e se terá a “shangri-lá” que todos buscam. Embora os seus poréns.

Pelo andar da carruagem, nos próximos nove, dez anos, chegaremos aos 60 mil habitantes cravados. E só lá. A menos que ocorra uma “avalanche” populacional inimaginável. Então, sem precisar correr, mas também sem a lentidão das tartarugas ou carruagens, é possível moldar e construir a cidade que todos almejam e as velhas e novas gerações necessitarão.

O CONTRA-ATAQUE TARDIO E EQUIVOCADO DE CUNHA

Não somos versados no Direito, por isso não há a menor possibilidade de estarmos aqui advogando qualquer causa que seja. Mas são tão óbvias certas coisas que chegam a gritar para nosso senso de razão, o que evita fazermos papel de idiotas. Ou, a partir de então, que faça o referido papel quem assim o quiser.

Faço tal introdução a propósito da tão comentada entrevista do prefeito Fernando Cunha (PR) na semana passada, na qual tratou, não sem uma dose de profundo rancor, da saída do secretário Salata, de Turismo, seu retorno à Câmara, e as consequências já sentidas.

Não contente com a espetacular inconfidência cometida, na tentativa clara de atingir o seu ex-aliado, mas fazendo a centelha do vexame se espalhar por outros poderes, o alcaide, ainda, partiu para o revide explícito.

E de que forma? Apoderando-se de um pedido de instauração de uma ação civil pública por improbidade administrativa contra a Associação Beneficente Cultural e Assistencial de Olímpia-Abecao, seu principal representante, não por coincidência, Salata e, por extensão, o ex-prefeito Geninho (DEM), explicitando sua animosidade contra o ex-mandatário.

Usou deste expediente durante entrevista radiofônica, visando rebater a acusação de que seu governo seria “uma pornografia política”, como afirmou Salata, e depois acionou aquele semanário que, antes, um leão, rugia, mas que, hoje, um gatinho, mia, para contra-atacar seus desafetos.

Neste ingrato ofício chamado jornalismo, é sempre necessário colocar-se de corpo, alma e coração. O corpo terá que suportar os trancos e barrancos dos tortuosos caminhos e descaminhos; a alma terá que armazenar todas as sensações, todos os momentos vividos, bons e ruins, o que trará o crescimento dentro do universo do conhecimento, enquanto o coração cumprirá a função de depurar ambos.

Estes três elementos sensoriais, juntos, formam um corpo denso chamado senso crítico, por meio do qual o homem aprende a buscar a verdade questionando e refletindo profundamente sobre cada assunto.

Dito isso, passamos aos fatos: o prefeito Fernando Cunha foi ao contra-ataque usando não só a emissora que lhe dá sustentação, mas também o semanário que cumpre a mesma função, embora os tantos malabarismos para parecer o contrário, afim de atingir Salata, o ex-prefeito, e “abafar” a rumorosa saída do agora vereador de fato, de sua Secretaria.

Manda estampar ali uma inusitada foto de capa inteira do vereador e do ex-prefeito, juntos em uma cerimônia do 9 de Julho, com manchete escandalosa em três linhas, com tipo negrito talvez 70 ou 100, e assim promover um barulho maior ainda, para se resguardar e amenizar o profundo desgaste sofrido. Aliás, tática primária e passadista, diga-se de passagem.

Além disso tudo, há uma questão de fundo que precisa ser trazida à luz. Ao semanário em questão bastou a acusação da Promotoria para embasar textos que ocuparam nada menos que duas páginas, com quatro títulos, enfocando o que a promotora Valéria Andréa Ferreira de Lima relatou em sua peça acusatória.

Porém, não deu sequer um parágrafo para o que a juíza da causa, Andressa Maria Tavares Marquiori, disse a respeito do pedido, o que seria o chamado contraditório, o “outro lado” ou, no mínimo, a consequência das acusações e a postura da Justiça frente ao pedido. Isso não interessa ao leitor quando a intenção é a de macular o oponente.

Portanto, para não nos estendermos muito, reproduzo, abaixo, o que disse a juíza do caso, e o semanário que mia ocultou de seus leitores:

Trata-se de uma Ação Civil Pública de Dano ao Erário, que tramita na 1ª Vara de Justiça, movida pelo Ministério Público contra a Associação Beneficente Cultural e Assistencial de Olímpia-Abecao, o ex-prefeito Geninho e o advogado Henrique José da Silva, que recebeu despacho da juíza Andressa Maria Tavares Marchiori, tratando de uma contratação de funcionário em comissão, que o denunciante afirma que recebia sem trabalhar, mas que a própria juíza coloca em suspeição tal afirmativa.

A promotora do caso entendeu que o advogado em questão fazia serviços com viés político eleitoral para Salata, mas o próprio Salata nega, dizendo que Henrique da Silva estava cedido à Abecao com a finalidade de acompanhar formalizações de convênios entre a entidade e outras partes interessadas.

Salata disse também que sequer foi ouvido pela promotoria, bem como, também não foi ouvido o prefeito Geninho. E que a promotora concluiu seu trabalho sem dar o direito à outra parte, ouvindo apenas o próprio denunciante. Tanto, que foi a juíza quem mandou intima-los para depor.

“Recebida a manifestação (do Ministério Público), o juiz, no prazo de 30 dias, em decisão fundamentada, rejeitará a ação, se convencido da inexistência do ato de improbidade, da improcedência da ação ou da inadequação da via eleita”, manifestou-se a magistrada. De pronto, a juíza indeferiu o pedido de liminar, de bloqueio de valores e contas dos réus, pedido pela promotora “a fim de garantir o ressarcimento ao erário”.

“Nesse momento processual, não vejo a probabilidade do direito, por não vislumbrar o dano ao erário nessa cessão (do funcionário), mesmo que infringisse a moralidade, eis que os servidores receberiam pelos serviços prestados onde lotados”, prosseguiu a juíza Andressa Marchiori. “Aquele dano ocorreria somente se o município tivesse pago esse tanto a outras pessoas para fazerem às vezes dos cedidos”, complementou.

Quanto ao pedido do Ministério Público da devolução do que entende ter sido ilicitamente acrescido ao patrimônio da entidade, disse a magistrada que “também não se tem a probabilidade suficiente para medida tão drástica, pois ela pode provar que a cessão serviu para propósitos abrangidos pela discricionariedade do administrador municipal, ou que não tenha havido desvio de finalidade”.

A manifestação da juíza Andressa Marchiori data do dia 24 de agosto passado. Bom, vá lá que o jornal não teve tempo de acessar o texto. Embora estivesse com o teor das acusações da promotora desde o início da semana.

Não se está aqui, dizendo que a situação para os lados dos acusados terá um final feliz. Como não se está afirmando que terá um final infeliz. Diz-se, apenas, que há um outro lado desta questão não abordado pelos defensores do Governo e pelo próprio. Nada além.

Porque, como dissemos na introdução a este tema, não advogamos causa alguma. A não ser a do jornalismo, digamos, pelo menos bem intencionado. Pelo menos no que diz respeito ao básico nesta profissão. Qual seja, ouvir os dois lados, garantir o equilíbrio da informação, blá,blá, blá…

COMO ASSIM, TEVE QUE ‘ENGOLIR’ SALATA, PREFEITO?

Do folclorário político olimpiense, sem dúvidas nenhuma a declaração do alcaide que gerou o título “‘Tive que engolir Salata na Secretaria’, disse Cunha”, vai figurar no topo.

Fernando Cunha (PR), pouco afeito que é ao universo onde ora está imerso, disse o que disse – numa das mais fantásticas inconfidências a serem cometidas por um político – em resposta às críticas do ex-secretário Salata, aliás 20 dias depois de sua saída da Pasta e retorno à Câmara.

O que vem demonstrar que até agora o chefe do Executivo não digeriu bem tudo o que foi dito pelo seu ex-auxiliar. E, considerando o que disse ainda Cunha, que “não tem que dar satisfação a secretários”, pois afinal “quem manda é o prefeito”, muito menos ainda dá para entender a razão pela qual ele teve que “engolir” Salata.

Aliás, dizendo o que disse, para muito além de revelar que o prefeito joga o jogo quando este precisa ser jogado, e assim se iguala, na pior das atitudes, àqueles dos quais se diz diferente, também demonstra comportamento tão antigo e arraigado quanto àquele que quer fazer crer à opinião pública, não faria parte do seu metiê.

E, pior ainda, revela que a Casa de Leis, cujo princípio básico tem que ser o da independência, embora a necessária harmonia, estaria atrelada ao Executivo. Pior que isso, teria as rédeas de todas as coisas e seres dali. Ou não soa estranho o governante de turno afirmar de público que teve que fazer “arranjos” para garantir a eleição de quem quer que seja para a Mesa Diretora?

O prefeito não só se compromete na lisura política como compromete também a Casa de Leis e seus representantes. Deixa antever que aquele Poder não seria outra coisa senão um joguete em suas mãos, do qual faz e desfaz a bel-prazer.

São simplesmente inqualificáveis as afirmações de Cunha em direção à Casa de Leis. Ofende, ou pelo menos deveria ofender os brios de quem lá está a fim de desempenhar seriamente seu papel de legislador e fiscalizador dos atos e decisões que emanam do Poder Executivo, ou seja, dele próprio.

E nesse “angú” todo se configura uma situação de dualidade, caso nenhuma das partes se posicione à frente: o prefeito foi fraco ou desesperado a ponto de “engolir” o que ele não gosta para garantir a Mesa, ou a Câmara foi forte e determinada a ponto de fazer o prefeito “engolir” o que não gostaria? Esse “dilema tostines” fica a critério do leitor.

Mas, para quem ainda não teve acesso ao assunto em questão, reproduzo abaixo a matéria veiculada na edição de hoje, sexta-feira, 1º de setembro, do semanário Planeta News:

O prefeito Fernando Cunha (PR) disse em entrevista à Rádio Espaço Livre AM esta semana, que teve que “engolir” o vereador Luiz Antônio Moreira Salata (PP) como secretário municipal de Turismo, Agricultura, Indústria e Comércio, por causa de “arranjos políticos” visando a eleição da Mesa da Câmara. Para ele, Salata não tinha o perfil executivo que ele procurava. Disse até que orientou seu ex-secretário a não assumir a Pasta, mas no fim acabou nomeando-o. Hoje diz se sentir traído porque Salata saiu da Secretaria “atirando”.

A resposta de Cunha às graves acusações feitas por Salata quando deixou a Pasta, entre elas a de que sua administração era uma “pornografia política” chega 20 dias depois da fala do ex-secretário. E chega também cheia de rancor e mágoa. Para começar, disse à emissora que nomeou Salata secretário para “acertar a eleição da Mesa, com a eleição de (Gustavo)Pimenta (PSDB)”. “Não achava que Salata tinha perfil (para o cargo de secretário). Ele nunca teve cargo no Executivo. É um legislador, aguerrido e crítico. Eu falei para ele que achava que não deveria ir (para o cargo), mas tive que engolir”, justificou.

“Mas, quando se comprovou que não funcionava, que não deu resultado –as outras secretarias iam a 160 e a dele a 40 por hora, decidi trocar”, disse Cunha, para quem “as feirinhas eram muito pouco”. Quanto à separação do Turismo de Agricultura, recriando a secretaria, disse que a intenção era deixa-la para Salata, na esperança de que “ficando com a parte menor, talvez ele fosse melhor”. Disse isso, visando rebater as críticas de que estava provocando as mudanças à revelia do então secretário, que disse ter ficado sabendo pela imprensa.

“Então, ele saiu atirando. Mas eu não tenho que dar satisfações a ele. Acho que não concordava com o que penso. Mas, quem manda é o prefeito”, enfatizou Cunha. “E sua nomeação foi uma tentativa de acomodação política”, reiterou. Cunha se arvora até em responsável pela eleição de Salata para a Câmara, porque estava em sua chapa. Desdenhando do esforço eleitoral do ex-secretário declarou que “eu me elegeria sem os votos dele, mas ele não se elegeria sem os meus”.

Sobre a acusação de que seu governo é uma “pornografia política”, Cunha disse que “pornografia política” é a dele, por causa de uma ação civil pública que está na Justiça, contra a Abecao, ação esta que, segundo se comenta nos meios políticos, Cunha teria trazido à tona como forma de vingança política contra o vereador e visando atingir também o ex-prefeito Geninho, de quem é desafeto declarado.

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