Só se pode creditar as últimas declarações do prefeito Geninho (DEM) no tocante à Santa Casa de Misericórdia de Olímpia como uma pérola do anedotário político da cidade. Daquelas que vêm para ficar. Leio no semanário “Folha da Região” que o alcaide agora quer que cada cidadão se responsabilize com pelo menos R$ 1 milhão do déficit anual de R$ 2 milhões que aquele hospital, desde que se tornou um feudo genista, passou a ter. Até agora, o déficit acumulado seria de R$ 3 milhões, segundo ele.
Muito bem, considerando que cada um dos cidadãos olimpienses levasse a sério o pedido de Geninho, caberia a eles – incluindo bebês, crianças, adolescentes, os fora do mercado de trabalho, trabalhadores, donas-de-casa, aposentados, etc. -, R$ 19,99 a cada ano. Porém, se deste contingente forem tirados, então, os bebês, as crianças, os adolescentes, os fora do mercado de trabalho, as donas-de-casa – que vamos calcular aqui em 10 mil, e excluindo, também, aquele contingente em situação de miserabilidade – outros cerca de 10 mil, teremos então um contingente de 30 mil “colaboradores” compulsórios para evitar a derrocada do “palanque eleitoral” genista, como definiu seu ex-provedor Marcelo Galette.
Assim, caberia a cada um, pouco mais de R$ 33 anuais, ou R$ 2,75 por mês. Parece pouco, mas para uma cidade que “come frango e arrota peru”, como dizia minha saudosa mãe, pode não ser tão pouco assim. No post de ontem foi possível ao leitor conhecer a quantas anda a situação da cidade. Quem não está em estado bruto de miserabilidade, está fora do mercado de trabalho. E quem está em pleno trabalho tem remuneração pífia, calcada no salário mínimo ou pouca coisa acima disso.
Estes trabalhadores ainda têm que lidar com a carestia provocada pelo “boom” turístico, única realidade palpável e que cabe a cada um dos nativos desta terra antes de São João Batista dos Olhos D´Água.
Depois, têm também que arcar com outras taxas compulsórias, como a de iluminação pública, ou dos Bombeiros e por aí afora. Tudo somado, no ano chega a R$ 100, ou R$ 8 ao mês. É claro que aqueles mais abastados – ou seria melhor dizer mais “enfronhados” com a atual gestão, vão dizer: “Eles gastam mais que isso no buteco por dia.” E daí? É um direito que eles têm, já que gastam o que é deles e que foi ganhado com o suor do próprio rosto, honestamente acima de tudo.
Não é lícito tirar do lar de um cidadão qualquer valor por mais ínfimo que seja, para sanar dívidas que não foram contraídas por ele, mas sim por quem deveria estar zelando pelo dinheiro dos seus impostos e, ao invés disso, o gasta descontroladamente, ou faz uso temerário dele, a ponto de torná-lo “fumaça”, obrigando com que os poderosos de turno se volte novamente ao cidadão, dedo em riste, como a dizer: “Abra seus bolsos, precisamos de mais e mais e mais”, num círculo por demais vicioso.
O que era muito comum nos tempos medievais. Por aqui, ao que parece, vamos voltar aos tempos do “quinto dos infernos”, que era aquela quinta parte que o cidadão tinha que dispor para seu governo provincial despótico e colonizador.
Essa sanha do prefeito Geninho não se explica. Ele diz que assumirá somente metade do déficit anual de R$ 2 milhões, praticamente obrigando o cidadão a se virar com o outro R$ 1 milhão, se quiser continuar tendo atendimento médico no único hospital que a cidade possui.
Ele usa de uma teoria simplificadora, mas ao mesmo tempo aterrorizante, para “despertar a consciência” do cidadão. Diz que quando a UPA ficar pronta, todo recurso do SUS vai para ela, e até 70% dos funcionários do hospital terão que ser mandados embora. Isso significa cerca de 150 pessoas na rua – pais de família, jovens estudantes, profissionais de vários outros setores.
Diria ser pouco alentador ouvir isso da boca de um prefeito que se autodefine como grande gestor, magnânimo realizador, melhor-do-melhor, etc. Mesmo porque, ao falar da UPA, ele mesmo joga sobre o tema um balde de água fria, ao classificar de “sonho” a entrada em funcionamento daquele equipamento temerário da Saúde. Mas, o que ele considera um “sonho”, eu tomo a liberdade de classificar como um “pesadelo anunciado”, um problema e não uma solução para a Saúde local.
Dificilmente vai funcionar a contento e, mesmo funcionando “redondinha”, a UPA não terá qualquer eficácia sem a Santa Casa. Onde se internarão os doentes? Onde se farão cirurgias, o atendimento especializado? Então, é bom que alguém diga ao burgomestre – se tiver coragem -, que o buraco é mais embaixo.
Como a Santa Casa só vai atender convênios, quando a UPA dos seus “sonhos” estiver pronta – e sabe-se lá quando? Para onde irão os doentes mais graves do SUS? E aqueles do atendimento especializado? Ou será que além de ter que contribuir compulsoriamente para pagar as contas do erro crasso administrativo do grupo que ele pôs lá dentro, agora o olimpiense vai ter que também possuir convênio médico para ter atendimento na Santa Casa?
Por essas e outras que reafirmo: é piada. Só pode ser piada. Pena que de mau gosto.
Até.
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