É claro que não está se postando aqui nenhuma sentença condenatória ou coisa parecida, nem mesmo insinuações de caráter maldoso contra a existência humana. E é claro, também, que analisamos o gênero e não o homem em si por trás do poder; o político à frente das coisas e não o cidadão investido na condição de governante – bom, se bem que, neste quesito, acho que até tem, sim, uma crítica a essa condição.

Atente bem, porque tudo o que for narrado nas linhas abaixo terá o condão de meras observações, embora não sem um tanto de estranhamento, enquanto cidadão pagador de impostos que somos, e conhecedor de figuras políticas outras que passaram por estes mesmos caminhos e saíram, aparentemente, impolutas.

Pobres, porém imaculadas, virtuosas. Há um dito popular no meio político que é mais ou menos o seguinte: “Política é para pobre esperto ou rico burro” – numa alusão a que o pobre, quando esperto, via de regra sai rico da política, enquanto o rico, quando burro, ao contrário, acaba ficando pobre.

Devo confessar que conheço algumas estórias de políticos que entraram ricos no poder por estas plagas e saíram pobres, ou quase pobres. Como também conheço aqueles que pobres pelo poder passaram e mais pobres ainda ficaram. Como aqueles cujas circunstâncias políticas em nada os afetaram: eram ricos e assim permaneceram, eram pobres e, idem, ibidem.

Não me fio muito neste adágio, porque sempre acreditei no homem, embora haja recomendação em contrário até nos escritos bíblicos. Para mim, política não pode nunca ser apenas aquele universo onde o pobre esperto vai buscar seu refúgio contra as intempéries de sua pobreza, nem tampouco o universo onde o rico otário vai arriscar-se a perder o que amealhou ao longo da vida com o suor do rosto, ou por herança de família. Tal aforismo, portanto, considero reducionista.

Como todo dito popular, este também é daqueles que circula por aí há décadas. Sabe-se lá quando, onde e em que circunstâncias surgiu. Mas, o que fazem os políticos para provar o contrário dele? Nada. Ao contrário, contribuem, com suas atitudes, para que ele seja fortalecido no imaginário popular.

Só que com uma profunda mudança: os ricos, hoje, buscam o poder para ficarem ainda mais ricos, milionários, biliardários alguns. Já não há mais “rico burro”. E os “pobres espertos” estão sempre à espreita, para ocupar o seu “lugar ao sol” à primeira oportunidade.

Como dizia acima, prefiro continuar acreditando no homem. Num futuro homem, talvez. Naquele homem porvir, no qual o compromisso com a ética e os valores morais seja priorizado. Este homem do futuro vai olhar para sua obra, depois, e com altivez se orgulhar dela (no que “altivez” tem de positivo, claro).

Não valerá, para ele, aquela falsa altivez, aquele orgulho fingido, disfarçado, o riso no canto da boca, cínico, o fazer de conta que fora um homem do bem, quando apenas amealhou para si, e para os outros (povo) legou a mentira, a falsidade, a desfaçatez camuflada sob o manto das más intenções, dos interesses imediatos, da falsa fé e da desonestidade.

Falo ainda do homem gerado no seio de uma família bem estruturada, se não rica, cheia de valores morais, de exemplos dignos de serem seguidos. Porque o contrário disso será uma porteira aberta para ações pouco recomendáveis e nada lícitas, ancoradas numa espécie de pátrio-poder. Este homem será o homem do futuro? Porque, seguramente, não se trata do homem do presente. Espécie que deveria fenecer para dar lugar a outra, mais nobre, a ensejar maior respeitabilidade.

Não se prega aqui o fim do homem como o conhecemos. Apenas pugna-se pelo homem do porvir, o novo homem idealizado, a conhecer. Porque se até do lodo nasce a flor, por que não há de um novo homem nascer no limbo filosófico da honestidade, probidade, decência e moralidade?

Até.