Na tentativa de justificar o reajuste que estima em 8% nas tarifas de água e esgoto desde o dia 1º de maio, o diretor-superintendente da Daemo Ambiental, Alaor Tosto do Amaral, tergiversou. E muito. Ou, ao contrário, acredita piamente que o pouco (com Deus) é muito. Em entrevista concedida semana passada ao site neo-oficial “Diário de Olímpia”, tentou amenizar a discussão acirrada que a medida provocou na cidade. Discussão e críticas acirradas.

Disse o diretor que nos últimos quatro anos a administração da Daemo Ambiental e a prefeitura vêm realizando “intensos investimentos” no setor de água e esgoto no município, em parceria com os governos federal e estadual. Sim, pelo menos o setor de esgoto deve ter pronta a sua tão decantada (sem trocadilho) lagoa de tratamento do lado de lá da SP-425. Mas, como bem lembrou Amaral, neste caso com dinheiro do Governo do Estado. Portanto, sem um tostão do caixa da autarquia.

Quanto ao abastecimento de água, o investimento que se faz, também não tem dinheiro do município. Trata-se da aventura de buscar água do Rio Cachoeirinha, por uma adutora quilométrica, para ser tratada na chamada “ETA seca”, obra abandonada há quase 20 anos, e que se concluída de fato irá servir apenas para abastecer uma parte nova da cidade, onde hoje não há problema de abastecimento, a não ser aquele provocado exatamente pela inapetência dos responsáveis pelo setor.

Dado o gigantismo desta obra, e a crônica incapacidade deste Governo em gerir seus “inventos” nos faz acreditar que, ou teremos um “elefante branco” de milhões de reais mais adiante, ou um sistema precário e mal implantado, não alcançando os objetivos a que se propõe.

Interessante foi ler um dos trechos das explicações de Amaral: “A cidade também vem crescendo com o turismo e uma das provas disso é a valorização dos imóveis”. Certo, e o que isso tem a ver com reajuste de água? A menos que estas não estivessem à altura da “valorização dos imóveis”.

E mais: “Para que a cidade continue desenvolvendo e também os investimentos para o tratamento de 100% da água e esgoto continuem, foi necessário o aumento da tarifa”. Como assim? Aumento de tarifa agora tem a ver com desenvolvimento? E os “investimentos”, como disse, não estão saindo dos cofres da autarquia, repito.

Para o superintendente, “alguns serviços, como o lixo e a água, a sociedade tem que absorver os custos dos mesmos”. Tudo bem, mas se fosse para receber respostas concretas como retorno à absorção dos custos, e não para ver seu dinheiro ser usado para garantir mordomias, altos salários, gastos desnecessários e empregos aos “amigos”.

Aí, vai ao cerne da questão: “Precisamos melhorar e investir nos serviços”. Sim, com certeza, a Daemo Ambiental precisa sim, melhorar, e muito, e começar a investir nos serviços, e não apenas na sua estrutura orgânica, onde um prédio construído a peso de ouro serve apenas para agrupar amigos e mais amigos, como um confortável abrigo.

“Se você não tem dinheiro para investir, o processo vai deteriorando, foi o que aconteceu nesses 50 anos, onde os investimentos em manutenção preventiva foram insignificantes”, prossegue Amaral. E nestes quase quatro anos e meio, o que foi feito? Essa reclamação quanto à deterioração do sistema é antiga, acredito que tenha exatos 50 anos. Ou mais.

Posso dizer, sem medo de errar, que se algum investimento visando corrigir este problema foi feito, este está na administração anterior, na qual pelo menos se viu algo ser realizado que não fosse mirabolante, custoso ou desnecessário, não-urgente. Digam o que disserem.

O diretor revela que “a autarquia tem capacidade de investimento de aproximadamente R$ 1,1 milhão por ano”. Quer dizer, isso dá mais de R$ 4,85 milhões neste período em que o atual governo lida com a questão. Mas, para Alaor do Amaral, “essa capacidade de investimento não está dando para dar manutenção preventiva e corretiva em uma rede que já tem 50 anos”. É, com esse dinheiro deve estar dando mal para arcar com o “cabide” em que a autarquia se transformou.

E aí vem o paradoxo. “A situação da parte oeste (da cidade) é crítica, tanto que hoje temos uma média de três vazamentos de água por semana, que nós temos que intervir. Se nós formos com investimento próprio, a Daemo e a prefeitura não têm condições de trocar tudo em um ano”. Ora, o reajuste das tarifas não foi exatamente para poder investir?

Amaral revela que “também houve um aumento da folha de pagamento, de 7%”. Então ta. Isso explica tudo, sem necessidade de nos alongarmos mais em explicações. Ou contra-argumentações. A não ser se for para refletirmos sobre o argumento de Amaral, no sentido de que “só o custo operacional por consumidor é de R$ 33 por mês”. E lembrarmos que isso não significa que cada consumidor receba este valor ao final de cada mês.

Significa que o custo da estrutura atual da Daemo Ambiental, caso dividido por cada um dos nobres consumidores, cada um pagaria R$ 33. Aliás, conforme o próprio Amaral, cada consumidor está pagando este valor.

Ao final, assevera Amaral que “a Daemo Ambiental não será vendida”. Menos mal para nós olimpienses e providencial para eles. Afinal, trata-se de um setor estratégico, em local estratégico, para abarcar todas as estratégias. “A Daemo não será vendida, por isso estamos investindo na autarquia, para melhor atender aos munícipes”. Aos munícipes?

Até.