E termina mais uma edição do Festival do Folclore de Olímpia. E, como há 50 anos, mas muito mais fortemente nos últimos 30 anos, vai-se o Festival, fica a polêmica: o que fazer para dar uma nova dinâmica ao evento? Vale a pena insistir em sua realização? O público, que comparece em pequeno número às apresentações de palanque, não prestigia a festa cultural que tem, a maior do país em seu gênero? Por quê? Não gosta do que vê ou não entende o suficiente para gostar do que vê? E assim por diante.

Sim, porque supomos que ninguém pode gostar daquilo que não compreende, que não entende. Daí recomeçar tudo, ou começar do começo. Tratar estes primeiros 50 anos do evento como um ciclo que se encerrou e a partir de agora praticamente “começar de novo” talvez seja o ponto. Não sugerimos aqui o esquecimento quanto ao que já foi feito, quanto ao que já se estruturou materialmente e imaterialmente. Mas, talvez, quem sabe, usar este patrimônio como ponto de partida.

Pelo menos não estaríamos “começando” do zero, como o saudoso, corajoso e idealista mestre Sant’anna o fez. Talvez seja este mesmo o caminho. Talvez até aprovado por ele, se consultado pudesse ser. Não há como negar que o Fefol de Olímpia, à esta altura, está na sua fase de esgotamento. Como esgotados estão aqueles que ainda hoje cuidam do legado de Sant’anna. Nem eles podem negar isso. Está explícito em cada semblante. Só o amor os move. A emoção de cada edição concluída.

Mas, a começar pelo público, este não pode ser responsabilizado por não ter paciência de permanecer nas arquibancadas para ver folias de reis, moçambiques, congadas e, em seu favor, diga-se, tampouco os grupos parafolclóricos que aqui aportam, tão ao gosto de tantos espectadores.

No primeiro caso, não veem porque não compreendem, não assimilaram que importância tem aquilo, que finalidade tem. No segundo caso, o “pecado” é o da repetição. Da insistência com grupos que, a bem da verdade, muitas vezes são chatos, enfadonhos e pouco chamativos. E outros já pecam pelo exagero, ficando próximo ao teatro ou à carnavalização do fato folclórico. Isso confunde e afasta as pessoas.

Daí o “começar de novo”. Ir-se à raiz do problema talvez seja um bom ponto de partida. Aproveitemos este momento, que bem poderia ser de transição, para buscar respostas a tantas e tamanhas indagações. E a partir daí dar um norte, um sul, enfim, uma coordenada que passe mais pela educação, pelo conhecimento, pela difusão da cultura, pela preservação de nossas raízes – embora o “moderno” -, que pelo espetáculo puro e simples, este sinuoso caminho ao qual se está quase sucumbindo.

O primeiro passo é manter inalterado o mês de sua realização, já que antecipar para julho revelou-se uma perfeita estupidez. Depois, debater, debater e debater. As várias correntes do pensamento no entorno do Festival – porque as há -, trocando impressões, opiniões, visões de mundo folclórico. Como se deu durante o ciclo de palestras em Etnomusicologia, quando posições conflitantes num bom sentido, foram postas à mesa. Aquilo foi extremamente saudável.

Pode ser esse o gancho, outros “pensadores” podem ser agregados e assim o debate ser enriquecido ao longo do ano. E todos mantendo a cabeça aberta, a alma receptiva ao que vier, quem sabe abriremos um novo ciclo no festival. O Fefol de Olímpia, acreditamos, foi idealizado para ser pensado, não para ser vislumbrado. E é o segundo que tem prevalecido cada vez mais. E isso o mestre não aprovaria, se consultado pudesse ser.

Espera-se, todos os anos, que os acadêmicos voltem, que os pesquisadores voltem, que os universitários se interessem pelo mar de cultura que escorre por aqui todo agosto (?). Mas, o que estaremos dando a eles? Danças, danças, e mais danças? Estas deveriam ser apenas o coroamento de dias cheios de informações e trocas de experiências, difusão cultural, de maneira a que cada um saia mais rico a cada dia daquele recinto. Se não, será tempo perdido. Dinheiro e esforços gastos em vão.

Porque se for para fazer um simples encontro de danças, então que o façamos. É mais fácil, mais palatável ao grande público, com menores dificuldades para captar recursos porque seria espetáculo, show (até musical, sem culpas), sem a menor responsabilidade cultural e de preservação da história brasileira, nossa raiz, que se tem hoje. E ninguém também precisaria ficar arrotando conhecimento, cultura e intelectualismo.

É uma festa, uma exibição de cores e ritmos, e música, muita música! Confesso, seria tão mais fácil se assim o fosse. Mas assim não o é. E nossa responsabilidade é enorme, em função disso. Se não formos capazes de lidar, cuidar e aprimorar (talvez fosse melhor dizer, trazer de volta o “furor” cultural do Festival), para que serviremos, então?

Portanto, começar de novo, e agora, é imprescindível. Como? Quem sabe uma mesa – ou mesas – de debates pode apontar o caminho a seguir. Quem racionalizando sobre o que há por fazer possamos seguir por este caminho sem tropeços, sem atropelos, seguindo firmes e seguros trabalhando para que ninguém esqueça aquilo que temos de mais caro, porque não é nosso, nos foi legado: o Festival do Folclore.

Até.