O final de semana passado e também este início de semana trouxeram à tona um episódio que se pode chamar de inusitado: a guerra aberta entre um semanário local, seu editor e sua gerente, contra o Executivo Municipal, representado pela pessoa do alcaide, Geninho (DEM). E observem que não se trata de um posicionamento contra a instituição Governo, mas contra a figura que o representa, diretamente. Daí o inusitado da coisa. A contenda não chega às raias da pessoalização, mas resvala nela, eis que o jornal não trava a briga contra o ente imaterial, mas contra a persona, o ente físico.

Já postei aqui em 3 de janeiro (ver A UNANIMIDADE É TOTALITARISTA, PREFEITO!), texto sobre o assunto que gerou toda esta polêmica e a fez recrudescer agora, com uma crítica publicada na página do Facebook do prefeito, sobre a atual situação da saúde em geral, e da Santa Casa, em particular. A crítica tem como autora a gerente do semanário “Folha da Região”, Bruna Silva Arantes, que vem a ser filha do editor do mesmo jornal, José Antônio Arantes, que uma semana antes já havia dado o ‘start’ à queda-de-braço que se tornou este embate.

A quem serve, e a quem desserve, este confronto de duas forças antagônicas que têm por princípio a prestação do serviço público e ao público, da mesma forma que devem devotar a este público toda forma de respeito e consideração possíveis? Quando postei aqui no dia 3 de setembro falei do destempero do prefeito quanto à análise que fez da atuação da imprensa não atrelada ao poder, ou seja, a ele próprio. Disse que o alcaide poderia ter sido mais contido, pensar mais no que iria falar, para não despejar o caminhão de impropérios que despejou, sem quê nem porquê.

Não toquei no tema que parece ter sido batante caro ao editor, que foi a insinuação de que o jornal estaria “preparando” um candidato, na verdade uma candidata a prefeito da cidade, por meio das críticas reiteradas à Santa Casa. Esta candidata, óbvio, seria a ex-provedora Helena Pereira. Qual a lógica embutida no pensamento do burgomestre para sacar esta “pérola” do bornal, não foi possível atinar. Nem mesmo se há segundas intenções aí – talvez jogar “areia” nos olhos do cidadão, assim tentando desqualificar as cobranças feitas à forma de gerenciamento do hospital e da Saúde como um todo.

Também a reação do editor, quero crer, foi desproporcional. Sinceramente não vi nenhum problema mais grave e tão grave assim no fato do prefeito fazer esta insinuação. E dai? É o pensamento dele. Democraticamente, temos todos o direito de pensar coisas, de dizer coisas, ainda que as mais pueris ou mais despropositadas possíveis. Deu a entender, o editor, que aquela foi a deixa para “tirar o pé da canoa” governista, já que até agora vinha procedendo, como se diz no jargão jornalístico, na base do “morde e assopra”. É apenas uma impressão, repito.

Mas, o que já estava azedo, mais azedo ainda ficou com o enfrentamento da gerente Bruna Silva ao prefeito, por meio do Facebook. Geninho até que tentou argumentar, como todo político argumenta, buscando tais argumentos, muitas vezes, no mundo da fantasia, fazendo daquilo que ele imagina, a realidade que ninguém vê. Fato é que o embate virtual sumiu do Facebook, como dele também sumiu o provocador de tudo, um internauta que usava o pseudônimo de Aristofanes Mercuri, sobre cujo texto foi feito o comentário da jovem jornalista.

Não se sabe o motivo pelo qual o post foi retirado, nem pelo qual, também, o próprio Mercuri desapareceu do sistema. Mas tudo indica ter sido ele mesmo a desativar seu perfil. Talvez temeroso de que se descobrisse o homem por trás do pseudônimo, por qualquer razão que seja. E ainda hoje, a coisa recrudesceu, quando na versão eletrônica da “Folha da Região”, o “iFolha”, estampou-se a seguinte manchete: “Assessor de Geninho usa rádio para tentar destruir a Folha da Região”, dando conta do (mau) trabalho do assessor do prefeito, “Julião Pitibull”, tentando desqualificar o jornal perante seus leitores e anunciantes. Num jogo sujo que a proeminente figura sabe jogar como ninguém.

Lembrando que o editor, sempre que trata do tema, não se esquece de mencionar uma dívida de meses não paga pela Secretaria Municipal de Saúde ao jornal, que remontaria a “milhares de reais”, segundo ele diz em um de seus textos. Não sei se trazer isso à tona constribui para o debate. Porque aí desnuda o interesse financeiro havido entre o jornal e o Poder Público, aqui representado pela Secretaria. Um forma de pressão que necessitava de um, digamos, “sopro de gás” para ser posta em prática? O que vai acontecer agora: a secretária vai mandar o cheque para a contabilidade do jornal? E se mandar, acaba tudo?

Porque, repito – guardadas, naturalmente, as devidas proporções e grau de sensibilização do editor quanto a sofrer acusação de eventualmente estar “criando” um candidato a prefeito, ou por extensão, estar fazendo jornalismo político-eleitoral -, a reação ao que disse o prefeito me pareceu desproporcional demais. Me pareceu estar o jornal preocupado com um possível forte poder de persuação do alcaide junto à opinião pú blica, que basta dizer tal coisa e todo mundo acredita nela.

Mas não é o próprio jornal que vive buscando desfazer o “mundo de fantasias” que se tenta impor ao cidadão comum nesta cidade? Sua credibilidade, avalizada pelas letras do editor, já seriam mais que suficiente para, num editorial, desfazer o mal feito genista, e a vida segue. Se não, a publicação se verá no centro de uma feroz dicotomia: ao mesmo tempo que apregoa ser Geninho “o melhor prefeito que Olímpia já teve”, o desmerece politicamente, o ataca ferozmente naqueles flancos onde sua ação, para o jornal, deixa muito a desejar.

Então, resta ao editor e sua gerente, acreditamos, nos fazer entender porque um prefeito que não é melhor por inteiro, pode ser “o melhor que Olímpia já teve”. Porque aqui não sabemos o que, exatamente, está se criticando nele. Este blog tem a posição de que estamos diante de um prefeito ruim como um todo, posição que sempre defendeu e até agora nada aconteceu que nos fizesse mudar de idéia. E quanto ao jornal? Houve mudança de postura? Porque não se pode ser impiedoso com um político e ao mesmo tempo achar que ele é “o melhor” dos demais. Seria contrassenso. Falta explicar isso.

Até.