Não imaginava que uma fração de pensamento publicada aqui recentemente, fosse ter tamanha repercussão, e gerar tanta perplexidade. Não sei se, diante disso, me ufano ou me preocupo com a rasura ou a pouca “profundidade” do pensamento “formador de opinião” local. Não é outra coisa senão a cegueira eleitoral o grande mal que assola as urbes. Isto quando ela é derivada do pouco conhecimento sobre o que representam eleitores, eleições e eleitos, quando mal formados, mal desempenhadas, quando mal escolhidos, respectivamente, para uma cidade, para ficarmos apenas nas eleições municipais.

Outra coisa, talvez muito pior, é a cegueira política, esta das mais preocupantes entre posturas frente a um estado democrático de direito. A corroborá-la sempre haverá, pois, interesses mesquinhos mal disfarçados. Muito bem, o que me provocou surpresa (grata, ingrata?) foi uma colocação feita no post “Mais uma Vez, PT x PT”, do dia 2 de julho.

Em meio às reflexões sobre o acontecido no encontro do partido, quando parte da “ala antiga” petista, os chamados “dragões adormecidos” (designação dada por um petista recente, que chegou a antecipar o que se daria no encontro daquela noite, horas antes: “Os dragões adormecidos vão sair das cavernas para incendiar o encontro”, disse) resolveu se rebelar, dividindo os presentes em prós e contras a coligação com o candidato peemedebista João Magalhães. Um voto foi a diferença pró Helena Pereira (PMN).

O que disse, em meio ao texto foi “(…) Se não é um ditado, e se ninguém até hoje o disse, nem escreveu, então entra para minha lavra o que vai escrito à frente: às vezes, democracia demais atrapalha. E o que está sendo demonstrado nesta refrega entre PT e PT dá bem a dimensão disso (…)”.

Foi o que bastou para os “excessivamente” democráticos que pululam nos meios político-eleitorais da cidade se enfurecerem. Acredito que se tivesse postado uma blasfêmia contra Deus, Todo Poderoso, não haveria fúria, não haveria “indignação”, não haveria nada. Mas qual. Fui colocar senões nesta tão maltrapilha e maltratada dama chamada democracia. Ente imaterial a ser usado sempre como a ferramenta que constrói, ou a máquina que destrói, dependendo do lado do espelho em que se está.

Muito bem, depois de ouvir nas ruas, uns e outros citando a fração do pensamento, até para contestar, eis que agora há pouco me deparo com notas na “Coluna do Arantes”, no site ifolha, versão eletrônica do semanário “Folha da Região”, assinadas pelo editor do jornal e autor da coluna, nos seguintes termos:

“DESTA VEZ …
… chegou-se ao cúmulo de um dos penas vendidas que se diz intelectual dizer que a democracia não precisa ser seguida sempre e que de vez em quando é preciso tomar atitudes ditatoriais.
‘GENTEM’…
… parem o mundo que este ‘elefarantes’ quer descer, é o mesmo que aceitar que um coronel use a chibata para bater nos seus subalternos. É o mesmo que aceitar que os fins justifiquem os meios e que para se chegar ao poder tudo pode ser feito.
QUANDO SE …
… aceita que o desejo da maioria seja sobreposto pelo do ditador por alguns acharem que isto é o melhor uma vez, não demora vão se aceitando outras exceções, até que o ditador, ou os ditadores rasguem ou finjam que não existem nenhum dos outros direitos que sustentam o Estado Democrático de Direito.”

Primeiro, começo por cobrar do senhor Arantes as justificativas para sua afirmação de que este blogueiro “é pena vendida”, e para quem. Segundo, em momento algum, em lugar algum, disse, cantei ou escrevi que sou “intelectual”, que me digo intelectual. Eu apenas penso, logo insisto.

Se bem que credenciais para tanto não me faltariam, fosse o caso, uma fez que, rezam os dicionários, “Intelectual” (que é do domínio da inteligência), adjetiva todos aqueles que têm gosto predominante pelas coisas do espírito, que tem uma atividade intelectual permanente ou predominante, ou ainda que tem grande cultura, com ressalva a este último tópico, que não sou metido a besta nem nada.

Terceiro, cobro ainda do senhor editor do folhetim, onde está escrito o que ele disse que eu escrevi, “que a democracia não precisa ser seguida sempre e que de vez em quando é preciso tomar atitudes ditatoriais”. O que disse é o que reproduzi acima, sem digressões, e a interpretação – burlesca – do que disse, fica por conta do escrivinhador do mais “imparcial” semanário da cidade, entendendo por “imparcialidade”, no caso, a maldisfarçada defesa dos interesses políticos-eleitorais do grupo que sempre gravitou em torno daquele endereço, o David de Oliveira 1.255.

O discurso do senhor Arantes, confunde-se com aquele ao qual estamos acostumados ver na chamada grande imprensa brasileira, esta que há muito deixou de ser uma prestadora de serviços públicos para se transformar numa ferramenta de manipulação de massas, um monopólio informativo, um verdadeiro partido político. E o que pretende o senhor Arantes com seus pensamentos tortos senão manipular a “massa” que o lê, monopolizar a informação em nível local, agindo como partido político?

É sabido que quando um veiculo de comunicação se decide por defender interesses menores que os da opinião pública de modo geral, a primeira vítima sempre será a verdade. E o que seriam aquelas colocações do ilustre editor do semanário se não inverdades acerca do que de fato foi publicado? Por que não teve ele interesse em direcionar seus leitores (o que é praxe no meio, até por questões de respeito a quem nos lê) para o endereço onde havia lido tal coisa, ou pelo menos de onde tirara tal ilação?

O ponto de vista fora colocado ali, por este que vos escreve, considerando a situação específica do embate petista. Haja vista que o encontro promovido pelo partido, por iniciativa do vereador Hilário Ruiz, não tinha necessidade de ser feito, sequer dentro dos estatutos do partido. É a Executiva quem decide, conforme deixou claro o representante da macrorregional, chamado às pressas para dirimir a dúvida. Conforme também entendeu a Estadual, dando o caso por encerrado.

Foi com o intuito de observação do grau de “excesso de zelo democrático” do vereador em questão que saquei aquele pensamento, na verdade, nem um pesamento, uma constatação, daí o “às vezes, democracia demais atrapalha”. Não me referia à democracia partidária, não me referia à democracia enquanto estado de direito, nem tentava cercear democracia alguma, nem o direito a ela de ninguém. A ira do senhor Arantes e de pessoas no seu entorno, na verdade, tem um nome: interesse contrariado.

Os mestres em obstar projetos e propostas de condução eleitoral, mais uma vez vestiram suas indumentárias. Empunharam seus sabres, e saiam da frente quem não comungar com as intenções atrabiliárias deles!

Quanto à “coronéis e chibatas”, presumo que o nobre editor deve trazer sérias complicações dos tempos da tenra infância, por ultrapassada que está, de há muito, tal imagem. No mais, espero ter deixado claro o contexto do que foi dito, porque dá uma preguiça danada debater a política local nos moldes em que ela precisa ser debatida. Mais: resolvida.

Aliás, é sempre assim: quando não há argumentos plausíveis, os “mestres” sacam de suas algibeiras a tal da democracia, com a qual sempre defendem seus pensamentos tortos, e com a qual iluminam seus caminhos incertos. Por isso seguem sempre sozinhos.

Até.