Esta semana foram distribuídos à farta pela cidade, sabe-se lá quantos exemplares de um jornal formato tablóide chamado “Jornal Folha da Região – Norte Paulista”, com os resultados de uma enquete feita na cidade no mês de dezembro passado. Lembram que em 19 daquele mês postei aqui o texto “Telefone Sem Fio”, tratando exatamente do tema, uma vez que desta feita conhecíamos pessoas que tinham sido ouvidas? Pois é desta enquete que se trata.

O diretor-proprietário da publicação, Márcio Rogério Pereira Gomes, nos garantiu que trata-se de “um trabalho sério” bancado pelo próprio jornal, e que não há vículo da publicação com nenhum órgão de poder da cidade ou das cidades onde já efetuou este tipo de levantamento – como Guaraci, também retratado em percentuais nesta mesma edição. Em péssimo português o jornal mostra que 62% dos 2.830 eleitores (?) que teriam sido consultados aprovam a gestão do prefeito Geninho (DEM). E que 22% a avaliam como regular, e 16% não aprovam a atual gestão.

Gomes ressalta que não há um rigor científico nestes resultados, uma vez que não se trata de pesquisa mas, sim, de uma enquete. E que, por isso, também, não há abrangência geral no âmbito do eleitorado olimpiense, como uma pesquisa científica permitiria – a chamada proporção numérica. “O que está aqui é o que o povo realmente falou”, garantiu Gomes. Até porque, segundo ele, manipular estes dados não daria a seu veículo a credibilidade que diz querer angariar junto ao povo. Ele diz mais: “Nas eleições passadas tivemos 99% de acertos no que fizemos”.

A empresa de Gomes foi constituída em 14 de agosto de 2009, mas começara a operar dois dias antes – 12 daquele mês. Na Jucesp está registrada como editora de jornais e promotora de eventos e publicidade. O endereço atual é General Glicério 4.685, em São José do Rio Preto. Antes, era Rua 14, 236, em Barretos, onde ainda reside Gomes, segundo ele mesmo disse a este blog. Só que os CNPJs da Jucesp e o registrado no expediente do jornal não batem. São diferentes do começo ao fim. A mudança de endereço ocorreu em 9 de outubro de 2009.

Mas, vamos aos demais números percentuais: segundo o jornal, 72% aprovam a gestão na Educação, enquanto 28% reprovam; na Saúde, são 52% os que aprovam e 48% os que não aprovam; em Infra-estrutura, 58% aprovam o que vem sendo feito e 42%, não; e em Esporte e Lazer, 56% aprovam, 44% não. Imagina-se que a somatória feita seja no formato mais simples possível, ou seja, apurou-se resposta por resposta e tirou-se o percentual – “x” pessoas são a favor, “x” pessoas são contra, maior dividido pelo menor, menos um, multiplicação, resultado.

Porém, sem o rigor científico necessário não há segurança alguma em afirmar que este resultado é fiel ao que pensa o povo ouvido, porque há pontos a considerar, inclusive o profissionalismo e conhecimento do que estava fazendo, por parte de quem realizou o trabalho de campo. Há distorções, e muitas, como por exemplo as moças conversarem detalhes do que já haviam apurado com entrevistados, não perguntarem antes se o entrevistado tinha algum interesse, seja profissional, financeiro ou político em relação ao Executivo Municipal; se era político praticante ou não, se exercia cargo público ou político, ou mesmo se representava grupo político ou se era, por exemplo, profissional da imprensa, etc.

São detalhes que parecem insignificantes, mas que geram enormes distorções no resultado final, principalmente sendo uma enquete* e não uma pesquisa com todo rigor científico. Para se ter uma idéia, um grande instituto como por exemplo o Datafolha, IBOPE, Sensus, caso fizessem pesquisas por aqui nem precisariam ouvir tantas pessoas porque, no caso deles, a distorção é tanto maior quanto maior o número de pessoas ouvidas.

Por isso é feita a pesquisa de modo extrativado, por segmentos – idade, sexo, região, etc. E neste caso vale a proporção numérica – número de entrevistados proporcionalmente ao contingente eleitoral. Como exemplo, o Datafolha usa um contingente de entrevistados em nível nacional que fica entre 2 mil a 2,5 mil eleitores para apurar intenção de voto para presidente. Aqui em Olímpia, segundo o jornal, foram ouvidas 2.830 pessoas nesta enquete.

VEREADORES
A distorção de um levantamento como esse se explicita quando são aferidos os índices – aí de intenção de votos-, nos 10 atuais vereadores olimpienses. Não é possível que os quase três mil entrevistados foram ouvidos sobre cada um dos edis. Mas é isso que os resultados levam qualquer um a pensar, uma vez que a maioria superou a casa dos 40%, com Salata (PP), chegando nos 51%, e Magalhães (PMDB), chegando nos 56%. Como isso é possível?

A pergunta, segundo Gomes, foi: “Você votaria neste vereador para mais quatro anos?” Pelo resultado publicado, dá impressão de que cada um deles terá o voto do mesmo eleitor, ou que cada eleitor votará dez vezes – um voto para cada edil.

As respostas, pela ordem estabelecida pelo jornal: José Elias (PMDB), 43%; Guegué (PRB), 44%; Bertoco (PR), 48%; Lelé (DEM), 47%; Toto (PMDB), 45%; Guto (PSB), 48%; Hilário (PT), 46% e Primo (DEM), 42%. Magalhães e Salata já foram citados acima. Repetimos: Como isso é possível? O normal seria apurar o índice percentual de cada um entre todos os entrevistados, ou seja, estes valores seriam bem menores e bem abaixo dos 40%. Porque se feito da maneira correta, aquele vereador que batesse ou superasse os 40% já poderia comemorar sua reeleição.

Entendam que, neste caso, as preferências dos 2.830 eleitores (?) que teriam sido ouvidos pelo jornal, seriam diluídas entre os dez, jamais algum deles alcançando tamanho volume de preferência eleitoral. Caso contrário, como já dissemos, poderia “ir pescar e voltar só para a posse”, como se costuma brincar no meio político. Gomes disse que em fevereiro deve voltar à cidade para novo levantamento. Espera-se que venha mais aperfeiçoado, sem distorções gritantes como se vê agora. Enfim, mais confiável.

*Enquetes e sondagens
Pela Resolução 23.364/2011, do TSE, não estão sujeitas a registro as enquetes ou sondagens. Neste caso, na divulgação dos resultados de enquetes ou sondagens, deverá ser informado que não se trata de pesquisa eleitoral, prevista no artigo 33 da Lei das Eleições (Lei 9.504/97), mas sim mero levantamento de opiniões, sem controle de amostra. Ou seja, é o levantamento feito através de participação espontânea dos eleitores, sem a utilização de métodos científicos de coleta de dados.

A divulgação de resultados de enquetes ou sondagens sem esses esclarecimentos implica divulgação de pesquisa eleitoral sem registro e autoriza a Justiça Eleitoral a aplicar sanções previstas na resolução.

E desde domingo, dia 1º de janeiro, as empresas ou entidades que realizarem pesquisa de intenção de voto relativa às eleições municipais de 2012 devem fazer o registro da pesquisa no mínimo cinco dias antes de sua divulgação, no juízo eleitoral competente para o registro dos candidatos.

Até.