Está certo, era plena festa de fim-de-ano e pelo que se comentava por aqui o prefeito Geninho (DEM) já estava até de branco esperando o espoucar dos fogos marcado para a Avenida Paulista, na Capital, na entrada do dia 1º. Mas, pelo horário em que a entrevista foi concedida, via telefone (tarde da quinta-feira, 29), ao semanário “Folha da Região”, o prefeito poderia ter sido mais comedido naquilo tudo que falou.

A impressão que ficou é a de que o homem “abriu o peito”, “desabafou”, “disse tudo que estava entalado na garganta”. Mas, fica na gente, após a leitura do texto, a impressão de que há muita mágoa e não-aceitação do contraditório no modo de pensar do alcaide.

Principalmente em relação à imprensa não-atrelada (se bem que sobrou até mesmo para os veículos, digamos, “da casa”). “Acho que um jornal não pode viver só de paparicação com o prefeito, mas também nem só de críticas e sangue”, disse ele ao jornal. Exagero puro. Não com relação aos paparicadores que, agora se sabe, chegam a constranger até o paparicado. Mas no dizer que a “outra” imprensa vive de “críticas e sangue”.

O prefeito não tem a mínima noção do que é uma imprensa “sanguinária”. Por aqui a ética e a decência jornalísticas ainda prevalecem, mesmo quando profissionais são acintosamente desrespeitados em público, se não pelos membros de seu despreparado estafe, pelo próprio burgomestre. “A imprensa que vive apenas de crítica não tem valor nenhum. Acho que ela tem que criticar algumas coisas, mas ela também tem que levar a autoestima de morar na cidade, levar as notícias do desenvolvimento da cidade, dos investimentos, do que está atraindo de empresas e de turistas, à população”, reforçou Geninho.

Não há imprensa na cidade que vive apenas de críticas. Melhor dizendo, esta imprensa malvista pelo alcaide é apenas caixa de ressonância de uma parcela da população, quero crer grande, que não tem encontrado guarida onde poderia e deveria encontrar, primeiro na Casa de Leis, que seria a “casa do povo”, segundo junto ao próprio Poder Público, que não lhe estende a mão para lhe dar o devido amparo, nem lhe abre suas portas para ouvir, registrar e corrigir problemas. É para isso que lá estão. E é exatamente neste ponto que falham ambos os poderes.

E aí vem a crítica, e aí os meios não atrelados as divulgam. E aí o prefeito se zanga. Ou mesmo estes meios se deparam com fatos (mal)feitos que precisam ser levados ao público leitor-ouvinte, como dever de ofício do prestador de serviços. Talvez seja “a autoestima de morar na cidade” que torna a imprensa não atrelada uma sentinela do povo desassistido desta urbe. Quanto a “levar noticias do desenvolvimento da cidade”, continuo a bater na tecla de que Olímpia não está se desenvolvendo, no momento está apenas se expandindo, queremos crer, de forma responsável, ou seja, espera-se que saibam o que estão fazendo.

Quanto a “investimentos”, “atração de empresas e de turistas”, no primeiro ítem entendemos que há mais gastos e mal gastos que investimentos – vide as obras que mal acabam e precisam ser refeitas, outras que nunca acabam e a qualidade delas, de modo geral. Há muito desperdício de recursos públicos, dinheiro do povo, nas inconstâncias e incontinências administrativas deste governo municipal.

Já no segundo item, desnecessário dizer que, por hora, há um índice de desemprego crasso na cidade, eis que, em três anos, não houve uma ação sequer em nível de Poder Público, que redundasse em aumento da empregabilidade. Pelo contrário, a cidade perdeu vagas de empregos – e muitas -, sejam sazonais, sejam fixas – exemplo o Minerva, que se mudou daqui e colocou quase 300 pessoas na estatística do desemprego.

E se o turismo gera empregos, hoje, é por sua própria força-motriz, tendência, aliás, crescente ano a ano, independentemente de quem esteja na prefeitura. Lembremo-nos de que o Thermas dos Laranjais cresceu e é hoje este gigante econômico até mesmo contrariando vontandes políticas e administrativas. Portanto…

No final, o alcaide se autoproclama um democrata, alguém que, ao longo destes três anos, conviveu “bem” com a imprensa. “Dialogo com as pessoas. Falar com a imprensa como eu falo e abrir o governo como eu abri, acho que nunca houve”, avaliou. Houve sim, prefeito. Houve sim. E até melhor, diga-se de passagem. Mas estes são tempos outros, certo?

Geninho pede o reconhecimento dos opositores e da imprensa, “daquilo que realmente a gente fez”.  Pois é exatamente aí que a coisa pega. Não seria para gerar elogios e “calar a boca” dos opositores o que “realmente a gente fez”? Porque opositor está aí para, exatamente, se opor. O que é preciso é mostrar-se o poderoso de turno bom e reto o bastante para calá-lo. Pedir clemência a ele não é próprio de quem está no poder. Pode ser um reconhecimento de que de fato está deixando a desejar.

“Só pegam alguns pontos e, realmente, todo mundo que faz deixa algum lugar para trás. A própria execução de uma obra sempre causa algum transtorno. O prefeito que fica sentado na cadeira e não faz nada não recebe críticas. Quando você faz alguma coisa você começa a incomodar e se incomoda, vira notícia”, reclamou o alcaide. Primeiro: trazer à luz “alguns pontos” (que no caso são muitos) é tarefa da imprensa não alinhada, que presta serviços ao cidadão, como já disse acima.

Segundo: que é possível “deixar algum lugar para trás” quando se faz algo, ou causar transtorno com esta ou aquela obra não há dúvidas. Mas no caso presente isso ocorre de forma exagerada, prato cheio para os opositores. Terceiro: claro que aquele prefeito que não faz nada recebe sim, críticas. O paradoxo está na dicotomia administrar ou fazer, ou na simetria fazer e administrar. Este governo municipal faz à “meia-boca” e administra à “boca-nenhuma”.

Por fim, é pueril demais o pensamento final expressado pelo alcaide, de que “quando você faz alguma coisa você começa a incomodar e se incomoda, vira notícia”. Como alguém, quando é bom por inteiro pode incomodar aos seus próximos? Principalmente sendo este seu administrador por delegação do voto? O que verdadeiramente incomoda, sr. prefeito, é a maneira como o senhor faz essa “alguma coisa”. E isso está explicitado no parágrafo acima.

Até.