“É preciso fazer todo o mal de uma só vez a fim de que, provado em menos tempo, pareça menos amargo, e o bem pouco a pouco, a fim de que seja mais bem saboreado.”

Lido assim, de supetão, sem uma reflexão mais profunda, fica mesmo a nítida impressão de que Nicolau Maquiavel, o florentino a quem se atribuem os piores conselhos na esfera política, era mesmo do mal.

Em função das idéias defendidas no livro “O Príncipe”, o termo “maquiavélico” passou a ser usado para aquelas pessoas que praticam atos desleais (até mesmo violentos) para obter vantagens, manipulando as pessoas. Este termo é injustamento atribuído a Maquiavel, pois este sempre defendeu a ética na política.

Pois é, os político de então fazem das suas, e o pobre filho de Florença é quem paga o pato. Trago o historiador, diplomata, filósofo, estadista e político italiano da época do Renascimento a esta postagem de agora a propósito do governo municipal que temos. Já não são poucas as pessoas que, de uma forma ou de outra, às vezes até agredindo o pensamento maquiavélico em questão, usam deste bordão replicado acima, para definir certas ações do alcaide olimpiense e sua trupe.

Exemplos são fartos, mas lembremo-nos de um, inicial, que trouxe a máxima do pensamento de Maquiavel à boca de tantos quantos se referiram ao fato: o aumento escorchante, em 2009, da taxa de coleta de lixo, em quase 130%, provocando a grita geral (o mal feito de uma vez?). Logo depois vieram as festanças espalhadas ao longo do ano, com shows de artistas do primeiro time, abrandando os corações da patuléia (o bem feito pouco a pouco?).

E assim as coisas foram se repetindo ao longo dos últimos quatro anos. Mal e bem, mal e bem, mal e bem, numa incessante e bisonha forma de lidar com as massas. Provou-se, ao final, estar certa aquela máxima maquiavélica, ao se observar os resultados dos pleitos eleitorais, à frente o municipal. A incontestável esmagadora vitória do burgomestre que continuará sendo-o por mais quatro anos.

E neste primeiro dos quatro anos (ou serão só dois? A ver!) parece que a “escola filosófica” de Geninho (DEM) continua a funcionar como dantes, facultando-lhe o pleno direito a, de novo, imprimir às suas façanhas políticas o “ensinamento” de Maquiavel mas, como todo mundo o faz, au contraire. Ou seja, usando para fazer verdadeiramente o mal, quando no pensamento do florentino o mal a ser infligido não era sequer físico, pessoal, é moral, psicológico, político, na acepção de seu pensamento.

Deturpando qualquer senso filosófico é o que está fazendo agora o alcaide com seus funcionários amparados pelo Estatuto da categoria no tocante ao recebimento da chamada insalubridade. Promoveu-se um corte geral e inominado, provocando prejuízos financeiros a um número imenso de funcionários dos vários setores da Administração Municipal (o mal físico?).

O corte, sem aviso-prévio, pegou a todos de surpresa. As explicações, superficiais, dão conta de que um laudo foi elaborado (Qual? Por quem? Com que parâmetros?, etc) e no Departamento de Pessoal chegou a ordem: “Corta!”, e o corte foi feito, sem maiores questionamentos. Só a área médica se manteria no sistema – enfermagem, odontologia, fisioterapia, etc -, cortando-se psicologia, tomografia, terapeuta ocupacional e a gama de escriturários lotados em setores insalubres.

Por que não reagiram estes fucionários prejudicados pela “ética” emprestada de Maquiavel, porém distorcida a revel, enquanto era tempo? “Quando chegaram os holerites já não tínhamos mais tempo hábil para a reação”, nos disse um deles. Estes funcionários ora privados deste benefício o recebiam há 15, 20 anos ininterruptos.

Então, é forçoso acreditar que todos eles tinham seus compromissos financeiros e até seu padrão de vida atrelados ao extra que recebiam a cada mês. Valores que partem de R$ 200, passando por R$ 400 e até acima disso, uma vez que há variantes de percentuais sobre o que recebe o funcionário – até o índice de 20%.

A questão a se colocar é: se é um dever estatutário este do pagamento da insalubridade aos municipais, não é só uma lei que pode revogá-lo? E, em sendo uma lei revogatória ou modificativa, não há necessidade da ação do Legislativo olimpiense?

Está-se rompendo um estado de legalidade por obra e graça de uma só pessoa, talvez sob o argumento de que os recursos estão excassos? Está se rompendo a corda, como de hábito, no chamado “lado mais fraco”, que na verdade seria “mais fraco” por negligência e/ou indolência destes próprios prejudicados?

Bom, pode ser que para o mês que vem algo novo surja no front, e faça com que os ânimos sejam aplacados, pode ser que nada de novo surja. E pode ser que, mais uma vez, o “contorcionismo” filosófico da obra de Nicolau Maquiavel produza seus efeitos, como tem produzido até então. E todos durmam felizes e satisfeitos.

Até.