LA OSCURIDAD As coisas andam meio estranhas lá pelas bandas do Palácio da Avenida, popularmente conhecido como Câmara de Vereadores. Parece estar em curso uma irrefreável disposição de se instaurar na cidade um estado de poucas liberdades individuais, de acuamento do cidadão, de rompimento com os mais básicos preceitos constitucionais e democráticos.

OLHO VIVO Se os olimpienses não se colocarem em estado de atenção, quando perceberem o estado de coisas em que foram metidos por obra e graça do pouco apego à democracia que ora demonstra a Casa de Leis, pode ser tarde demais.

OUTRAS PÉROLAS Lembremo-nos de que ainda nem acabamos de deglutir o discurso de poucos amigos do presidente da Casa, vereador Beto Puttini (PTB), para quem aqueles descontentes e críticos deveriam ir embora de Olímpia, ou no mínimo pegarem seus “carrinhos” para passear com as famílias – “Se tiverem” -, em outras plagas, já que ele não quer ninguém que tenha críticas a fazer, na “sua cidade”, e já temos mais “pérolas” advindas da Casa da Avenida.

PORTE SIM, USO NÃO Uma delas nos é proporcionada pelo projeto de Lei 4.546, do vereador Leonardo Simões (PDT), que simplesmente proíbe, de forma generalizada, o uso do telefone celular dentro de agências bancárias. Não proíbe o porte do aparelho, mas seu uso, seja para que finalidade for. O objetivo, justifica “Pastor Leonardo”, é o de evitar que elementos mal intencionados se comuniquem com outros fora da agência, indicando quem está saindo dali com uma boa quantia em dinheiro.

LIGA PRA MIM Como disse o vereador petista e sindicalista bancário Hilário Ruiz, seria uma ótima ideia se não fosse tão péssima ideia. Porque ao mesmo tempo que tem sua eficácia duvidosa sobre as más ações, tem eficácia garantida sobre aqueles que apenas usam o aparelho para emergências, seja dentro da agência, seja na área do caixa eletrônico – afinal, ninguém está livre de esquecer um documento, uma senha ou mesmo de receber um telefonema de amigo, de familiares, da namorada (o), ou o que quer que seja.

IRRISÓRIAS ‘SAIDINHAS’ Caso se arrisque, será advertido por funcionários ou por seguranças. É claro que todo cuidado é pouco no que diz respeito às ações dos meliantes, que estão cada vez mais sofisticados. Porém, ainda estamos num estágio na cidade em que cada um cuida de si. São irrisórios os casos registrados como “saidinhas” de banco na cidade para que se tome uma medida tão drástica a ponto de cercear a liberdade do cidadão, de tolher-lhe o direito de usufruir de um equipamento útil em seu dia-a-dia, hoje cada vez mais peça importante no corre-corre diário.

RIO GUANDU? Após esse, vem um ainda mais atrabiliário e ultrajante projeto de Lei, o de nº 4.545, de autoria do vereador Leandro Marcelo dos Santos, o “Da Branca” (PSL), elaborado sob orientação do presidente da Mesa, Beto Puttini, conforme ele mesmo revelou. Trata-se da proibição da pesca às margens do Rio Olhos D´água, para cuja justificativa ambos usaram de termos preconceituosos, a demonstrar uma intenção puramente higienista por trás.

NÃO TO NEM AÍ “Pode parecer um projeto sem pé nem cabeça. Mas quem está andando pela avenida vê a pouca vergonha”, começou dizendo “Da Branca”, deixando claro que sua preocupação é com o fato de o turista ver “todo mundo pescando” ali. Ele diz ainda que não se importa com o que pensam a respeito do seu projeto de Lei, não importam as críticas, “importa é resolver o problema”.

CUIDADO COM QUEM? Relata ele que estão vendendo na cidade tilápias a R$ 8 o quilo para os bares da periferia, que os vendem como porções a seus clientes. Ou que “estão fritando peixe na avenida”. Aí a vereadora Cristina Reale Thereza dá uma palhinha para dizer que o vereador demonstra ter “cuidado com as pessoas”.

PEIXE PODRE Neste caso, só se for com as pessoas que pescam da Dr. Andrade e Silva até a ponte da Constitucionalistas de 32. Exatamente o trecho onde passam os turistas e veem “todo mundo pescando”, a “pouca vergonha”. Porque da Andrade e Silva para cima, e da Constitucionalistas para baixo, ninguém vê. Então aí podem pescar. Então ali podem  fritar, comer ou vender os “peixes podres” que a água contaminada do Olhos D´água produz.

CARLOSLACERDIZAÇÃO Ou seja, trata-se de uma medida higienista, no sentido de “lustrar” aquele trecho para o turista ver, tirando dali as pessoas indesejáveis a pescar e preconceituosa, porque atenta contra pessoas de menor poder aquisitivo, bem como moradores de rua. E é contra esses, aliás, que o presidente Puttini mais demonstra asco, e só não o disse com palavras livres por temor à opinião pública, depois de ter que carregar o peso pelo discurso absolutista recente.

E FIM “Estamos aqui para fazer leis”, sentenciou “Da Branca”. O que se espera, para o bem de nossa urbe, que não se tratem meramente de leis de exceção.

Até.